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JANIO DE FREITAS
A arma do lobby
A única explicação imaginável, à falta de algo convincente, para o descumprimento do acordo entre Senado e Câmara, em torno do projeto para
restrição de porte e posse de arma, é intensificação do lobby
dos fabricantes junto a deputados, com o uso de armas diferentes daquelas que fabricam.
O relatório da deputada Laura Carneiro propõe várias modificações no texto aprovado pelo Senado, sempre favoráveis
aos fabricantes e aos comerciantes de armas, por atenuação ou
extinção de restrições. Desde
medidas talvez aceitáveis, como
a redução da taxa de registro de
arma, para estimular os possuidores com menor disponibilidade de dinheiro, até a ampliação
descabida do direito de porte,
por exemplo, aos motoristas de
caminhão. Todos os dias são assaltados e roubados muito mais
motoristas de automóvel, e nem
por isso se justificaria que pudessem levar armas nos carros.
O projeto aprovado no Senado, e a ser votado agora na Câmara, não é uma panacéia, porque o problema das armas de
pequeno porte é muito complicado. Deve-se esperar que maiores restrições à venda no comércio levarão ao maior contrabando: vamos ter, como os cigarros,
armas que saem para um país e
logo estão de volta para o comércio sem impostos. Espere-se
maior corrupção policial com
venda de armas apreendidas e,
ainda, corrupção para dispensar os flagrantes que, segundo o
projeto, resultariam em prisão
sem direito a fiança. Não esqueçamos, também, que a lei acrescenta pouco, e nada de fundamental, às restrições já existentes há muito, entre as quais a
proibição do porte de arma sem
autorização específica.
Apesar disso, são maiores os
motivos para que a experiência
das novas restrições seja feita.
Até como um estímulo a mais
para os reexames que o Ministério da Justiça está fazendo e incentivando, nos problemas da
insegurança urbana. Já estão
comprovados os bons resultados, para citar um deles, da
transferência de presos perigosos e da incomunicabilidade
parcial dos que comandam, a
partir dos presídios, ações das
suas quadrilhas.
Mas, para que o projeto chamado, com exagero, de estatuto
do desarmamento valha a pena,
depende de que a maioria da
Câmara, neste caso, faça à população a especial gentileza de
não substituir o interesse social
por outros. Será útil que proceda
assim, até para não perder de
todo o hábito de fazê-lo, como
tem havido nos últimos tempos.
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