São Paulo, sábado, 16 de abril de 2005

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QUESTÃO NUCLEAR

Manutenção custa US$ 20 mi mensais; debate se arrasta desde 2001

Ausência de entendimento trava decisão sobre Angra 3

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Falta de entendimento político e técnico trava a decisão sobre a construção da usina nuclear de Angra 3. A usina, localizada em Angra dos Reis (RJ), seria capaz de gerar 1.350 MW e sua construção custaria cerca de US$ 1,8 bilhão. Hoje o governo gasta cerca de US$ 20 milhões por mês com a manutenção dos equipamentos, comprados no regime militar.
Os ministérios do Meio Ambiente, de Minas e Energia e de Ciência e Tecnologia já se posicionaram no CNPE (Conselho Nacional de Política Energética). Os dois primeiros, contra a usina e o último, a favor. O ministro José Dirceu (Casa Civil) retirou o tema de pauta e, fora da reunião, se manifestou favorável à construção.
Construir ou não a usina é uma decisão do presidente Lula. Antes de tomá-la, ele ouvirá o CNPE.
A discussão sobre a construção ou não da usina se arrasta no CNPE desde 2001. A última análise técnica feita pelo assunto dividiu o tema em três aspectos: viabilidade econômica (Minas e Energia), questão ambiental (Meio Ambiente) e estratégica (Ciência e Tecnologia).
Minas e Energia concluiu que eram mais interessantes as hidrelétricas de Belo Monte (PA) e as do rio Madeira (RO), e postergar Angra 3 para 2010. O preço da energia gerada pela usina nuclear seria de até US$ 80 por MWh (megawatt hora), contra US$ 30 das hidrelétricas. Já o Ministério do Meio Ambiente foi contra por não haver solução à localização dos rejeitos da usina. Ciência e Tecnologia foi a favor por considerar a usina estratégica para o país, opinião similar à de Dirceu.
Essa divergência pública entre a ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia) e os ministros José Dirceu e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) foi o segundo desgaste político da semana. O primeiro foi a rejeição do nome de José Fantine à diretoria-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo).
Dilma e Dirceu conversaram por cerca de uma hora ontem e combinaram de fazer as nomeações políticas com Lula. Também ficou acertado que o governo não atenderá a todos os pedidos da base aliada, só aos considerados possíveis pela área política. A divergência gerou outro fato: na quarta, foi demitido Zieli Dutra Thomé Filho, presidente da Eletronuclear. A saída estaria ligada à sua posição favorável à usina. "É minha suposição por não haver o que desabone minha gestão."


Colaborou PEDRO SOARES, da Sucursal do Rio


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