São Paulo, sábado, 16 de julho de 2005

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QUEIMA DE ARQUIVO

Documentos da DNA, da qual Marcos Valério é sócio, são encontrados em calçada em Minas

Polícia encontra mais faturas queimadas

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

A Polícia Civil de Minas Gerais e o Ministério Público do Estado apreenderam ontem mais documentos da agência de publicidade DNA Propaganda, da qual o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza é sócio, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Os documentos -faturas referentes a serviços prestados pela empresa- foram recolhidos entre montes de papel queimado. Estavam sobre uma calçada de terra, em um bairro vizinho ao da casa do irmão do contador de Marcos Valério, na qual ocorreu anteontem uma apreensão de milhares de notas fiscais da DNA Propaganda.
Marcos Valério é acusado de ser o operador do "mensalão", suposto esquema de pagamento de mesada, pelo PT, a parlamentares da base aliada em troca de apoio político na Câmara.
Segundo o delegado-corregedor Elder Dângelo, que participou da apreensão, a disposição dos papéis na calçada indica que eles teriam sido queimados no local. Em cerca de dez montes de papel carbonizado, a polícia recolheu cinco envelopes de pedaços intactos. "O [material] que se salvou foi movido pelo vento, e queimou só um pedaço", afirmou Elder Dângelo.
O delegado disse que foi possível identificar faturas emitidas pela DNA para o Banco do Brasil, Eletronorte, Ministério do Trabalho e Telemig Celular.
Um morador da região encontrou o material e ligou para uma TV local, que acionou a Polícia Civil. Na rua em que os papéis foram encontrados, no bairro Jardim Riacho, não há casas, apenas indústrias.
Segundo a Polícia Civil, o local fica a cinco minutos de carro da casa do ex-policial Marco Túlio Prata, 50, o Pratinha, irmão do contador de Marcos Valério.
Pratinha é acusado de homicídio -teria matado um homem no ano passado dentro do maior pronto-socorro de Minas- e foi preso anteontem.
Na casa dele, a polícia encontrou 17 armas, além de munição, granadas, silenciadores e um rádio transmissor. Em dois tambores, foram encontrados vestígios de papel queimado, nos quais foi possível identificar o timbre da DNA.

Escuta telefônica
De acordo com o Ministério Público, uma escuta telefônica autorizada pela Justiça na casa de Pratinha revelou conversas entre ele e seu irmão, o contador Marco Aurélio Prata, sobre o extravio dos documentos.
Para Dângelo, a nova apreensão enfraquece a versão do advogado de Pratinha, José Cavalcante, sobre a queima dos documentos na casa do ex-policial. Segundo Cavalcante, que não foi localizado ontem, uma diarista teria queimado os papéis.
"Se foi, a mesma diarista foi ao mesmo local [queimar os documentos encontrados ontem]", disse o delegado.
O material encontrado ontem será periciado pela Polícia Civil mineira, que investiga o crime de supressão de documento. Depois será repassado ao Ministério Público do Estado, que apura eventuais irregularidades em contratos de empresas de Valério com órgãos públicos.
O promotor Geraldo Ferreira afirmou que, como havia fragmentos de documentos datados de menos de cinco anos, ficou caracterizado crime de supressão de documentos. Em alguns documentos era possível ler as palavras "autorização Marcos Valério". A DNA Propaganda não se manifestou sobre a apreensão.


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