|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONTAS PÚBLICAS
No cenário mais otimista, ajuste seria bancado por estatais
Governo estuda corte de até R$ 2 bilhões no Orçamento
KENNEDY ALENCAR
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal finaliza os
cálculos para determinar a necessidade e o tamanho de um novo
corte no Orçamento deste ano.
No cenário mais positivo, que o
governo julga o mais provável, o
corte varia entre entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões. Nessa hipótese, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva poderia optar por
não cortar nada do Orçamento e
compensar a quantia com um esforço maior de ajuste das estatais.
No cenário mais negativo, o
corte atingiria até R$ 2 bilhões. O
governo julga essa possibilidade
mais improvável, por avaliar que
haverá uma leve recuperação econômica no último trimestre deste
ano. A enorme diferença entre o
cenário mais positivo e o mais negativo se deve a uma avaliação
mais ou menos pessimista em relação ao crescimento do PIB neste
ano e também ao desempenho
das estatais, que contribuem decisivamente para o cumprimento
da meta de superávit primário (a
economia do setor público para
pagar juros). A meta é de 4,25%
do PIB para o setor público.
A queda de R$ 600 milhões na
arrecadação federal em agosto assustou o governo. Na última sexta-feira, falava-se no Palácio do
Planalto que dificilmente o Orçamento deste ano escaparia de um
novo corte. Ontem, esse discurso
dava sinais de arrefecimento.
Motivo: na avaliação do governo, a economia deverá terminar o
ano com um crescimento do PIB
entre 0,8% e 1%. As estatais têm
tradição de apresentar maior lucratividade no segundo semestre.
A junção desses dois fatores levaria à necessidade de um corte orçamentário entre R$ 200 milhões
e R$ 300 milhões. Diante do desgaste político de ter de voltar a
cortar o Orçamento, ainda que isso signifique um ajuste, Lula poderia exigir um maior esforço das
estatais e não cortar nada.
No começo do ano, o governo
cortou R$ 14 bilhões do atual orçamento. Já descontingenciou (liberou após reavaliação de receitas) R$ 1,5 bilhão. Um eventual
corte de R$ 200 milhões a R$ 300
milhões seria, portanto, um ajuste
em relação a essas cifras. Mas a
leitura de oposicionistas e da mídia seria a de mais um corte num
orçamento bastante apertado.
Na visão do governo, haverá
uma recuperação da economia no
último trimestre, o que ajudaria a
compensar a queda de arrecadação de agosto. Também existe expectativa de aumento da arrecadação com o "Refis 2" -um novo
programa de parcelamento de dívidas das empresas com o fisco federal. A parcela da Previdência
Social nesse parcelamento começou a entrar no caixa em agosto,
mas ainda não foi apurada.
Já o cenário mais negativo prevê
um crescimento do PIB de 0,4% a
0,5%, acrescido de maior dificuldade das estatais para contribuir
com o superávit primário. Mas a
Petrobras, a maior estatal, deverá
apresentar um lucro significativo
em 2003, o que afastaria, na avaliação do governo, a necessidade
de um corte de até R$ 2 bilhões.
Por outro lado, a Receita ainda
avalia se deve ou não incluir nas
contas as perdas de arrecadação
por conta de liminares judiciais
contra o pagamento do Imposto
sobre Produtos Industrializados e
da Cide (contribuição sobre o
consumo de combustíveis). As
perdas são de R$ 300 milhões por
mês e não vinham sendo incluídas nas estimativas do governo.
No Tesouro, a preocupação é
com o aumento do ritmo de gastos dos ministérios neste segundo
semestre. Os técnicos estão avaliando qual é a disponibilidade de
dinheiro no caixa dos ministérios.
Um corte de R$ 2 bilhões teria alto
custo político num ano marcado
por desaquecimento econômico,
com aumento de desemprego e
queda da renda dos trabalhadores. Um auxiliar de Lula disse que,
se houver corte, dificilmente será
tão grande assim. O presidente
deve tomar uma decisão até sexta,
dois dias antes de iniciar viagem
aos EUA, México e Cuba.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Oposição questionará Mantega sobre R$ 10 bi que reforma tira do Orçamento Índice
|