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RELIGIÃO
Cardeal ressalta participação de d. Cláudio em "lutas'
Dom Paulo elogia passado de sucessor
Antonio Gaudério - 18.fev.97/Folha Imagem
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D. Paulo abençoa manifestantes sem terra em Cajamar (SP) em fevereiro do ano passado
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da Reportagem Local
Dom Paulo Evaristo Arns considera que a democratização do Brasil ainda hoje é incompleta. Ao comentar a indicação d. Cláudio
Hummes para a Arquidiocese de
São Paulo, ressaltou a participação
dele "em todas as lutas desde 75
até o momento em que entrou a
democratização". Leia a seguir os
principais trechos da entrevista
concedida ontem.
D. CLÁUDIO HUMMES - "Hoje
de manhã me comuniquei com d.
Cláudio, ele é meu velho conhecido. Estive na posse dele em Santo
André, em 29 de dezembro de 75,
desde então somos amigos e conhecidos. Vocês conhecem a vida
dele, mas convém ressaltar três
coisas. Ele tem uma especialização
em ecumenismo que é muito importante para nós. Aqui temos um
grande movimento para unir os
que têm a mesma fé. Em segundo
lugar, ele é doutor em filosofia. E a
terceira coisa é que ele conhece
São Paulo e participou de todas as
lutas desde 75 até o momento em
que entrou a democratização lenta
e incompleta até agora. A democratização do Brasil será sempre
incompleta enquanto não tivermos garantido a honra da cidadania para todos os brasileiros."
BRASIL - "É importante que os
três poderes encontrem o equilíbrio. É preciso que o Judiciário seja um pouco mais rápido, que o
Legislativo seja mais seguro e tenha partidos bem definidos e que
o Executivo possa sempre respeitar a evolução de tudo que há no
país com o apoio dos outros poderes."
MOMENTO MAIS DIFÍCIL - "O
momento mais difícil nesses 32
anos foi certamente quando os
bispos do Estado de São Paulo me
autorizaram, pediram e exigiram
que eu fosse ao presidente da República para apresentar as queixas
dos cidadãos contra a tortura, as
prisões e o desaparecimento das
pessoas.
A audiência com Médici foi muito difícil. Quando ele me recebeu
foi com muito pouca boa vontade
e me disse aquela frase que me assustou. "O poder constituído pela
revolução não arredará um milímetro do que está fazendo. Os padres fiquem na sacristia que nós
vamos cuidar da ordem pública'.
Isso me pareceu uma grande ofensa para a Igreja Católica e para os
cidadãos."
MAIOR VITÓRIA - "Eu acho que
o mais importante em São Paulo
foi levar o povo a discutir o que o
cristão deve fazer em favor da sociedade para cumprir o mandamento maior do evangelho, que é
o da solidariedade e do amor."
LEMBRANÇA - "Gostaria que esse período fosse considerado como um período de transição entre
uma igreja onde havia pouca participação do povo para outra onde
o povo é convidado a participar."
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