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FRATURA ALIADA
Reunião expõe divisão entre ex-governador e cúpula do PSB, seu partido, que faz parte da base de apoio ao governo
Garotinho prefere ser expulso a apoiar Lula
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Depois de uma reunião de duas
horas e meia com dirigentes do
PSB, o secretário de Segurança
Pública do Rio, Anthony Garotinho, disse ontem que prefere ser
expulso do partido a mudar suas
opiniões e suas críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT).
Garotinho afirmou também
que manterá o ato de amanhã no
Rio, intitulado "Acorda, Lula, antes que seja tarde", para cobrar
coerência do governo federal com
suas promessas de campanha.
Na reunião, realizada no Palácio
das Laranjeiras, ficaram ainda
mais explícitas as diferenças entre
o PSB e Garotinho, ex-governador do Rio e candidato derrotado
do partido à Presidência da República, por causa da posição em relação ao governo Lula.
O ex-governador critica duramente a política econômica e as
reformas. Como partido aliado, o
PSB entende que as discussões devem ser feitas dentro da base governista e questiona as críticas públicas de Garotinho.
Como os dois lados se mantiveram irredutíveis, o caso será levado hoje à Executiva Nacional do
partido, para que decida sobre o
que fazer com Garotinho.
De manhã, Garotinho chegou a
afirmar: "Se for para me calar, eu
prefiro ser expulso. Se o PSB me
colocar diante de um dilema, vou
pedir que me expulsem. Eu quero
ser coerente com a minha vida. Já
troquei de partido, mas nunca
troquei de lado".
Questionado sobre isso na entrevista coletiva, à noite, disse que
repetira a afirmação sobre sua saída aos parlamentares do partido.
"Não temos poder para isso ainda", afirmou o deputado federal
Renato Casagrande (PSB-ES).
No início da entrevista, Casagrande e o deputado federal Beto
Albuquerque (PSB-RS) tentaram
amenizar o tom, reconhecendo
que havia uma diferença de opinião entre eles e Garotinho e afirmando que buscariam o caminho
da unidade.
Também participaram da reunião a deputada federal Luiza
Erundina (SP), o senador João
Capiberibe (AP) e o presidente do
PSB no Rio, Alexandre Cardoso.
Decepção
Quando Garotinho começou a
falar, repetiu as críticas em tom
ainda mais forte e disse que havia
uma "profunda decepção" com o
governo Lula.
Acusou o governo federal de fazer uma opção pelo capital financeiro, repetir a agenda do governo
de Fernando Henrique Cardoso e
agir de forma autoritária com
quem discorda de suas posições.
Informou então, que o "Acorda,
Lula" estava mantido para amanhã, às 11h, nas escadarias da Assembléia Legislativa. Disse que o
ato não é contra Lula, mas para
pedir o cumprimento da agenda
da campanha.
Depois, aconselhou Lula a ler
"A Revolução dos Bichos", de
George Orwell, "que mostra o que
aconteceu com aqueles que tomaram o poder com uma perspectiva e chegando lá fizeram tudo diferente". "Está se implantando no
Brasil uma censura", afirmou Garotinho. Visivelmente constrangidos, os outros parlamentares repetiram que tudo seria levado à
Executiva Nacional. Cardoso encerrou abruptamente a entrevista,
levantando-se da mesa.
Albuquerque alegou que precisava sair, ou perderia o vôo. "Não
viemos aqui para decidir em relação a ato, mas o partido não pode
conviver com dicotomias", afirmou Albuquerque.
O ex-governador está cada vez
mais isolado no PSB. Há 20 dias,
reuniu-se com o presidente nacional do partido, Miguel Arraes,
mas a crise se acentuou. Garotinho chegou também a discutir
sua ida para o PMDB e o PDT.
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