São Paulo, sábado, 16 de setembro de 2000

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Ministro quer fim de "ameaça" para negociar

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, disse ontem que as negociações com o MST serão reabertas assim que o movimento suspender a "ameaça" de invadir a fazenda Córrego da Ponte, pertencente aos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Jungmann entende por "ameaça" a presença dos militantes do MST na região próxima à fazenda, em Buritis (MG). Anteontem, eles desmontaram as barracas que estavam diante da porteira da propriedade e recuaram para uma área a 16 km do local.
O ministro afirmou que, após o retorno dos sem-terra para seus acampamentos, as lideranças do MST serão imediatamente convocadas para retomar a negociação.
"Quero conversar, mas não quero ir para a mesa de negociação sob ameaça. Se eles saírem de manhã, de tarde já estaremos negociando", declarou.
Para Jungmann, o recuo dos sem-terra não alterou o clima de tensão no local porque, devido à distância a que se encontram da fazenda, eles podem retornar, segundo afirmou, "em questão de minutos" para invadi-la. "Na verdade, eles saíram do local, mas mantiveram a pressão. Então, não mudou a situação anterior", disse.
Segundo o ministro, caso ocorra a desmobilização dos militantes, o superintendente estadual do Incra agendará de imediato duas reuniões com as lideranças do MST -uma para discutir a pauta local e outra, a pauta nacional.
Jungmann esteve ontem pela manhã em Praia Grande para participar da abertura do seminário da Força Sindical que criará a Força da Terra -espécie de braço rural da central, que pretende se tornar uma alternativa ao MST.
O ministro disse que esteve no seminário a convite dos organizadores, mas negou que a nova entidade -cuja proposta privilegia a negociação, em detrimento das ocupações de terra- venha a se tornar o interlocutor preferencial do governo na questão agrária.
"Antevejo sucesso, mas (a Força da Terra) ainda não tem envergadura para isso. Não posso desconsiderar a Contag e o MST. É uma questão de correlação de forças."
O assessor político da Força Sindical Fernando Salgado disse que o seminário de Praia Grande, que reuniu cerca de 500 lideranças rurais "independentes" e se encerra hoje, vai resultar na formação de uma coordenação provisória e na formulação de um documento com propostas básicas.
A central marcou audiências para a semana que vem com Jungmann e com FHC para apresentar formalmente o documento ao governo.
"Nossa proposta é integrar produção, industrialização e comercialização. Não vamos entrar em antagonismos ideológicos com o MST", afirmou o assessor.
O ato oficial de fundação da Força da Terra, segundo Salgado, acontecerá em aproximadamente dois meses, em Brasília, onde a Força Sindical pretende reunir 15 mil pessoas.


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