São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2001

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GUERRA NA AMÉRICA

Partido critica eventual ataque a civis que seria feito pelos EUA em retaliação ao atentado da última terça

PT critica terror, mas é contra ação militar

DA REPORTAGEM LOCAL

Lideranças petistas se posicionaram contra uma possível retaliação do governo dos EUA ao Afeganistão, pelo fato de o país asiático abrigar o suspeito principal dos atos terroristas em Nova York e Washington, o milionário saudita Osama bin Laden.
O ataque aos EUA e a reação norte-americana também estão na pauta da reunião de hoje para discutir as eleições no partido, às 17h, em São Paulo. "Sabemos nosso tamanho", diz o presidente interino do PT, José Genoino, referindo-se ao partido. "O que podemos fazer é tentar sensibilizar a opinião pública para o perigo do "olho por olho, dente por dente"."
"Os responsáveis têm de ser punidos, mas dentro do Estado de direito. Não pode haver escalada militarista nem agressão gratuita aos civis", afirma Genoino.
Segundo o deputado, representante das alas moderadas do partido, deverá haver pressão internacional contra o Afeganistão para que entregue Bin Laden, caso seja comprovado que ele patrocinou os atos terroristas.
Para Genoino, posições sectárias e arrogantes adotadas pelos norte-americanos acabam contribuindo para a disseminação da "cultura do vale-tudo", que desemboca em atos de agressão.
Ele citou como exemplo de sectarismo a retirada dos EUA da Conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o Racismo em Durban (África do Sul). "Expressamos total solidariedade ao povo norte-americano, mas os EUA precisam fazer uma profunda reflexão sobre seu posicionamento internacional."
Um dos principais nomes da "esquerda" petista, o deputado federal Milton Temer (RJ) também condena os atos de agressão aos EUA, mas afirma que eles são em alguma medida "explicáveis".
"O terrorismo se forma num caldo de cultura pelo qual os norte-americanos têm muita responsabilidade, em razão de ter acobertado atos de igual gravidade no mundo nas últimas décadas", afirma Temer. Ele cita o apoio norte-americano a regimes ditatoriais na América Latina e África como exemplos.
"Não se combate terrorismo advindo do fanatismo com terrorismo de Estado, traduzido em bombardeios a populações islâmicas", disse Temer. O deputado disse que o Brasil não deve apoiar retaliações levadas adiante pelos EUA contra outros Estados.
Já o provável candidato presidencial do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, declarou que não faz sentido uma retaliação em grande escala. "Ao que tudo indica, não foi um ato [de agressão] de Estado contra Estado, mas de aloprados, doentes", declarou.
Para ele, os EUA, por serem a nação mais poderosa do mundo, acabam tendo muitos amigos e inimigos. "Tudo que os americanos fazem afeta o mundo, o que provoca reações em contrário."


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