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RETÓRICA DA CRISE
Empresários e políticos concordam com Lula, mas listam riscos e pedem medidas para reativar economia
Economistas fazem ressalvas à opinião de que "o pior já passou"
DA REDAÇÃO
Economistas, empresários e
políticos concordam, em linhas
gerais, com a avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a economia brasileira, de que
"o pior já passou", mas fazem ressalvas ao otimismo do presidente.
No discurso veiculado anteontem à noite, Lula fez um balanço
do seu governo. Em relação à política econômica, disse que não
havia outro caminho a tomar:
"Não vou enganar vocês: não
existe mágica". E acrescentou: "O
pior já passou, meus amigos, posso garantir isso a vocês. Estamos
no caminho certo. E tenham certeza, as boas notícias já estão começando a chegar".
Na avaliação de Salomão Quadros, coordenador de Análises
Econômicas da FGV (Fundação
Getúlio Vargas), a melhora ainda
é momentânea e não está consolidada: "Conjunturalmente, o pior
já passou. Estruturalmente, não.
O destino deste governo ainda
não está selado. Tem chances de
sucesso, mas ainda corre risco de
fracasso", disse o economista.
Já o governador do Ceará, Lúcio
Alcântara (PSDB), concorda com
o presidente: "Acho que esses primeiros meses foram muito difíceis". E acrescenta: "Se o pior passou, a gente espera que venha em
seguida o crescimento da economia. Aí, sim, teremos razões para
estar confiantes com o futuro".
José Augusto Marques, presidente da Abdib (Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base), opina no mesmo
sentido: "Foi importante Lula ter
enfatizado que a retomada do
crescimento econômico, o aumento da produção industrial e a
melhoria das vendas do comércio
são condicionantes para a geração de empregos. Passos importantes já foram dados, como evitar a disparada da inflação, reduzir o risco Brasil e iniciar a diminuição da taxa de juros".
"FHC com voz rouca"
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), deputado federal Armando Monteiro (PTB-PE), também acha que o
pior já passou, mas não é tão otimista em relação ao curto prazo.
Segundo ele, após os "duríssimos ajustes fiscal e monetário"
que o governo fez, as condições
agora são favoráveis ao crescimento econômico. Mas ressalvou: "Não teremos nenhum crescimento espetacular ou muito intenso".
Segundo ele, é fundamental que
o governo aumente os investimentos públicos e adote medidas
para reativar a economia: "Há
condições para a retomada. Mas
nada que se faça no curto prazo".
O economista Carlos Thadeu de
Freitas, professor do Ibemec (Instituto Brasileiro de Mercado de
Capitais) e ex-diretor do Banco
Central, também avalia que o pior
já passou. "Acho que ele está correto ao dizer que o cenário para a
frente é melhor". Na opinião de
Freitas, "o fundo do poço deve ter
sido alcançado em agosto". Segundo ele, a tendência declinante
dos juros reais vai fazer com que
os consumidores voltem a comprar mais. Depois, fará com que
os empresários voltem a investir.
Na opinião do presidente da
Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção),
Paulo Skaff, o presidente está certo, mas agora é necessário reduzir
os juros: "No início do ano, a política econômica foi bastante certeira. Vivíamos um momento complicado: inflação e risco Brasil altos e balança de pagamentos
complicada". Mas, diz ele, os juros já poderiam ter começado a
cair em abril: "Foi uma dose cavalar e desnecessária. Agora, para
termos uma recuperação no último trimestre, os juros têm que
cair até uns 15% no fim do ano".
O sindicalista Paulo Pereira da
Silva, o Paulinho, da Força Sindical, é mais pessimista: "Fiquei
com a impressão de que era o
FHC, só que com a voz meio rouca, porque o discurso é o mesmo.
Ele fica pedindo paciência enquanto milhares de pessoas perdem o emprego e as empresas estão quebrando", declarou.
O presidente da UDR (União
Democrática Ruralista), Luiz Antonio Nabhan Garcia, também diverge do presidente: "O pior não
passou. O pior está para vir. O
presidente deve estar vivendo no
mundo das maravilhas. Essa visão
de que o pior já passou é muito estranha".
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