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FAZENDEIRO DO AR
Planalto consulta o procurador-geral, que vê falta de justificativa para pedir abertura de inquérito contra ministro
Fonteles não vê indícios para levar Jucá ao STF
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em sondagem feita por um
emissário do Palácio do Planalto,
o procurador-geral da República,
Claudio Fonteles, sinalizou que,
por ora, não viu justificativa para
pedir ao STF (Supremo Tribunal
Federal) a abertura de inquérito a
respeito das acusações de desvio
de verbas contra o ministro Romero Jucá (Previdência).
A Folha apurou que a sondagem ocorreu na última semana
com o objetivo de o governo se
preparar para eventual pedido de
abertura de inquérito, o que politicamente complicaria a articulação do Planalto e da ala governista
do PMDB para segurar Jucá.
Pela lei, um ministro de Estado
só pode ser processado no STF e
por iniciativa do procurador-geral da República, que solicita a
eventual abertura de inquérito.
Fonteles, que já deu diversas demonstrações de independência
em relação ao Palácio do Planalto,
disse ao emissário do governo que
a sua avaliação não levava em
conta algum fato novo que pudesse surgir na imprensa até a entrega a ele de documentos que Jucá
prepara em sua defesa.
O advogado do ministro da Previdência, o criminalista Antônio
Carlos de Almeida Castro, deve
entregar a Fonteles nesta segunda-feira a defesa em relação às
acusações de desvio de verbas públicas, incluindo a oferta de fazendas inexistentes como garantia de
um empréstimo feito pelo Basa
(Banco da Amazônia) a uma empresa da qual Jucá foi sócio.
A avaliação de Fonteles, por ora,
é parecida com a da cúpula do governo: as acusações contra Jucá
seriam ressurreições de denúncias antigas a respeito das quais
ele teria respostas formais. O procurador-geral da República, no
que pesem o clima político ruim
para Jucá e a recusa dele de responder ao mérito de algumas
questões, deverá levar em conta a
viabilidade processual de dar seguimento a eventuais apurações.
O advogado de Jucá tem argumentado que, do ponto de vista
da técnica processual, as acusações que foram feitas até agora
contra o ministro teriam como
ser respondidas.
Clima político
Se juridicamente o governo e Jucá se sentem seguros, o clima político ainda preocupa. O ministro
continua na mira de reportagens
negativas e que minam sua autoridade para tocar a Previdência.
Ao chegar da viagem à África,
Lula discutiu o "caso Jucá" com
auxiliares e manteve a decisão de
apoio. Mas se mostrou insatisfeito
com o desgaste político. A cúpula
do governo avalia que a eventual
saída de Jucá da Previdência só
poderia acontecer por iniciativa
do ministro ou do grupo peemedebista que o apóia.
A administração Lula enfrenta
dificuldades no Congresso. Na última semana, sofreu derrota no
Senado, imposta justamente por
peemedebistas insatisfeitos com
pedidos de nomeação não atendidos e com a demissão de apadrinhados do partido.
Há ainda o desejo de Lula e do
PT de fazer uma aliança formal
com o PMDB para 2006, quando
Lula deve disputar a reeleição. Jucá pertence à ala governista do
partido, recebeu recentemente
moção de apoio assinada por 21
dos 23 senadores e tem ligação
com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Esse contexto político leva Lula
a segurar Jucá mesmo a contragosto. Um auxiliar direto do presidente e um membro da direção
do PMDB disseram à Folha que
somente uma acusação nova e irrespondível poderia levar o ministro a perder os apoios do governo e do partido.
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