São Paulo, sábado, 16 de maio de 1998

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POLÍCIA
Associação ameaça com greve para conquistar piso nacional de R$ 1.000
Conselho Nacional de PMs acha 'colapso inevitável'

FLÁVIO ARANTES
da Agência Folha, em Curitiba

O Conselho Nacional dos Comandantes das Polícias Militares e Corpo de Bombeiros está ameaçando organizar uma greve entre policiais militares por aumento de salários, entre outras reivindicações.
"Inevitavelmente, haverá novamente um colapso", disse à Agência Folha o coronel Luiz Fernando Lara, presidente do conselho das PMs e Bombeiros.
Lara esteve reunido no início de abril, em Recife, para discutir a crise das PMs e cobrar do governo federal a criação de um piso único de R$ 1.000 para os soldados das corporações.
"O governo está brincando com coisa séria", disse Lara, afirmando que os PMs que se rebelaram no ano passado deram "um voto de confiança" ao governo. Porém, na sua avaliação, terminado o movimento, as autoridades públicas esqueceram a crise.
"Nós não estamos incentivando a greve. O que nós estamos fazendo é alertar para essa possibilidade, já que nada foi feito." Segundo o coronel, comandante da PM do Paraná, a única ação concreta foi a criação da Secretaria Nacional de Segurança Pública, "mas ela não tem força de decisão".
Lara quer um encontro com o ministro da Justiça, Renan Calheiros, para levar essa cobrança dos coronéis e também para discutir a criação do Fundo Nacional de Segurança Pública, proposto pelos coronéis. Esse fundo seria abastecido, entre outras fontes, com recursos de multas e de loterias.
Os recursos do fundo serviriam para reaparelhar as PMs, retirando dos Estados essa competência. Segundo o raciocínio do coronel, livres do ônus de equipar suas polícias, os Estados teriam condições de pagar o piso nacional.
Por causa dos baixos salários e das condições de trabalho, "fica difícil" cobrar de um policial militar que faça a segurança pública.
A crise da Polícia Militar estourou no país em 13 de junho do ano passado, quando policiais militares de Minas Gerais saíram às ruas de Belo Horizonte, em greve por aumento salarial.
Numa manifestação onze dias depois, houve confronto entre os grevistas e os PMs que protegiam o Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro. O cabo Valério dos Santos Oliveira, 36, foi baleado na cabeça e morreu.
Em menos de duas semanas, a crise já havia contagiado outros 12 Estados. Em Alagoas, as proporções da crise foram mais sérias.
Em julho, policiais militares e civis chegaram a entrar em conflito com o Exército. O governador Divaldo Suruagy (PMDB) se afastou do cargo, para depois renunciar. No final de julho, a crise explodiu no Ceará. Num confronto entre a tropa de elite da PM e policiais participantes de uma passeata por melhores salários em Fortaleza, o comandante da PM, coronel Mauro Alves Benevides, foi ferido com um tiro nas costas.



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