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JANIO DE FREITAS
Envelope sem segredo
Professor de altos estudos
econômicos, diretor de uma
consultoria e de uma empresa
de investimentos, a isto temperando como colaborador
permanente na "Opinião
Econômica" da Folha, Luís
Paulo Rosenberg deu desdobramento de técnico, em artigo de ontem, às minhas observações espantadas com o ridículo e suspeito preço fixado
pelo governo para a banda B
de celular em São Paulo, mais
de quatro vezes inferior ao
que o consórcio orientado pela multinacional BellSouth se
dispôs a pagar.
Rosenberg "reivindica um
lugar no corredor polonês dos
que atacam a forma como se
conduz a privatização no
Brasil", por entender que as
avaliações não adotam critérios adequados e por conceber, ele próprio, um sistema
capaz de avaliações muito
mais fiéis ao valor comercial
do patrimônio privatizável. O
seu ou outro método sério só
terá efeito, porém, se culminar
em leilão. Mas leilão mesmo,
a disputa frontal e pública entre os lances sucessivos dos interessados.
A proposta em envelope fechado, como o governo está
fazendo com o nome de leilão,
não é nem "leilão" assim em
aspas. É o mesmo processo das
concorrências. E não é só por
tal semelhança que torna possíveis vigarices tão criminosas
quanto de difícil comprovação. Vamos a uma dessas possibilidades, já acontecida,
mas não divulgada, por falta
das comprovações necessárias.
No acordo com o representante do governo, o interessado estabelece o preço máximo
que admite pagar. Digamos,
R$ 1,5 bilhão. O responsável
pela venda determina, então,
em R$ 400 milhões o preço
mínimo, ou seja, o preço a
partir do qual aceita vender o
bem. Os interessados, exceto o
do acordo, fazem ofertas, claro, acima do preço mínimo,
mas jamais deixando de tomá-lo como referência. Não
chegarão a oferecer três ou
quatro vezes o preço pedido,
que é, afinal de contas, a avaliação estabelecida por quem
mais quereria um preço alto.
Mas o envelope de quem fez o
acordo trará a proposta lá em
cima, na medida da sua própria e realista avaliação.
O método do envelope não
garante a lisura de uma privatização, como têm dito o
ministro Sérgio Motta e o senador José Serra. A lisura começa pela avaliação e se conclui pela competição limpa
entre os interessados.
O lugar do erro
Se a crise financeira de países asiáticos demonstra algum erro aqui, o errado não
é, como quer Sérgio Motta, o
Gustavo Franco. Errada seria
a política econômico-financeira do governo e quem a faz
adotar, ao escolhê-la entre as
que são sugeridas.
Gustavo Franco, diretor de
área internacional do Banco
Central, apenas faz suas propostas, até agora aplaudidas,
adotadas e defendidas por todo o governo, sobretudo por
Fernando Henrique Cardoso
e Pedro Malan. Contra muitas opiniões de peso.
Os técnicos
Afinal soubemos ontem, por
importante articulista, que
"no caso da TAM já há uma
certeza: foi uma explosão".
Sendo a informação procedente de área atucanada, logo, íntima dos ares do país,
pode-se ter certeza de que o
estrondo ouvido pelos passageiros e o rombo não foram
causados pelo choque de um
pardal com a fuselagem. Melhor assim.
No acidente anterior com
avião da Fokker, os jornalistas usaram seus inesgotáveis
conhecimentos aeronáuticos
para criar, com suas explicações e análises técnicas, uma
balbúrdia prejudicial a todos
e a tudo. Logo que surgiu a
hipótese de uma bomba plástica, um dos grandes jornais
fez nada menos do que publicar como se faz um petardo
desses, até usando componentes tão simples, que podem ser
comprados como material de
construção.
Já a maior vítima foi posta
sob suspeitas graves. Não bastou. O jornalismo está excitado outra vez.
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