São Paulo, quinta, 16 de abril de 1998

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PRIVATIZAÇÃO
Leilão da energética paulista fracassa por falta de interessados
Ligth compra subsidiária da Eletropaulo sem pagar ágio


ELVIRA LOBATO
em São Paulo

O abastecimento de energia elétrica da Grande São Paulo, a partir de agora, será administrado pela Light, do Rio de Janeiro. A Lightgás, subsidiária integral da Light, comprou ontem o controle acionário (74,8% das ações com direito a voto) da Empresa Metropolitana de Eletricidade, que foi privatizada em leilão pelo governo de São Paulo pelo preço mínimo fixado no edital: R$ 2,026 bilhões.
O leilão está sendo questionado na Justiça e pode ser anulado (leia texto na pág. 1-5).
Além de vender a Metropolitana sem ágio, o governo de São Paulo foi obrigado a cancelar, por falta de interessados, os leilões da Empresa Bandeirante de Energia e de parte da Empresa Paulista de Transmissão de Energia Elétrica (EPTE), igualmente programados para ontem na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo).
Os preços mínimos de ambas estavam fixados, respectivamente, em R$ 1,014 bilhão e R$ 148,8 milhões.
"Alcançamos um sucesso parcial na venda", afirmou o governador Mário Covas (PSDB) após o leilão. "Vendemos parte do que pretendíamos e vamos repensar o que fazer daqui para a frente."
O secretário de Planejamento e coordenador do programa de desestatização do governo Mário Covas, André Franco Montoro Filho, atribuiu o desinteresse pela compra das estatais à escassez de crédito no mercado internacional.
Montoro Filho não conseguiu esconder sua surpresa com o desfecho dos leilões. Disse que estava "seguro" de que tanto a Metropolitana quanto a Bandeirantes seriam vendidas, uma vez que três consórcios haviam depositado as garantias bancárias exigidas no edital para participar do leilão. "Foi uma surpresa para mim, mas faz parte do jogo comercial."
Anteontem, VBC (empresa formada pela Votorantim, Bradesco e Camargo Corrêa), Light e a multinacional norte-americana Enron depositaram na Bovespa as garantias bancárias para disputar o leilão da Metropolitana, sinalizando que haveria competição.
VBC e Light também depositaram garantias para o leilão da Bandeirantes.
Assim, causou surpresa quando o diretor de pregão da Bovespa, Antônio Roberto da Costa, que atuou como leiloeiro, anunciou que a Light era a única candidata à compra da Metropolitana e que não havia proposta para a Bandeirante.
O fracasso do edital da EPTE estava patente desde o final da tarde de anteontem, quando venceu o prazo para depósito das garantias e ninguém se apresentou. O governo já não descarta a hipótese de desistir da venda da empresa.
O VBC justificou sua desistência argumentando que o governo havia fixado um preço mínimo muito alto para as distribuidoras. Nenhum membro do grupo Enron compareceu à Bolsa.
Toda a direção da Light, incluindo seu presidente, Michel Gaillard, veio do Rio para acompanhar o leilão.
Diretores da empresa admitiram ter levado vários envelopes com diferentes opções de proposta de preço tanto para a Metropolitana quanto para a Bandeirante.
O leilão começou às 9h, como programado, na presença de Covas e de vários secretários do Estado. O governador chegou otimista, mas não quis fazer previsões.
Mal o leiloeiro iniciou a leitura ds condições do edital, um oficial de Justiça surgiu no pregão com um comunicado do vice-presidente do Tribunal de Justiça, Amador da Cunha Bueno, informando que uma liminar suspendendo o leilão havia sido concedida a partir de uma ação do Sindicato dos Eletricitários.
A ação foi impetrada pelo um ex-diretor de Contabilidade e Controle da Eletropaulo, Ernesto Santos Filho, 60, hoje aposentado e diretor do sindicato. Ele moveu a ação na condição de acionista minoritário. Há dois meses, comprou 10 mil ações da Eletropaulo (cerca de R$ 5.000,00, segundo ele), com o propósito de questionar a privatização na Justiça, alegando suposta lesão aos direitos do acionista minoritário.
O leilão ficou interrompido por uma hora e reabriu quando a Bovespa recebeu um comunicado oficial da presidência do Tribunal de Justiça de que não havia registro da liminar.
O leiloeiro deu três minutos para que os interessados entregassem seus envelopes, mas ninguém se mexia. Os executivos da Light olhavam fixamente para os operadores das corretoras Bradesco e Fonte Cindam, que representavam os grupos VBC e Enron.
Quando faltavam cinco segundos para esgotar o prazo, os diretores da Light se convenceram de que estavam sozinhos na parada e entregaram o envelope com a proposta de compra da Metropolitana, que mais lhes interessava.
Ás 10h10, quando o diretor do pregão anunciou que a venda estava consumada, os executivos pularam e se abraçaram.
Arivair Guido Dall'Stella, representante da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) na diretoria da Light, disse que a empresa não esperava comprar a Metropolitana pelo preço mínimo, mas não revelou o ágio que aceitaria pagar.



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