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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ NOVAS VERSÕES
Em depoimento a procurador-geral da República, tesoureiro afastado aponta contabilidade paralela em todas as campanhas petistas, menos na de Lula
Só Lula fez campanha legal, diz ex-tesoureiro
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
O tesoureiro do PT afastado,
Delúbio Soares, admitiu ontem
que as campanhas do PT em todo
o país foram financiadas por recursos que vieram de caixa dois
-isto é, foram financiadas de
maneira ilegal, com dinheiro não
registrado na Justiça Eleitoral.
Delúbio disse ainda que, nas
campanhas mais recentes, boa
parte do dinheiro foi obtida por
meio de empréstimos tomados
pelo empresário Marcos Valério,
que repassava tais recursos ao
Partido dos Trabalhadores.
Delúbio fez as afirmações em
depoimento voluntário, prestado
ontem à Procuradoria Geral da
República, em Brasília. A Folha
apurou que o ex-tesoureiro do PT
tomou a decisão de revelar a origem dos recursos das campanhas
eleitorais petistas devido ao depoimento de Marcos Valério, anteontem, em Brasília.
Valério também falou à Procuradoria Geral da República. O empresário, sócio de empresas de
publicidade, foi acusado em entrevista de Roberto Jefferson
(PTB-RJ) à Folha de ser o principal operador do "mensalão", suposta propina paga por ordem do
PT e de integrantes do governo federal a parlamentares governistas
no Congresso.
Depois de ter omitido empréstimos ao PT em seu depoimento na
CPI dos Correios, na Procuradoria Valério deu versão semelhante
à de Delúbio: as empresas do publicitário tomariam empréstimos
em bancos e repassariam os recursos ao PT.
Segundo a versão de Delúbio, as
campanhas petistas não seriam financiadas com recursos públicos
ou com dinheiro recolhido por
meio do superfaturamento de
despesas de empresas estatais. Segundo o argumento de Delúbio,
se o PT tivesse obtido seus recursos por meio de corrupção no setor público não teria sido necessário sujeitar-se às altas taxas de juros vigentes no país.
A Folha apurou ainda que Delúbio não especificou o nome dos
candidatos do PT que receberam
dinheiro clandestino em suas
campanhas -mas deixou claro
que foram "todos".
Fez apenas uma ressalva: a única campanha do partido que não
teve finanças paralela foi, segundo
ele, a do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva em 2002. Isso porque, de acordo com o tesoureiro
afastado, Lula era um candidato
tão forte que todos os financiadores queriam contribuir "por dentro", ou seja, de forma oficial.
Lula concorreu à Presidência
também em 1989, 1994 e 1998,
mas Delúbio não fez referência a
essas campanhas.
Esquema para tucanos
O tesoureiro afastado afirmou
ainda que a prática do caixa dois é
generalizada e adotada por todos
os partidos do Brasil. Delúbio
mencionou a participação de Valério no financiamento das campanhas de Eduardo Azeredo
(PSDB) ao governo de Minas Gerais, em 1998, e na campanha de
Aécio Neves (PSDB-MG) a deputado federal, no mesmo ano.
Azeredo hoje é senador e preside o PSDB. Aécio, governador de
Minas Gerais. Delúbio afirmou
que a participação do empresário
nas campanhas tucanas foi relatada a ele pelo próprio Valério.
Delúbio disse ainda que prestou
essas declarações à Procuradoria
como contribuição para a reflexão que a sociedade e o Congresso
Nacional devem fazer sobre a realidade dos financiamentos eleitorais e da manutenção dos partidos políticos no país.
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