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São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2003

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RETÓRICA DA CRISE

Empresários e políticos concordam com Lula, mas listam riscos e pedem medidas para reativar economia

Economistas fazem ressalvas à opinião de que "o pior já passou"

DA REDAÇÃO

Economistas, empresários e políticos concordam, em linhas gerais, com a avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a economia brasileira, de que "o pior já passou", mas fazem ressalvas ao otimismo do presidente.
No discurso veiculado anteontem à noite, Lula fez um balanço do seu governo. Em relação à política econômica, disse que não havia outro caminho a tomar: "Não vou enganar vocês: não existe mágica". E acrescentou: "O pior já passou, meus amigos, posso garantir isso a vocês. Estamos no caminho certo. E tenham certeza, as boas notícias já estão começando a chegar".
Na avaliação de Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a melhora ainda é momentânea e não está consolidada: "Conjunturalmente, o pior já passou. Estruturalmente, não. O destino deste governo ainda não está selado. Tem chances de sucesso, mas ainda corre risco de fracasso", disse o economista.
Já o governador do Ceará, Lúcio Alcântara (PSDB), concorda com o presidente: "Acho que esses primeiros meses foram muito difíceis". E acrescenta: "Se o pior passou, a gente espera que venha em seguida o crescimento da economia. Aí, sim, teremos razões para estar confiantes com o futuro".
José Augusto Marques, presidente da Abdib (Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base), opina no mesmo sentido: "Foi importante Lula ter enfatizado que a retomada do crescimento econômico, o aumento da produção industrial e a melhoria das vendas do comércio são condicionantes para a geração de empregos. Passos importantes já foram dados, como evitar a disparada da inflação, reduzir o risco Brasil e iniciar a diminuição da taxa de juros".

"FHC com voz rouca"
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), deputado federal Armando Monteiro (PTB-PE), também acha que o pior já passou, mas não é tão otimista em relação ao curto prazo.
Segundo ele, após os "duríssimos ajustes fiscal e monetário" que o governo fez, as condições agora são favoráveis ao crescimento econômico. Mas ressalvou: "Não teremos nenhum crescimento espetacular ou muito intenso".
Segundo ele, é fundamental que o governo aumente os investimentos públicos e adote medidas para reativar a economia: "Há condições para a retomada. Mas nada que se faça no curto prazo".
O economista Carlos Thadeu de Freitas, professor do Ibemec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) e ex-diretor do Banco Central, também avalia que o pior já passou. "Acho que ele está correto ao dizer que o cenário para a frente é melhor". Na opinião de Freitas, "o fundo do poço deve ter sido alcançado em agosto". Segundo ele, a tendência declinante dos juros reais vai fazer com que os consumidores voltem a comprar mais. Depois, fará com que os empresários voltem a investir.
Na opinião do presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), Paulo Skaff, o presidente está certo, mas agora é necessário reduzir os juros: "No início do ano, a política econômica foi bastante certeira. Vivíamos um momento complicado: inflação e risco Brasil altos e balança de pagamentos complicada". Mas, diz ele, os juros já poderiam ter começado a cair em abril: "Foi uma dose cavalar e desnecessária. Agora, para termos uma recuperação no último trimestre, os juros têm que cair até uns 15% no fim do ano".
O sindicalista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, da Força Sindical, é mais pessimista: "Fiquei com a impressão de que era o FHC, só que com a voz meio rouca, porque o discurso é o mesmo. Ele fica pedindo paciência enquanto milhares de pessoas perdem o emprego e as empresas estão quebrando", declarou.
O presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Luiz Antonio Nabhan Garcia, também diverge do presidente: "O pior não passou. O pior está para vir. O presidente deve estar vivendo no mundo das maravilhas. Essa visão de que o pior já passou é muito estranha".


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