São Paulo, quarta, 16 de julho de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS
Envelope sem segredo

Professor de altos estudos econômicos, diretor de uma consultoria e de uma empresa de investimentos, a isto temperando como colaborador permanente na "Opinião Econômica" da Folha, Luís Paulo Rosenberg deu desdobramento de técnico, em artigo de ontem, às minhas observações espantadas com o ridículo e suspeito preço fixado pelo governo para a banda B de celular em São Paulo, mais de quatro vezes inferior ao que o consórcio orientado pela multinacional BellSouth se dispôs a pagar.
Rosenberg "reivindica um lugar no corredor polonês dos que atacam a forma como se conduz a privatização no Brasil", por entender que as avaliações não adotam critérios adequados e por conceber, ele próprio, um sistema capaz de avaliações muito mais fiéis ao valor comercial do patrimônio privatizável. O seu ou outro método sério só terá efeito, porém, se culminar em leilão. Mas leilão mesmo, a disputa frontal e pública entre os lances sucessivos dos interessados.
A proposta em envelope fechado, como o governo está fazendo com o nome de leilão, não é nem "leilão" assim em aspas. É o mesmo processo das concorrências. E não é só por tal semelhança que torna possíveis vigarices tão criminosas quanto de difícil comprovação. Vamos a uma dessas possibilidades, já acontecida, mas não divulgada, por falta das comprovações necessárias.
No acordo com o representante do governo, o interessado estabelece o preço máximo que admite pagar. Digamos, R$ 1,5 bilhão. O responsável pela venda determina, então, em R$ 400 milhões o preço mínimo, ou seja, o preço a partir do qual aceita vender o bem. Os interessados, exceto o do acordo, fazem ofertas, claro, acima do preço mínimo, mas jamais deixando de tomá-lo como referência. Não chegarão a oferecer três ou quatro vezes o preço pedido, que é, afinal de contas, a avaliação estabelecida por quem mais quereria um preço alto. Mas o envelope de quem fez o acordo trará a proposta lá em cima, na medida da sua própria e realista avaliação.
O método do envelope não garante a lisura de uma privatização, como têm dito o ministro Sérgio Motta e o senador José Serra. A lisura começa pela avaliação e se conclui pela competição limpa entre os interessados.
O lugar do erro
Se a crise financeira de países asiáticos demonstra algum erro aqui, o errado não é, como quer Sérgio Motta, o Gustavo Franco. Errada seria a política econômico-financeira do governo e quem a faz adotar, ao escolhê-la entre as que são sugeridas.
Gustavo Franco, diretor de área internacional do Banco Central, apenas faz suas propostas, até agora aplaudidas, adotadas e defendidas por todo o governo, sobretudo por Fernando Henrique Cardoso e Pedro Malan. Contra muitas opiniões de peso.
Os técnicos
Afinal soubemos ontem, por importante articulista, que "no caso da TAM já há uma certeza: foi uma explosão". Sendo a informação procedente de área atucanada, logo, íntima dos ares do país, pode-se ter certeza de que o estrondo ouvido pelos passageiros e o rombo não foram causados pelo choque de um pardal com a fuselagem. Melhor assim.
No acidente anterior com avião da Fokker, os jornalistas usaram seus inesgotáveis conhecimentos aeronáuticos para criar, com suas explicações e análises técnicas, uma balbúrdia prejudicial a todos e a tudo. Logo que surgiu a hipótese de uma bomba plástica, um dos grandes jornais fez nada menos do que publicar como se faz um petardo desses, até usando componentes tão simples, que podem ser comprados como material de construção.
Já a maior vítima foi posta sob suspeitas graves. Não bastou. O jornalismo está excitado outra vez.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.