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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO BANCÁRIA
Material apreendido pela PF no arquivo morto do banco dá pistas para identificar sacadores do dinheiro que serviria para o "mensalão"
Assessores parlamentares sacaram do Rural
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O material apreendido pela Polícia Federal no arquivo morto do
Banco Rural revela que o dinheiro
suspeito de ser usado para o pagamento do suposto "mensalão" foi
sacado das contas da SMPB por
assessores, motoristas, secretários
e parentes de parlamentares.
A documentação no arquivo
morto do Rural, em Lagoa Santa
(MG), resgata o caminho do dinheiro, até agora ignorado inclusive pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
Em Brasília, a PF montou uma
espécie de força-tarefa para analisar o material, que foi autuado
nos dois últimos dias e se encontra sob a guarda do juiz Jorge Macedo Costa, da 4ª Vara da Justiça
Federal em Belo Horizonte.
A expectativa é que o juiz libere
o material no início da próxima
semana, quando então será encaminhado para Brasília.
Os investigadores pretendem,
em cerca de cinco dias, identificar
e ouvir os sacadores, para chegar
ao destinatários finais do dinheiro
sacado das contas do publicitário
Marcos Valério Fernandes de
Souza, sócio das agências SMPB e
DNA, donas de contas de órgãos
públicos.
Sacadores
Os documentos apreendidos
confirmam como sacadores nomes já conhecidos, como João
Cláudio de Carvalho Genu, chefe-de-gabinete do líder do PP, deputado José Janene (PR), e Jacinto
Lamas, ex-tesoureiro do PL.
Lamas fez pelo menos dez visitas à agência do Rural no Brasília
Shopping, na capital federal, local
em que, segundo o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), seriam
feitos os saques do "mensalão".
Conforme os registros de entrada e saída do prédio do shopping,
Genu esteve uma vez no local.
Segundo relatório do Coaf, entre 2003 e 2005, foram sacados R$
20,9 milhões em espécie das contas das empresas de Valério.
Em entrevista à Folha, em junho, Jefferson disse que deputados do PP e PL receberiam uma
mesada em troca de apoio.
A PF elegeu o Rural como a
principal linha de investigação sobre o caso. Nesse caminho, foi decisivo o depoimento do ex-tesoureiro do Rural em Brasília José
Francisco de Almeida Rego.
Em depoimento à PF no dia 6,
Rego contou como eram os procedimentos do Rural e indicou o
arquivo morto como última parada de documentos antes da incineração. Lá estariam os registros
sobre os saques, independentemente da agência em que teriam
sido feitos e da ausência das informações nos relatórios do Coaf.
O dinheiro, sacado na boca do
caixa em Brasília, era transferido
da conta da SMPB no Rural de Belo Horizonte. Segundo o ex-funcionário da instituição, as remessas, inicialmente esporádicas, de
R$ 50 mil a R$ 80 mil, começaram
em 2002 e ficaram maiores a partir do início de 2003, quando chegaram a ultrapassar R$ 200 mil.
As informações de Rego desencadearam uma sigilosa operação
policial, que culminou, na quarta-feira, com ações de busca e
apreensão de documentos nas
agências do Rural em Brasília e
em Belo Horizonte, com autorização do juiz Jorge Macedo Costa.
Ao deferir o pedido policial, o
juiz consignou no despacho que o
material arrecadado deveria ser
encaminhado à Justiça para autuação e, somente depois, seguiria
para análise da PF.
O material apreendido em Brasília, segundo a PF, em uma análise preliminar, não traz elementos
que permitam identificar o nome
dos sacadores.
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