São Paulo, sábado, 16 de setembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

QUESTÃO AGRÁRIA
Governador levanta suspeitas sobre a compra do imóvel
Itamar pede inspeção fiscal da fazenda de filhos de FHC

Alan Marques/Folha Imagem
O governador de Minas, Itamar Franco, durante sua estada em Brasília, na qual criticou o presidente Fernando Henrique Cardoso


DANIELA NAHASS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), pediu à Secretaria de Fazenda do Estado um levantamento fiscal da fazenda Córrego da Ponte, dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso.
O governador levantou suspeitas sobre a operação de compra do imóvel pelo presidente em reação às informações divulgadas sobre a venda de seu apartamento em Washington (EUA).
Itamar empregou a palavra "hotentote" (integrante de uma etnia africana do sul da África, de cultura bastante primitiva) em resposta ao termo "botocudo" (sinônimo de caipira), usado por FHC para se referir de forma indireta ao governador de Minas.
O governador desistiu de voltar para Belo Horizonte na manhã de ontem e permaneceu em Brasília para investigar a operação de venda da fazenda localizada em Buritis (MG). Itamar convocou uma entrevista coletiva na qual leu trechos de uma reportagem publicada em 1993 na revista "IstoÉ", que aponta irregularidades na compra daquele imóvel rural.
Itamar Franco culpou o Palácio do Planalto pela divulgação das informações a respeito da venda de seu apartamento em Washington. "O Planalto não conseguirá com esta manobra desviar o foco de atenção da opinião pública dos fatos envolvendo a fazenda Córrego da Ponte", afirmou.
Os deputados de oposição a Itamar Franco na Assembléia Legislativa entraram anteontem com uma representação contra o governador por supostos crimes de responsabilidade. A representação, que é o primeiro passo para o impeachment, tem como base o fato de o governador não ter informado em sua declaração de bens de 1998 que era dono do apartamento em Washington.
O governador informou que ainda não era dono do imóvel em 1998, mas que os recursos utilizados na compra do apartamento já constavam na declaração de bens daquele ano. Itamar disse que comprou o apartamento em 1999 e que o imóvel foi declarado posteriormente no imposto de renda.
"Não houve omissão, falsidade ou improbidade que a representação apresentada na Assembléia Legislativa pretende me atribuir de forma leviana e criminosa. É uma verdadeira denúncia caluniosa." O governador sugeriu que seja instalada uma CPI para investigar a sua vida e a de FHC. Para Itamar, o Congresso Nacional deveria instalar uma CPI para fazer uma investigação geral do atual governo.

Botocudo
Questionado sobre as críticas indiretas feitas por FHC que condenou o "nacionalismo botocudo", Itamar disse que as críticas não foram feitas diretamente a ele. "O presidente nunca tem coragem de se dirigir diretamente às pessoas", afirmou o governador.
Diante da insistência dos jornalistas que queriam saber a opinião do governador sobre as declarações de FHC, Itamar respondeu: "Se eu fosse botocudo, eu ia dizer: senhor Fernando Henrique Cardoso, quando o senhor choramingava na ante-sala do Palácio, um botocudo lhe fez presidente da República, então vou lhe dar a faixa de presidente dos botocudos. Não coloco nele a (faixa de presidente) dos hotentotes, porque não fica bem para ele".
Itamar disse que não está preocupado com o fato de o ministro Nelson Jobim ter sido o escolhido para julgar a liminar impetrada ontem no Supremo Tribunal Federal pelo governo de Minas solicitando a retirada imediata do Exército da fazenda Córrego da Ponte. "Temos de acreditar na consciência desses ministros, sejam eles quem forem." Disse que vai acatar a decisão da "corte suprema". "Com a decisão, o caso está encerrado", disse.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Hotentotes são uma etnia do sul da África
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.