São Paulo, sábado, 16 de maio de 1998

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PROTESTO
Sindicalista que defendeu ação critica dirigentes da entidade, que anuncia apenas "solidariedade" a saqueadores
CUT nega organização de saques urbanos

PATRICIA ZORZAN
da Reportagem Local

A declaração do secretário de Política Sindical da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Jorge Luís Martins, -de que a entidade organizará saques a armazéns públicos de grandes cidades caso o governo não tome providências contra o desemprego e a fome- dividiu dirigentes da central.
Em nota oficial divulgada ontem, a entidade nega a afirmação de Martins e diz que a central apenas apoiará e prestará solidariedade aos que passam fome.
"A CUT vem a público reafirmar a deliberação de sua Executiva Nacional de não organizar saques, ou outras ações semelhantes, nos centros urbanos", explica a nota, assinada pelo secretário-geral da central, João Antonio Felício.
Na avaliação de Felício, que participou ontem pela manhã de um protesto contra o desemprego em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, Martins cometeu uma "derrapada no vernáculo".
"A CUT não discutiu a organização de saques. Apoiamos, mas não vamos organizar. Não ajudaremos, mas, em situações de desespero, entendemos essas atitudes", declarou o secretário-geral.
Martins manteve ontem sua posição e criticou seus opositores. "Se uma categoria de desempregados disser que quer pegar comida, não hesito em ajudar a organizar e ainda me junto a eles para auxiliar a pegar a comida."
Para a CUT, as declarações de Martins refletem uma "opinião isolada". O sindicalista afirmou que é coerente com a "posição histórica" da entidade.
"Estão desvirtuando a história da central. É fácil dizer que não vão ajudar. A maioria dos dirigentes da CUT e de outros sindicatos nunca passou fome."

"Embaixo da cama"
Apesar de também nunca ter passado pelo problema, o sindicalista disse considerar "a luta dos que têm fome justa".
"Não vou tomar a iniciativa, mas, se o povo chamar a CUT para organizar, vamos estar juntos, vamos dizer para pegar comida. Se houver gente que quiser se omitir...Tenho certeza de que vai haver dirigente entrando embaixo da cama na hora em que os famintos o chamarem para organizar."
Martins é um dos fundadores da entidade e faz parte de sua Executiva Nacional há quatro anos. É membro da Alternativa Sindical Socialista (ASS), uma corrente minoritária na central.


Colaborou Patrícia Andrade, da Reportagem Local



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