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RELIGIÃO
Candidatos invadem Juazeiro do Norte em busca de votos e disputam espaço em missa
Política no altar
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JUAZEIRO DO NORTE
Carreatas de romeiros e carros
de som de políticos. "Santinhos"
de candidatos e folhetos religiosos. Às vésperas da eleição, a política ocupou espaço ontem em
Juazeiro do Norte (CE), no último
dia da romaria de Nossa Senhora
das Dores, uma das festas religiosas mais tradicionais do Nordeste.
A festa começou no dia 1º de setembro e terminou ontem. Segundo estimativas de autoridades
locais, 500 mil pessoas estiveram
em Juazeiro neste período.
O último final da semana da romaria é o mais movimentado.
Ontem, no final da tarde, na procissão que encerra os festejos (que
reuniu cerca de 100 mil pessoas,
segundo os organizadores), os
políticos disputaram o altar montado em frente à igreja Matriz onde foi realizada missa campal.
A disputa ficou entre o grupo de
petistas que estavam com a senadora Heloísa Helena (PT-AL), o
grupo do ex-governador e candidato ao Senado Tasso Jereissati
(PSDB) e o grupo que acompanhava Welington Landin (PSB),
candidato ao governo do Estado.
A lotação do altar era tanta que
Tasso se irritou em determinado
momento, desceu do altar e ficou
no meio dos romeiros. No grupo
de Tasso estavam a candidata ao
Senado Patrícia Gomes (PPS) e o
candidato ao governo do Ceará
pelo PSDB, Lúcio Alcântara.
Para a romeira Verediana Gomes da Silva, que mora em Juazeiro e nunca deixa de acompanhar
o evento final, a "procissão estava
parecendo um comício". Até o
padre Murilo de Sá Barreto, vigário da igreja de Nossa Senhora das
Dores, matriz de Juazeiro do Norte, fez referência aos candidatos.
"Não adianta pedir bênção para
candidato, porque teria de ser
com três litros de água benta para
dar certo. O político tem de ficar
bem molhadinho", brincou padre
Murilo durante um sermão.
A maior exposição de candidatos aconteceu na carreata dos romeiros, anteontem à noite. Ônibus e caminhões paus-de-arara
tradicionalmente são enfeitados
para percorrer o trecho da entrada de Juazeiro do Norte até o centro da cidade, em 12 quilômetros.
Além de enfeitar os veículos
com imagens de santos, os fiéis
também tinham de colocar faixas
com os nomes dos políticos que
financiaram a viagem. "O nosso
grupo veio com seis ônibus e 300
pessoas. A faixa aí é do político
que pagou para gente vir", disse
Márcio Costa, 21, motorista de
um ônibus de Aracaju, Sergipe.
No meio da carreata também
houve um desfile de carros de
som de candidatos, que tocavam
jingles em meio ao som de cantigas religiosas. Todos os locais visitados pelos fiéis, exceto as igrejas,
tinham santinhos, adesivos e fotografias de políticos. Até no pé da
imagem de padre Cícero adesivos
de candidatos eram colados ao lado da assinatura de quem passava
por lá, como manda a tradição.
Na sala dos milagres, dezenas de
santinhos de políticos de várias
eleições passadas e da atual misturavam-se a ex-votos, símbolos
deixados pelos fiéis como sinal de
uma graça alcançada. O deputado
estadual Vasques Landin (PSDB)
nega o caráter eleitoreiro da ida de
políticos: "O povo gosta de ver o
político passar. Eles até aplaudem. Estamos aqui por devoção".
"Quando eu era muito pequena,
minha mãe veio fazer promessa
para eu ficar boa", disse a senadora alagoana Heloísa Helena (PT).
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