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REFORMA SOB PRESSÃO
Apoio de partidos à repartição da contribuição corresponde à metade dos membros da comissão tributária
Sem partilha da CPMF, reforma corre risco
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Cresce, na comissão da Câmara
encarregada de analisar a reforma
tributária, a avaliação de que o governo corre o risco de não conseguir aprovar o relatório do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) sem aceitar a partilha da receita da CPMF exigida por governadores e prefeitos.
A demanda tem ampla acolhida
em pelo menos quatro partidos,
que, juntos, respondem por metade dos 38 membros da comissão
-os oposicionistas PFL (seis deputados) e PSDB (cinco) e os aliados PMDB (cinco) e PL (três).
O tom mais agressivo vem do
PFL. "Sem a repartição da receita,
votamos contra o relatório inteiro", diz Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), um dos pefelistas
mais afinados com o governo
Luiz Inácio Lula da Silva, mas
também um dos porta-vozes dos
governadores na comissão.
Curiosamente, ACM Neto chama mais a atenção à mobilização
dos prefeitos que à dos governadores. "Em partidos como
PMDB, PTB, PL e PP, além do
PFL, o peso das bases municipais
é muito forte", aponta.
"A pressão dos municípios é
muito grande", reforça Carlos
Eduardo Cadoca (PMDB-PE),
crítico da reforma proposta. "O
projeto só caminha se o governo
ceder." Na próxima terça-feira, o
PMDB fará a sua reunião de prefeitos, e o resultado previsível é a
defesa da partilha dos recursos.
PSDB
Para Walter Feldman (PSDB-SP), a discussão "vai pegar fogo"
na próxima semana -o deputado duvida que seja viável votar o
relatório da reforma na quinta,
como quer o Planalto. Entre os tucanos, que contam com oito governadores, é óbvio o pleito por
mais recursos. "Acho muito difícil
[o relatório] passar sem essa concessão. Ela pode desobstruir os
canais e facilitar outras propostas,
como o novo ICMS [que, dependendo da regra, pode prejudicar
São Paulo] e os benefícios fiscais."
Sandro Mabel (PL-GO), que lidera o lobby para rever a proibição dos benefícios fiscais postulada pela reforma, também é defensor da repartição da CPMF. "A
União tem de entender que, apesar das dificuldades, é preciso dividir." Ele calcula que, mesmo
com a aprovação do relatório na
comissão sem a partilha, o governo acabará cedendo no plenário.
O PL, no entanto, ameaça criar
um problema ainda mais sério:
votar contra a perenização da
CPMF, independentemente de
haver divisão da receita ou não.
"Já disse ao ministro José Dirceu
[Casa Civil] que a tendência dos
deputados, hoje, é votar contra
em bloco", afirma o presidente do
partido e líder da bancada, Valdemar Costa Neto (SP).
"O partido votou contra a
CPMF no passado e se sente desconfortável em votar agora para
garantir R$ 20 bilhões que serão
gastos em dois meses de juros",
disse Costa Neto. E como equilibrar as contas do governo? "Tem
que baixar os juros!"
Empresariado
Para responder às pressões, o
governo tem articulado o apoio
dos deputados mais ligados às reivindicações do empresariado, caso de Delfim Netto (PP-SP) e Armando Monteiro (PTB-PE), presidente da CNI (Confederação
Nacional da Indústria). O grupo
tem uma razão poderosa para se
alinhar ao Planalto: se for obrigado a repartir a CPMF com os Estados, o governo será obrigado a
elevar o tributo ou a buscar novas
fontes de receita -ou seja, haverá
aumento da carga tributária.
Essa conjunção de interesses
contribuiu para que o relatório de
Guimarães, a ser apresentado na
segunda, incluísse medidas de
agrado dos empresários, como a
previsão de uma lei que desonere
a compra de máquinas.
O presidente da CNI, porém,
afirma que o setor ainda pressionará por mais mudanças -entre
elas, a possibilidade de atenuar o
peso da cobrança da CPMF.
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