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JANIO DE FREITAS
O manifesto
Tanto faz que seja mantido
ou retirado o manifesto de
parlamentares petistas em defesa dos companheiros ameaçados
de expulsão. Tanto faz que o líder Tião Viana renuncie ao cargo, em protesto contra os signatários, ou retire a renúncia. O fato de oito senadores e 35 deputados do PT assinarem prontamente o manifesto é, por si só, a
demonstração inegável de que o
PT está acometido de uma crise
de insatisfação, na qual o problema dos três ameaçados é apenas
a fachada.
Nem a cobrança de contribuição aos servidores inativos é
aceita na bancada petista, embora só poucos exponham a discordância, nem é a única fonte de insatisfação. Aquele item do projeto governamental para a Previ
dência oferece uma via de expressão para um problema
maior: o sentimento de frustração, que já vinha de antes, decorrente da política econômica.
O argumento da "transição necessária", aplicado às bancadas
petistas pelo governo, foi aceito
para silenciar a contrariedade,
para evitar a precipitação de
protestos "nas massas", mas não
convenceu. Cada insatisfeito
com a política econômica tem,
portanto, algo em comum com os
três ameaçados.
A tensão interna do PT não foi
percebida em tempo pela direção
partidária ou pelo governo. Agora impõe o seu reconhecimento.
Em relação à reforma previdenciária, o governo já convive com
a idéia de recuo: o incentivo à
apresentação de emendas por
não-petistas é um modo de ceder
sem falar em recuo, antes atribuindo as alterações a iniciativas alheias e mesmo contrárias
ao governo.
Um bravo
Com a saída de Moreira Alves,
vai-se o último ministro do Supremo Tribunal Federal nomeado pela ditadura. Pelo seu julgamento passaram numerosas
causas de um dos mais grandiosos defensores do Estado de Direito e dos valores democráticos
-o advogado, jurista, ensaísta
literário e historiador Raymundo Faoro.
Alto, espigado como um Quixote, o bravo Raymundo Faoro
um dia assumiu a presidência da
Ordem dos Advogados do Brasil
para dali enfrentar o regime de
opressão. A ditadura não pôde
ser mais a mesma. E o espírito cívico pôde reencontrar-se pelo
país afora, sob a liderança que
sacudia entidades da sociedade
civil, grande parte da imprensa e
a opinião pública.
Os amigos de Raymundo Faoro perderam ontem as eventualidades de um convívio extraordinário. O país apenas transfere,
da recatada presença pessoal para a memória nacional, o seu débito histórico com Raymundo
Faoro.
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