São Paulo, Segunda-feira, 16 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INFERNO ASTRAL
Eucatex, empresa da família do pepebista, também passa por má fase
Maluf enfrenta crise nos negócios

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
da Reportagem Local

Não foi só como político que Paulo Maluf teve dissabores nos últimos meses. A empresa que ele controla, a Eucatex, deverá completar em 1999 o quinto ano consecutivo de prejuízos e teve que buscar novos acionistas para levantar R$ 79,8 milhões e tentar diminuir os problemas causados pelo alto endividamento.
No ano passado, Maluf foi derrotado, no segundo turno, nas eleições para governador de São Paulo e viu seu partido, o PPB, sair enfraquecido das urnas.
Em meio a acusações, rompeu com o afilhado Celso Pitta e foi envolvido em um escândalo quando um funcionário municipal veio a público dizer que é avô de uma suposta filha de Maluf.
Sem cargo público desde que deixou a prefeitura paulistana em 31 de dezembro de 1996, Maluf acabou se envolvendo nos últimos meses na administração da Eucatex, que controla por meio da holding Pasama Participações.
Fabricante de chapas de fibra de madeira e de outros materiais de construção, a Eucatex enfrenta dificuldades -perdeu participação no mercado, por exemplo- desde meados desta década, em parte por causa da sucessão de crises econômicas do país, mas também porque tomou muito dinheiro emprestado.
Maluf não exerce cargo na companhia, nem faz parte do seu conselho de administração. Desde dezembro de 1996, quando ele e sua mulher, Sylvia, compraram as ações da Eucatex que eram de outras pessoas da família Maluf, a empresa é administrada pelos seus dois filhos, Flávio, como presidente, e, Otávio, como vice-presidente geral.
Flávio Maluf está promovendo uma série de mudanças administrativas e na gama de produtos fabricados, tendo cortado 1.500 postos de trabalho, mas ainda não conseguiu torná-la lucrativa. Em 1999, os prejuízos foram de R$ 34,7 milhões, somando R$ 101,4 milhões em três anos.
Em 1998, a dívida era de R$ 210,5 milhões, e só com juros e amortização dos empréstimos foram gastos R$ 45,7 milhões, um volume elevado para uma companhia que faturou R$ 275,3 milhões em termos líquidos.
A desvalorização do real, em janeiro, piorou a curto prazo a situação da empresa porque 55% dos empréstimos que a Eucatex tinha tomado eram em dólar. Em março, o endividamento correspondia a cerca de 80% do seu patrimônio líquido.
"O doutor Paulo é o acionista majoritário da empresa e participou muito intensamente do início da vida da Eucatex. Na condição de acionista, participou de algumas decisões recentes, mas nada em caráter formal", diz José Antonio Goulart de Carvalho, vice-presidente executivo.
A principal decisão tomada foi aumentar seu capital. Ou seja, conseguir dinheiro de investidores (que compraram ações da Eucatex) para pagar as dívidas bancárias.
Na semana passada, foi completado o lançamento de ações, organizado pelo Unibanco, e que levantou R$ 79,8 milhões para a Eucatex.
Para o Unibanco, fazer o lançamento de ações era interessante porque o setor de materiais de construção deverá experimentar uma fase de expansão das vendas e as exportações tendem a crescer com a ajuda da desvalorização, diz Álvaro Sá Freire, diretor do banco. Com o aumento de capital, a empresa voltará a ser competitiva, afirma Carvalho.
Os novos acionistas da empresa são investidores institucionais, como fundos de pensão e de investimentos. Antes do lançamento das novas ações, o fundo de pensão do Banco do Brasil, Previ, já tinha 8,75% do capital.
A família Maluf não entrou com mais dinheiro -ou seja, terá diminuída sua participação no capital da empresa.


Texto Anterior: Rumo a 2000: Covas admite candidatura de Alckmin
Próximo Texto: Miséria: Para Ipea, 5% do PIB erradicaria pobreza
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.