São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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PTC mantém praticamente mesmos integrantes do PRN, que entrou em crise depois do impeachment

Garotinho receberá apoio do partido que elegeu Collor em 89

FÁBIO ZANINI
LIEGE ALBUQUERQUE


DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, será apoiado na eleição de outubro pelo antigo partido do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Garotinho fechou uma coligação com o Partido Trabalhista Cristão (PTC), novo nome do PRN (Partido da Reconstrução Nacional), pelo qual Collor foi eleito em 1989 e governou até seu impeachment, em 1992.
Afastado pelo Congresso Nacional depois de um processo de impeachment, Collor hoje está no PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro) e deve ser candidato a senador ou a governador de Alagoas.
O presidente do ex-PRN, atual PTC, é o advogado Daniel Tourinho, que dirigiu a sigla durante todo o governo Collor e era um dos mais próximos colaboradores do então presidente, integrando sua "tropa de choque" durante o impeachment. A mudança de nome ocorreu em abril do ano passado e deveu-se, segundo Tourinho, a uma questão de imagem.
"Temos uma ideologia que mistura o trabalhismo com ideais cristãos e decidimos, após uma extensa reflexão, trocar a sigla e revitalizar a legenda", declarou.
Os quadros do partido, no entanto, mantêm-se praticamente os mesmos. Depois do seu auge no governo Collor, o PRN foi minguando até virtualmente desaparecer. Em 98, não elegeu nenhum deputado federal.

Nacionalismo
O apoio do PTC a Garotinho foi anunciado pelo próprio presidenciável na convenção que oficializou seu nome, realizada no Rio no último fim de semana. O ex-PRN deve oficializar o apoio ao socialista até o final do mês, mas sua decisão política já está tomada.
"Garotinho é o único candidato verdadeiramente nacionalista e que representa o povo brasileiro", diz Tourinho, que afirma conhecer o presidenciável desde os anos 80, quando ele se elegeu pela primeira vez prefeito de Campos (norte do Rio de Janeiro). "Sempre fui seu admirador."
Segundo Tourinho, Collor e Garotinho têm "estilos opostos", mas despertam nele "o mesmo entusiasmo". "Cada um a seu jeito, representam projetos em que acreditei", afirma. Recusando-se a fazer uma avaliação da gestão Collor -"Não olho para trás"-, Tourinho afirma que ainda mantém relações pessoais com o "amigo Fernando".
O PTC e o Partido Socialista Trabalhista (PST) são os únicos até agora a anunciarem coligação com o PSB de Garotinho.
Para um dos coordenadores da campanha de Garotinho, o deputado Alexandre Cardoso (RJ), o fato de a "alma" do PRN estar no PTC não é importante. "Ninguém joga apoio fora."
Cardoso diz que o PTC tem registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e representação nos Estados. "É o que nos interessa, além do caráter de quem participa do partido", afirma, dizendo que não há problema no fato do PTC ter sido o PRN de Collor.
Para ele, o presidenciável tucano, José Serra, está muito mais "envolvido" com Collor do que o ex-PRN. "Acho que uns 60% do apoio ao Serra é de ex-colloridos, como o deputado Antonio Kandir [PSDB-SP" e o senador Bernardo Cabral [PFL-AM]."

Parlamentarismo
Ontem, em palestra na Federação das Câmaras dos Dirigentes Lojistas e das Câmaras dos Diretores Lojistas, Garotinho disse que, se eleito, vai fazer um plebiscito sobre a viabilidade de um regime parlamentarista.
"O que temos hoje é um sistema híbrido que é muito ruim para o Brasil. Quando o presidente quer enfrentar o Legislativo, baixa medidas provisórias. Quando o Legislativo quer enfrentar o presidente, faz decretos", afirmou.
Em seu discurso de cerca de 25 minutos, ele fez críticas ao seu adversário do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. "O que Lula governou até hoje para querer governar o país? Ele está na frente das pesquisas, mas eu, que fui locutor de corrida de cavalo, sei que todo cavalo que sai na frente nunca ganha."



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