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JANIO DE FREITAS
Hora de decisão
O breve tempo decorrido
desde o discurso de Lula foi
suficiente para consolidar duas
deduções: a repercussão foi tão
negativa, dada a tibieza fugidia
do pronunciamento, que Lula
teria perdido menos se não cedesse à cobrança para fazê-lo; a
haver outro pronunciamento,
como está em longa e desnecessária discussão na Presidência e
nos seus arredores, ou Lula diz
coisas respeitáveis ou vai dar a
demonstração final, com as piores decorrências, de que não pode falar com franqueza sobre o
escândalo que o cerca e os motivos que o levaram à demissão de
José Dirceu e à meia-demissão
de Luiz Gushiken.
A menos que a torrente de revelações traga novidades mais
pesadas que as anteriores, as cogitações de retirá-lo continuarão sendo apenas exercícios de
irresponsabilidade. Lula, até
agora, não está atingido diretamente. Mas está jogando da
mesma maneira, nestes dias, a
sorte de sua Presidência e a própria sorte pessoal. Ou encontra o
modo, que não é misterioso, de
se situar respeitavelmente na
crise ou logo terá menos importância no governo que um ascensorista do Planalto.
Lula, porém, ainda não percebeu as peculiaridades de sua situação. Imagina ainda que basta obter alguma atividade na
Câmara, com uma ou outra
aprovação, para difundir a
idéia de normalidade política e
administrativa. Se foi mesmo
traído, como diz, hoje quem trai
Lula é Lula -e o país paga
também por esta segunda traição.
O símbolo
Miguel Arraes foi o mais injustiçado dos políticos relevantes
que os militares massacraram.
A direita pintou-o como extremista perigoso, e Miguel Arraes,
de esquerda, sim, foi sempre anti-radical, sempre convencido
de que era possível abrir caminhos para a justiça social sem
entrar em guerra com as forças
que a criaram e a mantêm. Foi o
que fez como condutor de um
governo maravilhosamente original, criativo e eficiente, o seu
primeiro governo em Pernambuco, encerrado pelo golpe militar.
Miguel Arraes fica como símbolo de honradez política e de
caráter pessoal.
A questão
José Genoino requereu, para
receber a partir deste mês, R$
8.148 a título de aposentadoria
por seus 20 anos de deputado. O
provento corresponde a cerca de
65% do vencimento de deputado ativo. Ativo? Quem? Digamos, deputado com mandato.
José Genoino tem um bom
motivo para a reivindicação e o
recebimento: "É uma questão de
sobrevivência".
José Genoino, quando voltar a
ter coragem de aparecer e falar
em público, por certo vai explicar de que questão se tratava
para os idosos e doentes cujas
aposentadorias indecentes ele,
como deputado e como presidente do PT no governo Lula,
tanto contribuiu para tornar
humilhantes e mais degradantes da velhice e da doença
-não depois de 20 anos, mas de
35, 40 e mais anos de trabalho
verdadeiro.
A rigor, nem essa explicação se
precisa mais ouvir desse José Genoino que se esconde atrás da
própria sombra, para fugir às
altas responsabilidades que lhe
cabem na montagem e na operação, dentro da Câmara e entre os partidos, das imoralidades que se desvendam.
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