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NEO-OPOSIÇÃO
Em almoço com 52 deputados tucanos, presidente faz autocrítica sobre posição adotada pelo PT no governo FHC
Lula diz que aprendeu com "erros" do PSDB
RAYMUNDO COSTA
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em almoço ontem com 52 dos
62 deputados tucanos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
disse que aprendeu com "os erros
do PSDB" para evitar que as reformas da Previdência e tributária
fracassem no Congresso. Lula
também fez a autocrítica da posição adotada pelo PT em relação às
reformas no governo passado.
Segundo relato de tucanos e petistas presentes, Lula afirmou que
não fica "encabulado" quando alguém, por provocação, diz que as
reformas fracassaram no governo
Fernando Henrique Cardoso por
causa da oposição do PT.
"Uns acordam mais tarde, outros acordam mais cedo. Uns dormem mais tarde, outros dormem mais cedo. Nem todo mundo dorme e acorda ao mesmo tempo",
foi a frase de Lula, de acordo com
os relatos. O entendimento dos
tucanos foi o de que o PT só teria
acordado agora para a necessidade das reformas.
O primeiro encontro de Lula
com os derrotados na eleição do
ano passado foi cordial e bem-humorado, apesar da tensão congressual entre PT e PSDB.
O único momento de mal-estar
ocorreu na saída do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que afirmou: "Na
eleição a esperança venceu o medo. Eu diria que agora aqui a esperança convenceu o medo", disse.
Os tucanos não quiseram responder e alegaram que fazem uma
oposição "civilizada e educada".
Antes do almoço, os tucanos se
reuniram no Congresso para afinar o discurso. Ficou decidido
que apenas o líder na Câmara, Jutahy Júnior (PSDB-BA), falaria
em nome do partido.
O deputado disse que o PSDB
aceitara o convite para o almoço
"dentro da visão de como deve ser
a nova política no Brasil". Como
exemplo, ele lembrou que no ano
passado o então presidente Fernando Henrique Cardoso, em um
momento delicado para o país,
convidara os candidatos de oposição para discutir o acordo com o
Fundo Monetário Internacional
no Planalto e teria dado um
"show da transição, reconhecido
no mundo inteiro".
"Presidente Lula, bem-vindo ao
campo das reformas", provocou
Jutahy em seguida. Segundo o tucano, muitos deputados foram ao
almoço, mas muitos outros teriam ido se não tivessem perdido
as eleições por terem defendido as
reformas.
Provocações
Ao falar, Lula disse que contava
com o PSDB para a aprovação das
reformas, que não seriam do governo, mas da sociedade brasileira. Disse que não ficava "encabulado" com as provocações sobre a
posição contrária do PT no passado, como fizera dias antes o deputado Geddel Vieira Lima (BA) no
almoço com a bancada do PMDB.
Lula disse que aprendeu com os
"erros do PSDB" a ampliar o debate e a adesão para que as propostas caminhem na direção certa. Citou o apoio dos governadores sobretudo à reforma da Previdência e disse que os exemplos de
Minas Gerais e São Paulo eram
"emblemáticos".
O presidente disse que, quando
as reformas de fundo são feitas,
têm uma repercussão no caixa do
Estado de longo prazo. Mencionou especificamente as reformas
feitas " há 20 anos" no Reino Unido, que estariam repercutindo
agora nas contas britânicas. Os tucanos entenderam que Lula referiu-se às reformas feitas pela ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, um símbolo do
conservadorismo liberal.
O presidente voltou a pedir a
votação das propostas ainda neste
ano. Argumentou que 2004 é ano
eleitoral, o que dificulta a tramitação dos projetos. "E eu estou vendo muito deputado aqui com jeito
de candidato", brincou.
Lula disse que também era favorável às reformas política e trabalhista, defendidas por Jutahy no
discurso tucano. Condenou o troca-troca partidário, que, aliás, os
tucanos dizem estar sendo agora
patrocinado pelo Planalto, e disse
que achava um "absurdo" um deputado trocar de legenda antes
mesmo da posse. Defendeu que o
partido deve ficar acima do interesse individual.
"Se você mora num prédio, tem
de seguir as regras do condomínio", disse Lula, no que pareceu
aos presentes uma clara referência aos dissidentes do PT.
Lula prometeu ontem aos tucanos que almoçaram com ele não
"discriminar" a oposição em seu
governo. "Há uma tradição na
política brasileira de tratar o opositor como inimigo, em vez de
pensar no interesse do país", disse
Lula aos deputados federais.
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