São Paulo, sábado, 16 de setembro de 2000

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Sem-terra estão armados, diz líder

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Jaime Amorim, líder do MST em Pernambuco, afirmou ontem que os sem-terra acampados em Igarassu, no Grande Recife, utilizaram armas de fogo em um confronto com policiais militares na madrugada de anteontem.
Amorim disse que os lavradores poderão voltar a utilizar armas em outros quatro acampamentos onde, segundo o MST, existem PMs trabalhando como seguranças a serviço de fazendeiros.
"Se os trabalhadores não tivessem atirado, teria havido um massacre de 60 famílias", disse. Um sargento da PM, Reideclildon Paulo da Silva, 28, morreu afogado em um açude. Segundo a polícia, ele se afogou ao tentar escapar de um ataque dos sem-terra.
Amorim negou qualquer envolvimento dos sem-terra na morte do policial. Segundo ele, o sargento se afogou porque "estava participando de uma ação clandestina, um despejo ilegal".
A polícia nega que tenha havido confronto. Segundo a PM, o sargento estava de folga e pretendia pescar de madrugada no açude, próximo ao acampamento, em companhia de dois soldados e um professor de musculação.
O "ataque" dos sem-terra, na versão da PM, teria ocorrido às 3h20. Para escapar dos tiros, os quatro pescadores teriam pulado dentro do açude, que tem cinco metros de profundidade.
Depois da morte do sargento, o acampamento do MST foi destruído. Cinco trabalhadores rurais foram detidos e liberados após prestar depoimento. Quatro espingardas dos lavradores foram entregues à perícia. Segundo o capitão Chusa Júnior, assessor da PM, os policiais não eram pistoleiros, não depredaram o acampamento, não agrediram nem atiraram contra os sem-terra.
"Não houve confronto", declarou. "Quando os quatro chegaram ao açude, eles (os acampados) apitaram, fizeram sinais e atiraram", disse. "Os policiais correram, pularam na água, mas o sargento não sabia nadar."
O delegado que apura o caso, José Izolino Neto, constatou a existência de escoriações e hematomas nos lavradores detidos. Eles foram encaminhados para exames no IML, em Recife.
Neto tem dúvidas sobre as causas do suposto conflito, porque não foram encontrados os apetrechos de pesca que os policiais supostamente estariam usando.
Os cinco acampados que, segundo o MST, haviam desaparecido após o conflito, foram localizados ontem, sem ferimentos, em Araçoiaba. Segundo o MST, novos conflitos podem ocorrer no engenho Bananeiras (Quipapá), na fazenda Moreira (Toritama), no engenho São Francisco (Vitória de Santo Antão), e na fazenda Chicão (Riacho das Almas).


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