São Paulo, quinta, 16 de abril de 1998

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RELIGIÃO
Cardeal ressalta participação de d. Cláudio em "lutas'
Dom Paulo elogia passado de sucessor

Antonio Gaudério - 18.fev.97/Folha Imagem
D. Paulo abençoa manifestantes sem terra em Cajamar (SP) em fevereiro do ano passado


da Reportagem Local

Dom Paulo Evaristo Arns considera que a democratização do Brasil ainda hoje é incompleta. Ao comentar a indicação d. Cláudio Hummes para a Arquidiocese de São Paulo, ressaltou a participação dele "em todas as lutas desde 75 até o momento em que entrou a democratização". Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida ontem.

D. CLÁUDIO HUMMES - "Hoje de manhã me comuniquei com d. Cláudio, ele é meu velho conhecido. Estive na posse dele em Santo André, em 29 de dezembro de 75, desde então somos amigos e conhecidos. Vocês conhecem a vida dele, mas convém ressaltar três coisas. Ele tem uma especialização em ecumenismo que é muito importante para nós. Aqui temos um grande movimento para unir os que têm a mesma fé. Em segundo lugar, ele é doutor em filosofia. E a terceira coisa é que ele conhece São Paulo e participou de todas as lutas desde 75 até o momento em que entrou a democratização lenta e incompleta até agora. A democratização do Brasil será sempre incompleta enquanto não tivermos garantido a honra da cidadania para todos os brasileiros."
BRASIL - "É importante que os três poderes encontrem o equilíbrio. É preciso que o Judiciário seja um pouco mais rápido, que o Legislativo seja mais seguro e tenha partidos bem definidos e que o Executivo possa sempre respeitar a evolução de tudo que há no país com o apoio dos outros poderes."
MOMENTO MAIS DIFÍCIL - "O momento mais difícil nesses 32 anos foi certamente quando os bispos do Estado de São Paulo me autorizaram, pediram e exigiram que eu fosse ao presidente da República para apresentar as queixas dos cidadãos contra a tortura, as prisões e o desaparecimento das pessoas.
A audiência com Médici foi muito difícil. Quando ele me recebeu foi com muito pouca boa vontade e me disse aquela frase que me assustou. "O poder constituído pela revolução não arredará um milímetro do que está fazendo. Os padres fiquem na sacristia que nós vamos cuidar da ordem pública'. Isso me pareceu uma grande ofensa para a Igreja Católica e para os cidadãos."
MAIOR VITÓRIA - "Eu acho que o mais importante em São Paulo foi levar o povo a discutir o que o cristão deve fazer em favor da sociedade para cumprir o mandamento maior do evangelho, que é o da solidariedade e do amor."
LEMBRANÇA - "Gostaria que esse período fosse considerado como um período de transição entre uma igreja onde havia pouca participação do povo para outra onde o povo é convidado a participar."



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