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QUESTÃO AGRÁRIA
Segundo direção, sem-terra não voltam para casa até que as negociações com o governo se restabeleçam
MST não vai atender exigências do
governo
VALÉRIA DE OLIVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não
vai atender à exigência do governo de determinar a volta para os
assentamentos dos militantes que
estão próximos à fazenda dos filhos do presidente Fernando
Henrique Cardoso e dos prédios
públicos que foram desocupados.
"O pessoal não volta das capitais para casa até que as negociações se restabeleçam e o governo
acene com soluções concretas
(para as reivindicações)", disse
Gilberto Portes, da direção nacional do MST.
A saída dos manifestantes da vila próxima à fazenda também está
descartada. A volta para a porteira
está sendo estudada.
O retorno dos militantes aos assentamentos foi uma condição
imposta anteontem pelo ministro
Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) para retomar as negociações, interrompidas por causa
das invasões de prédios públicos e
da ocupação da área em frente à
fazenda da família de FHC.
Além de acampar no povoado
de Serra Bonita, a 16 km da porteira da fazenda, os sem-terra fazem
vigília em frente aos prédios que
invadiram e desocuparam para
atender à exigência do governo.
Portes disse que até a próxima
segunda os cerca de 540 acampamentos e as 250 mil famílias assentadas ligadas ao movimento
estarão realizando assembléias
para decidir quais "ações" serão
adotadas na próxima semana.
O líder do MST não descartou a
ocupação de fazendas, mas adiantou que a retomada dos prédios
desocupados é uma possibilidade
remota. Também não está nos
planos da coordenação ocupar a
fazenda dos filhos de FHC.
"Se nós quiséssemos, já teríamos invadido (a fazenda)", disse
Portes. Ele explicou que a propriedade foi escolhida pelo MST
por causa da sua "simbologia",
não para ser efetivamente ocupada. Acampando na área, disse
Portes, o MST queria "dizer ao
país que o governo mentiu para
nós e para a sociedade".
Aumentar o contingente de manifestantes na vila, entretanto, é
uma possibilidade, adiantou Portes. Ele não quis elencar outras
medidas que o movimento pode
tomar na semana que vem.
Portes informou que Jungmann, apesar de dizer que as negociações estavam rompidas,
mandou sua assessora Maria de
Oliveira telefonar para o deputado Adão Pretto (PT-RS) para pedir intermediação.
Portes chegou a uma entrevista
coletiva ostentando fotocópias
dos itens do acerto feito entre o
MST e o presidente Fernando
Henrique, com a mediação da
CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil) no dia 3 de julho.
No acordo, estão listados sete valores de recursos que iriam ser liberados para a reforma agrária,
conforme assegurou FHC, segundo Portes.
FHC, de acordo com Portes, se
comprometeu a utilizar R$ 540
milhões de fundos constitucionais para agricultores familiares
destinados ao Pronaf (Programa
Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar). Esta verba
seria usada para as 110 mil famílias que, conforme reivindica o
MST, deveriam receber R$ 2.000
cada uma por não terem condições de arcar com as despesas da
safra deste ano sem verba oficial.
A medida foi rejeitada pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentado, que
tem maioria do governo.
Portes disse que procurou o
presidente da CNBB, dom Jayme
Chemello, ontem de manhã e que
o bispo estava preocupado com o
fato de o governo descumprir o
acordo.
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