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ANÁLISE
Nomeação de dom Cláudio é simbólica
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
É mera coincidência, mas tem
todo o simbolismo o fato de que d.
Cláudio Hummes seja designado
substituto de d. Paulo Evaristo
Arns no exato momento em que se
iniciam as comemorações dos 20
anos das greves no ABC paulista.
O simbolismo decorre do comportamento de d. Cláudio naquele
momento.
Em uma das greves, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo) pediu que ele, então
bispo de Santo André, fosse o mediador nas negociações com o Sindicato dos Metalúrgicos, presidido por Luiz Inácio da Silva, o Lula,
que, à época, ainda não havia incorporado o apelido ao nome.
D. Cláudio negou-se com um
eloquência: "A igreja não pode fazer o papel de mediadora, porque
está firmemente ao lado de uma
das partes, os trabalhadores".
Vinte anos depois, a imagem de
d. Cláudio mudou. É tido, agora,
como conservador. "É um rótulo
injusto. Não foi ele quem mudou,
mas a conjuntura", reage o dominicano frei Betto, talvez a personalidade religiosa que mais simbolize a ala dita progressista da Igreja
Católica.
Frei Betto apóia-se na sua própria situação pessoal para dizer
que o rótulo de conservador não
combina com d. Cláudio: indicado
para a Pastoral Operária do ABC,
no já remoto ano de 1979, Betto
manteve-se no cargo até hoje, com
total apoio de d. Cláudio, "apesar
das inúmeras pressões que ele sofreu" para afastar o dominicano,
diz o frei.
O que mudou na conjuntura?
Hoje, a igreja já não precisa desempenhar o papel de guarda-chuva protetor dos direitos civis, ao contrário do que o fazia durante o regime militar.
Hoje, Lula é, de novo, virtual
candidato à Presidência da República, tem direito (que não usa) até
a uma segurança fornecida pela
Polícia Federal.
Dezoito anos atrás, em outra das
grandes greves do ABC, Lula foi
preso.
No rádio do carro da Polícia Federal que o levava de São Bernardo
para o Deops, ao qual ficaria recolhido, ouviu a notícia de sua prisão. Fora divulgada, para proteger
o líder sindical, nos tempos difíceis do regime militar, por d. Cláudio Hummes, por sua vez avisado
por frei Betto e pelo deputado estadual petista Geraldo Siqueira,
improvisados guarda-costas de
Lula.
Frei Betto brinca que "há muito
mais em comum entre d. Cláudio e
dom Paulo do que supõe nossa vã
filosofia". São ambos franciscanos
(da Ordem de São Francisco), são
ambos do Sul do país e são também ambos descendentes de alemães, idioma que dominam com
certa facilidade.
Basta para caracterizar uma
identificação também teológica?
Não necessariamente.
As diferenças começam pelo fato
de que d. Paulo, um pouco obrigado pelas circunstâncias, um pouco
por seu própio temperamento,
deu enorme visibilidade pública
ao seu período como arcebispo.
D. Cláudio, ao contrário, só teve
visibilidade enquanto o ABC, a região que "governava", fervia com
as greves. Depois, ficou longe do
noticiário, como prefere.
Política interna
A suposta conversão ao conservadorismo é assunto apenas para
os que acompanham a política interna da Igreja Católica.
Outra grande diferença de temperamento: d. Paulo não hesita em
bater de frente com quem acha necessário. D. Cláudio é muito mais
diplomático.
Por fim, a diferença essencial: d.
Cláudio deve sua indicação para o
Arcebispado de São Paulo ao arquiconservador d. Eugênio Salles,
arcebispo do Rio de Janeiro, e o
homem de maior confiança do papa João Paulo 2º no Brasil.
D. Eugênio montou na sua Arquidiocese o que, nos corredores
da igreja, se batiza de "vestibulinho", uma espécie de cursinho de
avaliação para que d. Eugênio verifique quem pode e deve ser promovido.
D. Cláudio passou pelo "vestibulinho" de d. Eugênio e só pode ter
sido aprovado. Do contrário, não
teria sido indicado.
Esse fato faz dele um conservador? Não necessariamente. Frei
Betto, que conhece como poucos
as entranhas da igreja brasileira,
diz que um conservador puro jamais seria indicado para uma Arquidiocese como São Paulo.
Por um motivo simples: os padres têm enorme facilidade para
serem chamados para trabalhar
com outros bispos, de outras cidades, caso se sintam pouco à vontade com um novo arcebispo.
Como boa parte dos padres de
São Paulo formou-se à sombra do
"progressismo" militante de d.
Paulo, acabariam por obter transferência para outras cidades, se a
guinada fosse muito grande.
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