São Paulo, sábado, 16 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ NOVAS VERSÕES

Em depoimento a procurador-geral da República, tesoureiro afastado aponta contabilidade paralela em todas as campanhas petistas, menos na de Lula

Só Lula fez campanha legal, diz ex-tesoureiro

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

O tesoureiro do PT afastado, Delúbio Soares, admitiu ontem que as campanhas do PT em todo o país foram financiadas por recursos que vieram de caixa dois -isto é, foram financiadas de maneira ilegal, com dinheiro não registrado na Justiça Eleitoral.
Delúbio disse ainda que, nas campanhas mais recentes, boa parte do dinheiro foi obtida por meio de empréstimos tomados pelo empresário Marcos Valério, que repassava tais recursos ao Partido dos Trabalhadores.
Delúbio fez as afirmações em depoimento voluntário, prestado ontem à Procuradoria Geral da República, em Brasília. A Folha apurou que o ex-tesoureiro do PT tomou a decisão de revelar a origem dos recursos das campanhas eleitorais petistas devido ao depoimento de Marcos Valério, anteontem, em Brasília.
Valério também falou à Procuradoria Geral da República. O empresário, sócio de empresas de publicidade, foi acusado em entrevista de Roberto Jefferson (PTB-RJ) à Folha de ser o principal operador do "mensalão", suposta propina paga por ordem do PT e de integrantes do governo federal a parlamentares governistas no Congresso.
Depois de ter omitido empréstimos ao PT em seu depoimento na CPI dos Correios, na Procuradoria Valério deu versão semelhante à de Delúbio: as empresas do publicitário tomariam empréstimos em bancos e repassariam os recursos ao PT.
Segundo a versão de Delúbio, as campanhas petistas não seriam financiadas com recursos públicos ou com dinheiro recolhido por meio do superfaturamento de despesas de empresas estatais. Segundo o argumento de Delúbio, se o PT tivesse obtido seus recursos por meio de corrupção no setor público não teria sido necessário sujeitar-se às altas taxas de juros vigentes no país.
A Folha apurou ainda que Delúbio não especificou o nome dos candidatos do PT que receberam dinheiro clandestino em suas campanhas -mas deixou claro que foram "todos".
Fez apenas uma ressalva: a única campanha do partido que não teve finanças paralela foi, segundo ele, a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Isso porque, de acordo com o tesoureiro afastado, Lula era um candidato tão forte que todos os financiadores queriam contribuir "por dentro", ou seja, de forma oficial.
Lula concorreu à Presidência também em 1989, 1994 e 1998, mas Delúbio não fez referência a essas campanhas.

Esquema para tucanos
O tesoureiro afastado afirmou ainda que a prática do caixa dois é generalizada e adotada por todos os partidos do Brasil. Delúbio mencionou a participação de Valério no financiamento das campanhas de Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas Gerais, em 1998, e na campanha de Aécio Neves (PSDB-MG) a deputado federal, no mesmo ano.
Azeredo hoje é senador e preside o PSDB. Aécio, governador de Minas Gerais. Delúbio afirmou que a participação do empresário nas campanhas tucanas foi relatada a ele pelo próprio Valério.
Delúbio disse ainda que prestou essas declarações à Procuradoria como contribuição para a reflexão que a sociedade e o Congresso Nacional devem fazer sobre a realidade dos financiamentos eleitorais e da manutenção dos partidos políticos no país.


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