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São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2003

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NEO-OPOSIÇÃO

Em almoço com 52 deputados tucanos, presidente faz autocrítica sobre posição adotada pelo PT no governo FHC

Lula diz que aprendeu com "erros" do PSDB

RAYMUNDO COSTA
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em almoço ontem com 52 dos 62 deputados tucanos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que aprendeu com "os erros do PSDB" para evitar que as reformas da Previdência e tributária fracassem no Congresso. Lula também fez a autocrítica da posição adotada pelo PT em relação às reformas no governo passado.
Segundo relato de tucanos e petistas presentes, Lula afirmou que não fica "encabulado" quando alguém, por provocação, diz que as reformas fracassaram no governo Fernando Henrique Cardoso por causa da oposição do PT.
"Uns acordam mais tarde, outros acordam mais cedo. Uns dormem mais tarde, outros dormem mais cedo. Nem todo mundo dorme e acorda ao mesmo tempo", foi a frase de Lula, de acordo com os relatos. O entendimento dos tucanos foi o de que o PT só teria acordado agora para a necessidade das reformas.
O primeiro encontro de Lula com os derrotados na eleição do ano passado foi cordial e bem-humorado, apesar da tensão congressual entre PT e PSDB.
O único momento de mal-estar ocorreu na saída do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que afirmou: "Na eleição a esperança venceu o medo. Eu diria que agora aqui a esperança convenceu o medo", disse. Os tucanos não quiseram responder e alegaram que fazem uma oposição "civilizada e educada".
Antes do almoço, os tucanos se reuniram no Congresso para afinar o discurso. Ficou decidido que apenas o líder na Câmara, Jutahy Júnior (PSDB-BA), falaria em nome do partido.
O deputado disse que o PSDB aceitara o convite para o almoço "dentro da visão de como deve ser a nova política no Brasil". Como exemplo, ele lembrou que no ano passado o então presidente Fernando Henrique Cardoso, em um momento delicado para o país, convidara os candidatos de oposição para discutir o acordo com o Fundo Monetário Internacional no Planalto e teria dado um "show da transição, reconhecido no mundo inteiro".
"Presidente Lula, bem-vindo ao campo das reformas", provocou Jutahy em seguida. Segundo o tucano, muitos deputados foram ao almoço, mas muitos outros teriam ido se não tivessem perdido as eleições por terem defendido as reformas.

Provocações
Ao falar, Lula disse que contava com o PSDB para a aprovação das reformas, que não seriam do governo, mas da sociedade brasileira. Disse que não ficava "encabulado" com as provocações sobre a posição contrária do PT no passado, como fizera dias antes o deputado Geddel Vieira Lima (BA) no almoço com a bancada do PMDB.
Lula disse que aprendeu com os "erros do PSDB" a ampliar o debate e a adesão para que as propostas caminhem na direção certa. Citou o apoio dos governadores sobretudo à reforma da Previdência e disse que os exemplos de Minas Gerais e São Paulo eram "emblemáticos".
O presidente disse que, quando as reformas de fundo são feitas, têm uma repercussão no caixa do Estado de longo prazo. Mencionou especificamente as reformas feitas " há 20 anos" no Reino Unido, que estariam repercutindo agora nas contas britânicas. Os tucanos entenderam que Lula referiu-se às reformas feitas pela ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, um símbolo do conservadorismo liberal.
O presidente voltou a pedir a votação das propostas ainda neste ano. Argumentou que 2004 é ano eleitoral, o que dificulta a tramitação dos projetos. "E eu estou vendo muito deputado aqui com jeito de candidato", brincou.
Lula disse que também era favorável às reformas política e trabalhista, defendidas por Jutahy no discurso tucano. Condenou o troca-troca partidário, que, aliás, os tucanos dizem estar sendo agora patrocinado pelo Planalto, e disse que achava um "absurdo" um deputado trocar de legenda antes mesmo da posse. Defendeu que o partido deve ficar acima do interesse individual.
"Se você mora num prédio, tem de seguir as regras do condomínio", disse Lula, no que pareceu aos presentes uma clara referência aos dissidentes do PT.
Lula prometeu ontem aos tucanos que almoçaram com ele não "discriminar" a oposição em seu governo. "Há uma tradição na política brasileira de tratar o opositor como inimigo, em vez de pensar no interesse do país", disse Lula aos deputados federais.


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