São Paulo, sábado, 16 de abril de 2005

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FAZENDEIRO DO AR

Planalto consulta o procurador-geral, que vê falta de justificativa para pedir abertura de inquérito contra ministro

Fonteles não vê indícios para levar Jucá ao STF

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em sondagem feita por um emissário do Palácio do Planalto, o procurador-geral da República, Claudio Fonteles, sinalizou que, por ora, não viu justificativa para pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de inquérito a respeito das acusações de desvio de verbas contra o ministro Romero Jucá (Previdência).
A Folha apurou que a sondagem ocorreu na última semana com o objetivo de o governo se preparar para eventual pedido de abertura de inquérito, o que politicamente complicaria a articulação do Planalto e da ala governista do PMDB para segurar Jucá.
Pela lei, um ministro de Estado só pode ser processado no STF e por iniciativa do procurador-geral da República, que solicita a eventual abertura de inquérito.
Fonteles, que já deu diversas demonstrações de independência em relação ao Palácio do Planalto, disse ao emissário do governo que a sua avaliação não levava em conta algum fato novo que pudesse surgir na imprensa até a entrega a ele de documentos que Jucá prepara em sua defesa.
O advogado do ministro da Previdência, o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, deve entregar a Fonteles nesta segunda-feira a defesa em relação às acusações de desvio de verbas públicas, incluindo a oferta de fazendas inexistentes como garantia de um empréstimo feito pelo Basa (Banco da Amazônia) a uma empresa da qual Jucá foi sócio.
A avaliação de Fonteles, por ora, é parecida com a da cúpula do governo: as acusações contra Jucá seriam ressurreições de denúncias antigas a respeito das quais ele teria respostas formais. O procurador-geral da República, no que pesem o clima político ruim para Jucá e a recusa dele de responder ao mérito de algumas questões, deverá levar em conta a viabilidade processual de dar seguimento a eventuais apurações.
O advogado de Jucá tem argumentado que, do ponto de vista da técnica processual, as acusações que foram feitas até agora contra o ministro teriam como ser respondidas.

Clima político
Se juridicamente o governo e Jucá se sentem seguros, o clima político ainda preocupa. O ministro continua na mira de reportagens negativas e que minam sua autoridade para tocar a Previdência.
Ao chegar da viagem à África, Lula discutiu o "caso Jucá" com auxiliares e manteve a decisão de apoio. Mas se mostrou insatisfeito com o desgaste político. A cúpula do governo avalia que a eventual saída de Jucá da Previdência só poderia acontecer por iniciativa do ministro ou do grupo peemedebista que o apóia.
A administração Lula enfrenta dificuldades no Congresso. Na última semana, sofreu derrota no Senado, imposta justamente por peemedebistas insatisfeitos com pedidos de nomeação não atendidos e com a demissão de apadrinhados do partido.
Há ainda o desejo de Lula e do PT de fazer uma aliança formal com o PMDB para 2006, quando Lula deve disputar a reeleição. Jucá pertence à ala governista do partido, recebeu recentemente moção de apoio assinada por 21 dos 23 senadores e tem ligação com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Esse contexto político leva Lula a segurar Jucá mesmo a contragosto. Um auxiliar direto do presidente e um membro da direção do PMDB disseram à Folha que somente uma acusação nova e irrespondível poderia levar o ministro a perder os apoios do governo e do partido.


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