São Paulo, quarta-feira, 16 de agosto de 2000 |
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DISSE-QUE-DISSE Nosso destino está nas mãos das mulheres
LUIZ CAVERSAN Adriane Galisteu, 27, apresentadora de TV - "Está sobrando negligência, violência e diferença social. Está faltando cuidado com a
população, educação, saúde. Está
faltando respeito. Respeito pelos
policiais, pelos professores, pelo
ser humano em geral. Por quê?
Porque não há educação. As pessoas estão desacreditadas e eu
não tenho dúvida de que o povo
brasileiro é o mais paciente do
mundo. Se é em qualquer outro
país -porque calamidade tem
em toda parte-, as pessoas rapidamente param tudo, armam
uma confusão danada e as coisas
voltam ao lugar. Aqui, quando as
pessoas vão armar uma confusão,
a própria armação já é uma confusão. Isso tem um prisma fundamental, que é a educação. Portanto, o que mais falta é a educação e o que eu mais vejo sobrando
é a falta de educação. Espero que
as pessoas tomem cuidado na hora de votar. Porque eu quero acreditar que há políticos com boa
vontade. Não sei se posso, mas
quero acreditar nisso." Valéria Dias Martins, 28, empregada doméstica, mãe de cinco filhos - "O que existe demais é mordomia para os políticos. Eles levam uma vida muito boa com o
nosso dinheiro. Eu trabalhei na
limpeza do palácio e vi que eles
têm do bom e do melhor. O que
falta é assistência médica: outro
dia fiquei quatro horas na fila do
hospital com meu filho. E falta
também assistentes sociais para
os velhos e os deficientes." Maria da Conceição, 50, moradora de rua que vive sob o Minhocão -
"Falta banheiro público pra gente
se lavar. E sobra gente que não
ajuda ninguém." Liana Padilha, 37, artista plástica
e designer - "Falta transporte público, principalmente à noite e no
fim-de-semana. Falta também
lugar para estacionar, que não seja essa exploração dos estacionamentos caríssimos. E, já que não
há praia em São Paulo, faltam locais de lazer gratuito para o povo
ir. O que está sobrando: camelôs,
poluição e gente." Luana, 23, travesti na rua Bento
Freitas, que afirma que votará "do
ponto de vista feminino" - "Falta
cliente! Brincadeira, o que falta é
emprego, dinheiro para as pessoas. E o que sobra é gente sem ter
o mínimo para sobreviver." Ana Verônica Mautner, 64, psicanalista - "Que falem os outros do
útil e do urgente e também dos
caminhos. Deixem-me sonhar.
Nós, de São Paulo, não temos
nem refresco para os olhos. As calçadas não têm beleza, a luz está
sempre lá em cima e quase não temos horizonte à vista. O verde está escondido atrás dos muros que
defendem os homens, seus bens,
suas luzes. Os rios, que poderiam
ser belos, são feios. Em volta dos
parques, cercados pontiagudos
porque, quando abertos, tornam-se dormitórios de quem não tem
muro. Sonho com o belo na altura
dos olhos para que ele possa me
contaminar e tornar o feio insuportável. Quero beleza espalhada,
quero a sombra do belo, porque
até essa enfeita." Paula Lemos, 35, sócia do restaurante Le Tantan - "Falta carinho
por tudo o que é coletivo, pelos espaços públicos. E o que há demais
é gente solitária." Júlia Chaves Siqueira Abrão, 18,
estudante do cursinho Objetivo e
que vai votar pela primeira vez -
"Está sobrando poluição e violência, e isso abrange a corrupção, a
violência física e outros tipos de
violência. E o que falta é educação, aquela que você recebe em
casa, onde aprende a tratar todo
mundo com o mínimo de respeito, e a educação-escola, que está
podre, principalmente na escola
pública." |
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