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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O MARQUETEIRO
Publicitário que fez campanha de Lula recebeu fora do país R$ 10,5 mi enviados por Valério
PF pede ao STF bloqueio de conta de Duda no exterior
ANDRÉA MICHAEL
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal o bloqueio da conta da offshore Dusseldorf Company Ltd., aberta pelo
publicitário Duda Mendonça para receber R$ 10,5 milhões de caixa dois do empresário Marcos
Valério Fernandes de Souza. A
empresa tem sede nas Bahamas e
conta bancária, segundo os investigadores, nos Estados Unidos.
O bloqueio da conta faz parte de
um conjunto de providências sugeridas na última quinta-feira pela PF ao ministro do STF Joaquim
Barbosa, relator do inquérito que
apura o "mensalão" -suposto
pagamento de mesada a parlamentares da base aliada ao governo em troca de apoio- e a prática
de formação de caixa dois.
Como as providências têm alcance internacional, o trâmite deve se dar com a intermediação do
Ministério da Justiça, por meio do
Departamento de Recuperação
de Ativos e Cooperação Jurídica
Internacional.
A PF também sugeriu ao ministro Joaquim Barbosa a quebra do
sigilo de oito contas de empresas
que alimentaram a Dusseldorf.
São elas: Deal Financial Corporation, Trade Link Bank, Rural International Bank, Radial Enterprise, Kanton Business, Banco
Rural Europa, SM Import e SM
Comex.
Os pedidos de bloqueio da conta e quebra dos sigilos serão encaminhados ao procurador-geral da
República, Antonio Fernando
Souza, que dará parecer favorável
ou não. Em caso positivo, cabe ao
ministro Joaquim Barbosa, do Supremo, decidir se acata ou não o
pedido da Polícia Federal.
Orientação
Em depoimento à CPI dos Correios na semana passada, Duda
afirmou ter aberto a Dusseldorf,
nas Bahamas, seguindo orientação que o empresário Marcos Valério havia dado à sua sócia.
A conta bancária da offshore seria supostamente o meio proposto pelo empresário mineiro para
que Duda recebesse o pagamento
de pendências referentes a campanhas petistas que fez em 2002.
Marcos Valério, por sua vez,
afirma que foi Duda quem o instruiu a mandar dinheiro para
contas no exterior.
Usando uma rede de movimentação financeira que Valério já conheceria no exterior, segundo
Duda e Zilmar disseram à CPI, foram depositados na conta da
Dusseldorf R$ 10,5 milhões como
amortização de uma dívida total
de R$ 15,5 milhões.
Principalmente pela movimentação financeira do publicitário e
de sua sócia no exterior, a PF suspeita não ter sido a primeira vez
que Duda, marqueteiro experiente na política, recebeu dinheiro de
caixa dois por serviços prestados
em campanhas.
No domingo, a Folha revelou
que Duda e Zilmar movimentaram, entre 1997 e 2000, pelo menos US$ 1,5 milhão nos EUA, em
regra usando como origem ou
destino do dinheiro suas contas
no BankBoston e a intermediação
de uma conta bancária pertencente à offshore Agata, no MTB
Bank, instituição financeira nos
Estados Unidos.
A Agata tem sede nas Ilhas Virgens Britânicas e é controlada por
doleiros brasileiros que estão sob
investigação da Polícia Federal.
Investigação
Os procuradores da República e
os delegados da Polícia Federal
que atuam na investigação do
chamado mensalão reuniram-se
ontem à tarde para discutir os
próximos passos do inquérito criminal que tramita no STF.
Concluída a primeira etapa da
apuração, o procurador-geral da
República deverá sugerir ao STF
nos próximos dias que autorize a
realização das novas operações
solicitadas pela PF e conceda a renovação do prazo da investigação
por mais 30 dias.
A lista de pedidos da PF inclui,
ainda, a autorização do STF para
formação de um banco de dados
comum entre a CPI dos Correios e
a Polícia Federal.
Seria uma forma de otimizar as
informações já disponíveis, evitando novos pedidos de quebra
de sigilo e, ao mesmo tempo, permitindo o acesso mais rápido aos
dados -já que a CPI tem autonomia para propor e ela mesma autorizar o acesso a dados sigilosos,
sem ter de passar pelo Judiciário.
Entre os depoimentos previstos
nesta nova fase da investigação
está o de Jeany Mary Corner, suposta agenciadora de garotas de
programa. Desde a semana passada, a PF tenta encontrá-la em Brasília, sem sucesso.
Segundo depoimento dado a PF
pelo empresário Ricardo Penna
Machado, ex-sócio de Marcos Valério, Jeany agenciou a participação de seis garotas de programas
em uma festa promovida pelo
empresário mineiro em setembro
de 2003, na suíte presidencial do
hotel Gran Bittar, em Brasília.
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