São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

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RELIGIÃO

Candidatos invadem Juazeiro do Norte em busca de votos e disputam espaço em missa

Política no altar

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JUAZEIRO DO NORTE

Carreatas de romeiros e carros de som de políticos. "Santinhos" de candidatos e folhetos religiosos. Às vésperas da eleição, a política ocupou espaço ontem em Juazeiro do Norte (CE), no último dia da romaria de Nossa Senhora das Dores, uma das festas religiosas mais tradicionais do Nordeste.
A festa começou no dia 1º de setembro e terminou ontem. Segundo estimativas de autoridades locais, 500 mil pessoas estiveram em Juazeiro neste período.
O último final da semana da romaria é o mais movimentado. Ontem, no final da tarde, na procissão que encerra os festejos (que reuniu cerca de 100 mil pessoas, segundo os organizadores), os políticos disputaram o altar montado em frente à igreja Matriz onde foi realizada missa campal.
A disputa ficou entre o grupo de petistas que estavam com a senadora Heloísa Helena (PT-AL), o grupo do ex-governador e candidato ao Senado Tasso Jereissati (PSDB) e o grupo que acompanhava Welington Landin (PSB), candidato ao governo do Estado.
A lotação do altar era tanta que Tasso se irritou em determinado momento, desceu do altar e ficou no meio dos romeiros. No grupo de Tasso estavam a candidata ao Senado Patrícia Gomes (PPS) e o candidato ao governo do Ceará pelo PSDB, Lúcio Alcântara.
Para a romeira Verediana Gomes da Silva, que mora em Juazeiro e nunca deixa de acompanhar o evento final, a "procissão estava parecendo um comício". Até o padre Murilo de Sá Barreto, vigário da igreja de Nossa Senhora das Dores, matriz de Juazeiro do Norte, fez referência aos candidatos. "Não adianta pedir bênção para candidato, porque teria de ser com três litros de água benta para dar certo. O político tem de ficar bem molhadinho", brincou padre Murilo durante um sermão.
A maior exposição de candidatos aconteceu na carreata dos romeiros, anteontem à noite. Ônibus e caminhões paus-de-arara tradicionalmente são enfeitados para percorrer o trecho da entrada de Juazeiro do Norte até o centro da cidade, em 12 quilômetros.
Além de enfeitar os veículos com imagens de santos, os fiéis também tinham de colocar faixas com os nomes dos políticos que financiaram a viagem. "O nosso grupo veio com seis ônibus e 300 pessoas. A faixa aí é do político que pagou para gente vir", disse Márcio Costa, 21, motorista de um ônibus de Aracaju, Sergipe.
No meio da carreata também houve um desfile de carros de som de candidatos, que tocavam jingles em meio ao som de cantigas religiosas. Todos os locais visitados pelos fiéis, exceto as igrejas, tinham santinhos, adesivos e fotografias de políticos. Até no pé da imagem de padre Cícero adesivos de candidatos eram colados ao lado da assinatura de quem passava por lá, como manda a tradição.
Na sala dos milagres, dezenas de santinhos de políticos de várias eleições passadas e da atual misturavam-se a ex-votos, símbolos deixados pelos fiéis como sinal de uma graça alcançada. O deputado estadual Vasques Landin (PSDB) nega o caráter eleitoreiro da ida de políticos: "O povo gosta de ver o político passar. Eles até aplaudem. Estamos aqui por devoção".
"Quando eu era muito pequena, minha mãe veio fazer promessa para eu ficar boa", disse a senadora alagoana Heloísa Helena (PT).


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