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São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2003

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FRATURA ALIADA

Reunião expõe divisão entre ex-governador e cúpula do PSB, seu partido, que faz parte da base de apoio ao governo

Garotinho prefere ser expulso a apoiar Lula

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de uma reunião de duas horas e meia com dirigentes do PSB, o secretário de Segurança Pública do Rio, Anthony Garotinho, disse ontem que prefere ser expulso do partido a mudar suas opiniões e suas críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Garotinho afirmou também que manterá o ato de amanhã no Rio, intitulado "Acorda, Lula, antes que seja tarde", para cobrar coerência do governo federal com suas promessas de campanha.
Na reunião, realizada no Palácio das Laranjeiras, ficaram ainda mais explícitas as diferenças entre o PSB e Garotinho, ex-governador do Rio e candidato derrotado do partido à Presidência da República, por causa da posição em relação ao governo Lula.
O ex-governador critica duramente a política econômica e as reformas. Como partido aliado, o PSB entende que as discussões devem ser feitas dentro da base governista e questiona as críticas públicas de Garotinho.
Como os dois lados se mantiveram irredutíveis, o caso será levado hoje à Executiva Nacional do partido, para que decida sobre o que fazer com Garotinho.
De manhã, Garotinho chegou a afirmar: "Se for para me calar, eu prefiro ser expulso. Se o PSB me colocar diante de um dilema, vou pedir que me expulsem. Eu quero ser coerente com a minha vida. Já troquei de partido, mas nunca troquei de lado".
Questionado sobre isso na entrevista coletiva, à noite, disse que repetira a afirmação sobre sua saída aos parlamentares do partido. "Não temos poder para isso ainda", afirmou o deputado federal Renato Casagrande (PSB-ES).
No início da entrevista, Casagrande e o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS) tentaram amenizar o tom, reconhecendo que havia uma diferença de opinião entre eles e Garotinho e afirmando que buscariam o caminho da unidade.
Também participaram da reunião a deputada federal Luiza Erundina (SP), o senador João Capiberibe (AP) e o presidente do PSB no Rio, Alexandre Cardoso.

Decepção
Quando Garotinho começou a falar, repetiu as críticas em tom ainda mais forte e disse que havia uma "profunda decepção" com o governo Lula.
Acusou o governo federal de fazer uma opção pelo capital financeiro, repetir a agenda do governo de Fernando Henrique Cardoso e agir de forma autoritária com quem discorda de suas posições.
Informou então, que o "Acorda, Lula" estava mantido para amanhã, às 11h, nas escadarias da Assembléia Legislativa. Disse que o ato não é contra Lula, mas para pedir o cumprimento da agenda da campanha.
Depois, aconselhou Lula a ler "A Revolução dos Bichos", de George Orwell, "que mostra o que aconteceu com aqueles que tomaram o poder com uma perspectiva e chegando lá fizeram tudo diferente". "Está se implantando no Brasil uma censura", afirmou Garotinho. Visivelmente constrangidos, os outros parlamentares repetiram que tudo seria levado à Executiva Nacional. Cardoso encerrou abruptamente a entrevista, levantando-se da mesa.
Albuquerque alegou que precisava sair, ou perderia o vôo. "Não viemos aqui para decidir em relação a ato, mas o partido não pode conviver com dicotomias", afirmou Albuquerque.
O ex-governador está cada vez mais isolado no PSB. Há 20 dias, reuniu-se com o presidente nacional do partido, Miguel Arraes, mas a crise se acentuou. Garotinho chegou também a discutir sua ida para o PMDB e o PDT.



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