São Paulo, quinta, 16 de abril de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Amigos de deputado formam "tropa de choque'

da Sucursal de Brasília

Uma tropa de choque formada por amigos do deputado Sérgio Naya (sem partido-MG) atuou ontem de forma explícita no plenário da Câmara.
A pressão forçou a intervenção do presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e de líderes partidários para evitar a absolvição.
ACM chamou três deputados do PFL baiano e exigiu que eles votassem pela cassação de Naya. Os três estavam decididos a votar pela absolvição. No final da sessão, iniciada pela manhã, os líderes sentiram que havia uma clima pró-Naya e cobraram pessoalmente o voto favorável à cassação.
A cobrança veio também dos familiares. Ainda no gabinete, no início da manhã, o deputado José Múcio Monteiro (PFL-PE) recebeu um telefonema da filha Marina, 22. Ela exigia que o pai votasse pela cassação e declarasse seu voto no microfone. José Múcio explicou que a votação era secreta.

Marcação
Os líderes acompanharam a movimentação da tropa de choque de Naya. O próprio deputado, sentado entre seu irmão Paulo e o advogado Daniel Azevedo, fazia o mapeamento dos votos a seu favor.
Ele marcava com uma caneta de cor verde os deputados que votariam contra o parecer do deputado Marconi Perillo (PSDB-GO).
As informações eram transmitidas por deputados aliados, principalmente pelo tucano Basílio Villani (PR). Ele fazia o elo entre os deputados e Naya.
"Fica tranquilo. Pode pegar um avião e ir para casa", disse Villani a Naya, quando retornou de uma das missões no final da manhã.

Regime militar
Os amigos de Naya lembraram do período dos governos militares (1964-1985) para tentar sensibilizar os colegas.
"Eu já passei por isso", disse o deputado Wilson Campos (PSDB-PE) ao deputado João Leão (PSDB-BA). Campos foi cassado em 1975, quando era senador pela Arena, acusado de corrupção.
O deputado Moacyr Andrade (PPB-AL) abordou o tucano Arthur Virgílio (AM), lembrando que seu pai foi cassado.
"Ele me disse: Você que é filho de um cassado não vai votar pela cassação. Eu respondi: É diferente, deputado. O meu pai foi cassado por um ato de força. O deputado Naya teve direito de defesa", afirmou Arthur Virgílio da tribuna da Câmara.
O pai do tucano, Arthur Virgílio Filho, foi cassado pelo AI-5 (Ato Institucional número 5).
"Estou quase conseguindo o voto do Gibson", disse o deputado Lael Varella (PFL-MG) a Naya.
Mais tarde, o deputado Nilson Gibson (PSB-PE) desconversou. "Nem sabia que estavam votando o processo do Naya. Eu falo com todos os deputados, mas não sei os seus nomes", afirmou.
(DENISE MADUENO E LUIZA DAMÉ)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.