São Paulo, quarta, 16 de julho de 1997.



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Em texto-base da reunião, Jesus dança a noite inteira em terreiro

do enviado especial

Um dos trechos do texto-base do 9º Encontro intereclesial de CEBs coloca Jesus Cristo visitando um terreiro de candomblé. Na visita, ele espera na fila para ser atendido por uma mãe-de-santo e "dança a noite inteira".
O texto é do biblista Carlos Mesters, 66, holandês que vive desde 1949 no Brasil. É considerado um dos maiores especialistas em Bíblia do país. No ano passado, ele pregou o retiro dos bispos reunidos em Indaiatuba (SP) na Assembléia Geral de CNBB.
É dele também o livro "Caminhando na Estrada de Jesus", que está sendo distribuído pela CNBB em todas as paróquias do país como preparação para o ano 2000.
O objetivo do texto é ilustrar um capítulo do texto-base em que o biblista discorre sobre a relação entre Jesus e "o povo".
Segundo ele, a atitude de Jesus na Bíblia é "estar em todo canto", principalmente com as pessoas mais pobres. "Para Jesus, quem não é contra ele é a favor, independente do credo."
Mesters afirma que quis "provocar um pouquinho", para que as pessoas percebam que há "coisas muito boas" nas religiões afro-brasileiras, como "o humanismo, a acolhida aos pobres, a luta para melhorar as condições de vida e a importância da mulher".
O biblista afirma que seu texto pode provocar polêmica, mas "nada comparável à polêmica causada pelas coisas que Jesus fez no tempo dele".
As CEBs dão uma especial atenção para as religiões afro-brasileiras. As comunidades são compostas, em sua maior parte, por mulheres, que não têm simpatia pela hierarquia da Igreja Católica, formada apenas por homens.
O exemplo dos terreiros de candomblé, em que as mães-de-santo são as maiores expressões religiosas, é sempre citado nos debates sobre a possibilidade de ordenação de mulheres.
Para d. Jayme Chemello, vice-presidente da CNBB, algum religioso "mais rigoroso" pode não gostar do texto de Mesters, mas defende que ele seja visto como "uma representação de que Jesus está em todos os lugares".
"O texto é "uma parábola, um exemplo da vida que o autor captou". "Só ele pode explicar exatamente seu significado", diz.



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