São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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Crise econômica não "contamina" convenção

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O risco-país que não pára de subir, o dólar que nem o pacote calmante conseguiu amansar, a discussão cada vez mais aberta sobre eventual reestruturação da dívida interna -nada disso conseguiu penetrar no ginásio Nilson Nelson, em Brasília, no qual o PSDB fez a convenção destinada a entronizar o senador José Serra como candidato presidencial.
Ou por dever de ofício ou por real convicção ou talvez por autismo, os caciques tucanos davam a crise e o nervosismo dos mercados como fatores menores.
Parecia até que suas falas combinavam com a primeira banda a se apresentar na convenção do partido, adequadamente chamada "Falamansa".
A única voz realista pertencia a Milton Seligman, coordenador operacional da campanha: "A crise não é cabo eleitoral, mas também não é ameaça".
Decodificando: há, em setores importantes da campanha tucana, a idéia de que o agravamento da crise beneficia Serra, no pressuposto de que o eleitorado verá nele a experiência e a competência, supostamente inexistentes nos demais, para enfrentá-la.
A frase de Seligman mostra que ou essa idéia é apenas propaganda eleitoral para uso externo ou é uma leitura eventualmente equivocada da realidade.
Seligman, como os demais, no entanto, vende o otimismo inevitável de qualquer comandante de campanha, de qualquer campanha: diz que, embora a crise não funcione como "cabo eleitoral", a mensagem do partido deve ser a de otimismo, a de apontar um caminho de esperança.
A julgar pela análise de uma observadora relativamente neutra (não é convencional), a ex-ministra da Administração Cláudia Costin, o discurso da esperança tem que ser feito também para dentro do partido e da campanha, sob pena de o pessimismo contaminar a todos e vazar para o público externo.
Pimenta da Veiga, o coordenador da campanha, no entanto, exagera na dosagem do otimismo: "Tenho a impressão de que o pior já passou", diz.
Engata com o discurso convencional sobre a solidez da economia brasileira, incomparavelmente maior que a dos vizinhos.
A Folha observa que, se a solidez de fato existe, os mercados não estão percebendo, tanto que jogaram o país para perto da Nigéria em matéria de risco-país. "A percepção vai mudar rapidamente, assim que ficar claro que o Serra vai ganhar", rebate Pimenta.
Ele jura que, pelas pesquisas de que o partido dispõe, a ultrapassagem de Luiz Inácio Lula da Silva por Serra está na primeira curva da esquina, palpite temerário quando se considera que as intenções de voto de Lula duplicam as de Serra, no último Datafolha.
O também ex-ministro Clóvis Carvalho é outro que não parece nada nervoso com o nervosismo dos mercados. Diz que o governo tem todos os instrumentos para enfrentar as dificuldades, além de experiência em crises anteriores.
Na sua opinião, é um arsenal poderoso. "Não é excesso de otimismo?", pergunta a Folha. Clóvis Carvalho dá uma resposta no mais típico linguajar tucano: "Não é otimismo, é confiança".
Seja otimismo, seja confiança, pelo menos no sábado, dia aliás em que não funcionam os mercados, funcionou como uma blindagem e não deixou a crise contaminar a festa.



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