São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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IMAGEM ELEITORAL

Parte dos especialistas citados em propaganda em 2002 faz crítica a rumo do governo; apenas 5 de 25 têm cargos

"Notáveis" da campanha hoje divergem de Lula

FLÁVIA MARREIRO
VIRGILIO ABRANCHES
DA REDAÇÃO

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Dos 25 notáveis e especialistas apresentados durante a propaganda eleitoral de Lula na TV em 2002 como sua "equipe", apenas 5 estão efetivamente no governo federal, ocupando cargos.
Além disso, 15 meses depois da posse de Lula, a "equipe" de formuladores do programa de governo do candidato listada na TV ainda acumula dissidências. Hoje, pelo menos nove dos nomes são total ou parcialmente críticos da gestão Lula por acharem que o governo petista se afastou de seu ideário tradicional ou de itens fundamentais do programa.
Estão nesse grupo, entre outros: Eduardo Jorge (ex-secretário da Saúde de São Paulo e ex-petista), Paulo Paim (senador pelo PT gaúcho), Márcio Pochmann (secretário do Trabalho de São Paulo), João Sayad (ex-secretário de Finanças de São Paulo), Maria da Conceição Tavares (economista ligada ao PT), Cristovam Buarque (senador pelo PT do DF) e Luiz Eduardo Soares (antropólogo).
Os dois últimos chegaram a integrar o alto escalão. Cristovam, como ministro da Educação, e Soares, na Secretaria Nacional de Segurança Pública. Hoje não poupam críticas às áreas que comandaram (leia texto nesta página sobre segurança).
"Acho que educação ainda não é prioridade [como está no programa]. Tenho esperança, mas ainda não é a prioridade. E não foi em 2003", diz Cristovam, citando uma proposta do programa de Lula que tentou implantar, mas que diz ter sido barrada na Casa Civil: a eleição direta para reitores.
A Folha procurou os ministérios da Casa Civil e da Educação. A assessoria da Casa Civil não ligou de volta. Já a da Educação informou que o MEC está trabalhando para implantar a medida.

QG petista
A peça dirigida pelo marqueteiro Duda Mendonça reunia num escritório -espécie de QG petista- políticos e intelectuais anunciados como colaboradores do programa do PT. Na seqüência, um locutor apresentava os currículos de integrantes da "equipe de Lula" por área, uma blindagem contra eventuais ataques ao preparo técnico do candidato.
O Planalto foi procurado para comentar a reportagem. A assessoria de imprensa disse que a propaganda eleitoral não trazia a futura equipe de governo do presidente Lula, mas "colaboradores de longa data do PT".
Na parte de geração de empregos, por exemplo, foi relacionado o senador Paulo Paim, que foi defenestrado, na semana passada -após articulação do PT-, da comissão no Congresso que discute um novo valor para o salário mínimo. "Não sou ouvido pelo governo. Tenho uma dificuldade enorme até para conseguir aprovar projetos", declarou Paim, que também foi um dos empecilhos para Lula durante a votação da reforma da Previdência em 2003.
Outro que estava na propaganda de Lula e hoje critica a área econômica do governo federal é o economista João Sayad, relacionado justamente para a "equipe" de crescimento econômico. Em artigo na Folha em 26 de abril, escreveu: "O governo afirma que está "ajustando" a economia brasileira depois do desajuste causado pela política econômica anterior. (...) O ajuste desajusta".
No mesmo texto, Sayad ainda diz que as medidas do governo trouxeram efeitos danosos para a economia: "A dívida pública cresceu, pois as despesas de juros foram maiores do que os recursos reservados para pagá-los".
Dos citados na propaganda, até quem não estava na área econômica faz suas críticas. É o caso da socióloga Maria Victória Benevides. Mencionada para o campo da educação, ela se diz insatisfeita. "Tenho muitas críticas à política econômica. Tenho muita dificuldade de aceitar essa opção pela prioridade ao pagamento da dívida, ao superávit alto. Não sou economista, mas percebo os efeitos sociais deletérios."

"Confiança"
A socióloga pertence à ala da "equipe" que vê dificuldades no governo, mas que afirma confiar nos dois terços restantes da gestão Lula. "Tenho plena confiança nas pessoas que estão no governo, começando pelo presidente."
Benevides está no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e na Comissão de Ética Pública, cargos não-remunerados.
Sobre a área para a qual foi listada, não quis comentar se o governo Lula está aplicando o programa pelo qual se elegeu. Disse que não trabalhou especificamente com educação durante a campanha, e sim "em linhas gerais" do programa de governo.
Para o professor Hélgio Trindade, ex-reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e que também estava entre os membros da "equipe de Lula" na área da educação, o governo tem cumprido algumas de suas propostas para o setor. Ele cita a implantação do Sistema Nacional de Avaliação Institucional da Educação Superior (Sinaes) como exemplo. "Creio no compromisso do governo com seu programa", diz.

Base de apoio
Com cargos no governo estão os ministros José Dirceu (Casa Civil), Guido Mantega (Planejamento) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), além de Glauco Arbix (presidente do Ipea -Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e Antônio Ibañez Ruiz (secretário de Educação Média e Tecnológica do MEC).
Há ainda os que, listados por Lula/Duda, não foram para o governo efetivamente, mas apóiam a gestão ou são da base no Congresso. São os casos dos senadores Aloizio Mercadante e Eduardo Suplicy (PT-SP), do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), do presidente do PT, José Genoino.
O senador Suplicy, citado na "equipe" de geração de empregos, se diz representado no governo, apesar de não ter um cargo. "Tenho procurado o governo com as minhas sugestões e em alguns aspectos elas têm sido consideradas. A maior prova disso é a sanção da lei que cria a renda básica de cidadania. A área social vem avançando num ritmo que considero razoável", afirmou.


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