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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ANO BRASILEIRO
Presidente da França diz a jornalistas que não é habitual falar sobre problemas internos durante uma reunião internacional
Chirac protege Lula de pergunta sobre crise
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
O presidente francês Jacques
Chirac estendeu o carinho com
que recebeu seu colega brasileiro
Luiz Inácio Lula da Silva ao "point
de presse" (o jargão francês para
breve contato com os jornalistas)
que os dois mantiveram ontem
no início da tarde, ao evitar que o
presidente brasileiro respondesse
a uma pergunta sobre a crise política no Brasil.
A pergunta buscava uma "reflexão" dos dois governantes sobre o
mau momento que ambos vivem.
Chirac, pela derrota do "sim" no
recente referendo sobre a Constituição européia, reflexo de sua
baixa popularidade. Lula, pelos
motivos arqui-conhecidos por todos no Brasil. Mas Chirac, entre
irritado e mordaz, disse que notava como o tema das relações Brasil/França "eletrizava" os jornalistas e despachou a pergunta:
"Não tenho o hábito, e creio que
o presidente Lula também não, de
comentar problemas políticos internos quando de uma reunião
internacional".
Não é bem verdade: em todas as
cúpulas da União Européia e do
G8 (os sete países mais ricos do
mundo e a Rússia), Chirac e os demais mandatários comentam,
sim, assuntos internos, em meio
às discussões internacionais.
Mas Lula aproveitou a deixa para também descartar a pergunta.
"O presidente Chirac tem razão",
disse ele. "Penso que os três dias
que passamos aqui foram demasiadamente fortes para que vocês
tenham perguntas a fazer sobre a
relação Brasil-França. Os problemas do Brasil, tratarei com muito
prazer quando chegar ao Brasil".
O "point de presse" foi o único
momento, nos três dias da viagem
à França, em que os jornalistas teriam a chance de fazer perguntas
sobre a crise que monopoliza a
atenção no Brasil, já que Lula, em
nenhum outro momento, conversou com os repórteres.
O único membro da comitiva
que concordou em tratar desse
assunto foi o ministro demissionário da Educação e novo presidente do PT, Tarso Genro.
Ontem, Tarso aproveitou para
criticar duramente a afirmação do
líder do PSDB no Senado, Arthur
Virgílio, que em discurso anteontem disse que "o presidente Lula
ou é idiota ou é corrupto".
Enquanto Lula subia em um
banquinho para ver o interior de
uma réplica do 14-Bis, o primeiro
avião a voar no mundo (1906),
projetado pelo brasileiro Santos
Dumont, no Museu do Ar e do Espaço, Tarso atacava a declaração
de Virgílio como "irresponsável e
inaceitável". Deu até um conselho
ao senador tucano: "As pessoas
maduras e inteligentes põem a cabeça no freezer antes de fazer esse
tipo de declaração".
Mesmo duro, o novo presidente
petista conseguiu ser conciliador,
ao dizer que tinha a certeza de que
o líder tucano no Senado "vai revisar a sua afirmação, que atinge
um homem honrado como o presidente da República, que tem se
portado com muito respeito pela
oposição". Genro acha que esse tipo de declaração prejudica mais a
própria oposição que o governo.
"Ela é que se desgasta."
Sobre as informações de que líderes do PT ou pessoas próximas
a eles foram detectadas no Banco
Rural, em Brasília (em um levantamento do deputado do PFL fluminense Rodrigo Maia), a famosa
agência em que o empresário
Marcos Valério sacava dinheiro
em abundantes quantias, Tarso limitou-se ao que parece ser a frase
padrão do PT doravante:
"Defendo a apuração de todas
as denúncias, seja quem for a pessoa denunciada, seja qual for o
partido, seja qual for o motivo da
eventual irregularidade".
Relato aos socialistas
Antes, a crise brasileira já havia
sido discutida entre Lula, parte de
sua comitiva e o secretário-geral
do Partido Socialista (PS) francês,
François Hollande, que os visitou
na Residence Marigny, a casa de
hóspedes do governo da França.
Lula fez ao líder socialista um
relato sobre a situação, que o seu
assessor para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia,
definiu como "jornalístico". Ou
seja, puramente factual, sem
maiores comentários.
Hollande não se mostrou particularmente espantado, até porque o PS da França teve problemas de irregularidades vinculadas a financiamento eleitoral.
Ele lembrou que um de seus antecessores, Henri Emmanueli,
chegou a ser declarado inelegível
por dois anos, como conseqüência desse tipo de irregularidade.
Lula, ao menos na reconstituição de Garcia, é que foi menos
condescendente, ao dizer que o
PT já estava tomando as devidas
providências e que elas têm mesmo que ser tomadas.
Pelo menos na versão de diferentes auxiliares de Lula, a crise
brasileira só surgiu, nas reuniões
mantidas na França, durante a
conversa com o socialista Hollande, assim mesmo por iniciativa do
próprio presidente.
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