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Cardozo, do PT, agiu por interesse de Dantas
Mensagem entre executivos da BrT revela que José Eduardo Cardozo usou cargo de deputado para pedir ação favorável a banqueiro
Deputado pede ajuda a executivos da BrT e, 9 dias depois, empresa contrata advogado amigo de Dirceu, por R$ 5,3 mi, para o caso
ANDRÉA MICHAEL
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Troca de correspondências
entre executivos da Brasil Telecom na gestão do Opportunity
mostra que o deputado federal
José Eduardo Cardozo (SP),
hoje secretário-geral do PT,
usou prerrogativas de seu mandato para defender interesses
do banqueiro Daniel Dantas.
Com o auxílio de executivos
da companhia telefônica, Cardozo, na condição de deputado,
solicitou ao Ministério Público
Federal, em julho de 2003, que
movesse ações contra a troca
de controle da CRT (Companhia Riograndense de Telecomunicações).
A representação do deputado
partiu da mesma tese que Dantas passou defender publicamente em 2003, de que a BrT
(Brasil Telecom) pagou um
preço excessivo pela CRT (US$
800 milhões), comprada da espanhola Telefónica em 2000,
devido a pressões políticas no
governo de Fernando Henrique Cardoso. Como a Telefónica havia entrado no mercado
paulista nas privatizações de
1998, a lei do setor de telefonia
não permitia que a empresa
mantivesse suas operações no
Rio Grande do Sul.
Um ano depois da representação, em agosto de 2004, diante da iminência de que o caso
fosse arquivado, Cardozo pediu
ajuda aos então executivos da
BrT na condução dos procedimentos administrativos.
"O julgamento reinicia-se no
dia 23 ou 30 (a confirmar). Há
forte pressão pelo arquivamento. Zé pediu para reunir-se comigo, com brevidade, para definir postura/ações; ele entende
que, sem fatos novos, será impossível reverter-se a decisão",
escreveu a um executivo Sami
Arap Sobrinho, então diretor
jurídico da BrT, no dia 17 de
agosto daquele ano.
Amigo de Dirceu
A mensagem foi detectada
numa auditoria realizada na
BrT após o final da gestão do
Opportunity. O "Zé" citado no
texto é o deputado petista. Nove dias depois do pedido de ajuda feito por Cardozo, a BrT
contratou, no dia 26 daquele
mês, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay,
por R$ 5,3 milhões, para prestar "serviços de assessoria jurídica na condução e acompanhamento" justamente nos
procedimentos administrativos no Ministério Público iniciados a partir da solicitação do
deputado petista.
Conforme a Folha publicou
ontem, a auditoria na BrT não
conseguiu localizar nenhum
elemento concreto de que Kakay, amigo do ex-ministro José
Dirceu (PT), tenha efetivamente prestado serviços nesse caso,
muito menos que justificassem
o recebimento de R$ 5,3 milhões. Dantas considera a auditoria enviesada.
A mensagem em que aparece
o nome de Cardozo foi enviada
por Sami Arap a Humberto José da Rocha Braz, na época diretor da BrT. Depois de cinco
dias foragido, Braz se entregou
no domingo à PF. Ele teve prisão decretada por ter sido flagrado tentando corromper um
delegado em nome de Dantas.
À Folha, Cardozo admitiu
ter tido a ajuda de advogados
da BrT e de ter conversado com
Sami Arap. Mas disse ter feito a
representação em prol dos fundos de pensão estatais, entre os
quais a Previ (Banco do Brasil),
sócios da BrT. Afirma também
que nunca conversou com Kakay sobre a representação ao
Ministério Público.
"Se a representação que eu
fiz serviu a interesses empresariais, não me importou nem me
importa. Todo homem público
que recebe uma denúncia fundamentada, como recebi, tem
que tomar providências. Se não
fizer isso, comete o crime de
prevaricação", disse Cardozo.
Buraco
Há, contudo, um buraco na
explicação. Os dirigentes dos
fundos não contestaram a compra da CRT e declararam ao Ministério Público não ter tido
prejuízos com o negócio. Segundo a Folha apurou, os dirigentes dos três grandes fundos
estatais (Previ, Petros [Petrobras] e Funcef [Caixa Econômica Federal]), todos petistas,
não pediram ajuda de Cardozo
no assunto e sempre viram a
atuação do deputado como algo
em benefício do Opportunity.
Cardozo disse que inicialmente recebeu, em caráter
anônimo, informações segundo as quais os fundos de pensão
de estatais teriam adquirido a
CRT em um negócio superfaturado em R$ 250 milhões, por
pressão da Telecom Italia, também integrante da composição
societária da BrT.
Agora ele diz ter certeza de
que sua fonte anônima de informação sempre foram advogados da BrT, os quais posteriormente o procuraram e o ajudaram a alimentar sua ação
no Ministério Público.
Cardozo requisitou abertura
de investigação nas áreas cível
e criminal. Na primeira, o caso
foi arquivado em agosto de
2004, mesmo com a contratação de Kakay naquele mês. O
Ministério Público entendeu
que o assunto se limitava à esfera privada. A principal razão
para o arquivamento foram os
depoimentos dos dirigentes
dos fundos. Na área criminal, a
investigação foi aberta, mas
corre em segredo de Justiça.
Na quinta-feira passada,
Cardozo procurou o Painel, da
Folha, para rebater nota publicada no dia anterior sobre sua
proximidade com Dantas.
"Qual é o fato que me liga a esse
senhor? Estive num jantar com
ele, a pedido do então ministro
Márcio Thomaz Bastos", diz.
Em maio de 2006, o deputado foi a um jantar na casa do senador Heráclito Fortes (DEM-PI), organizado a pedido de
Dantas. O banqueiro queria negar ao ministro que tivesse partido dele uma lista publicada
pela revista "Veja", com indícios claros de tratar-se de montagem, com supostas contas de
autoridades petistas no exterior, entre as quais Bastos e o
presidente Lula.
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