São Paulo, Segunda-feira, 16 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MISÉRIA
Economista é contra imposto
Para Ipea, 5% do PIB erradicaria pobreza

da Sucursal do Rio

Estimativa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) indica que 5% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil -o equivalente a R$ 35 bilhões- seriam suficientes para diminuir as desigualdades sociais e erradicar a pobreza no país.
De acordo com o economista Ricardo Henriques, do Ipea, eliminar a pobreza no país "não é fácil, mas é viável".
Ele cita, como exemplo, o fato de que o governo já emprega anualmente cerca de R$ 36 bilhões entre programas de renda mínima, além de saúde, educação e qualificação profissional.
Pelos cálculos do instituto, cerca de 57 milhões de brasileiros -o equivalente a 35% da população- estão, atualmente, abaixo da linha de pobreza, ou seja, têm rendimento médio mensal de até meio salário mínimo.
Desse total, segundo pesquisa do instituto, de 16 a 17 milhões de pessoas vivem em condições de miséria absoluta.
Ricardo Henriques afirma que, com R$ 35 bilhões por ano, os pobres do país garantiriam ao menos R$ 100 por mês.
"É financeiramente viável acabar com a pobreza, pois os recursos que já são aplicados em programas sociais cobrem isso", disse o economista.
Para ele, a solução do problema não estaria na criação de um novo imposto. "Um novo imposto não parece ser o caminho ideal para redesenhar a política social brasileira. Por um lado, novos impostos carecem de credibilidade social e nada garante que os novos recursos serão direcionados de forma correta", afirmou.
Henriques defende que o combate à pobreza seja desvinculado da necessidade de crescimento econômico, sustentando uma teoria que ele chama de "dilema do fermento".
"Pode-se reduzir a desigualdade e, a partir daí, diminuir significativamente a pobreza, sem ter de esperar o bolo crescer para depois dividi-lo. Isso é fundamental num cenário de globalização, em que crescer é muito difícil", afirmou.
Na semana passada, Henriques coordenou no Rio o seminário "Desigualdade e Pobreza no Brasil", que reuniu cerca de 60 pesquisadores, entre economistas, sociólogos e demógrafos.
No encerramento do seminário, anteontem, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) defendeu a criação de projeto conjunto do governo com o Ipea ou o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para que seja estabelecida uma "linha oficial de pobreza" no país.
Segundo o senador, a "linha" poderia ser definida pelo "mínimo suficiente para a sobrevivência das pessoas".
Suplicy defende que esse patamar sirva de referência para que o governo informe quantas pessoas realmente estão abaixo da linha de pobreza no país e qual a meta a ser definida para a erradicação do problema.
(RONALDO SOARES)

Texto Anterior: Inferno astral: Maluf enfrenta crise nos negócios
Próximo Texto: Investigação: Contas CC-5 movimentaram R$ 124 bi
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.