São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 2005

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Valério não explicou destino de R$ 1,89 mi

FERNANDA KRAKOVICS
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um balanço da CPI dos Correios indica uma diferença de R$ 1,89 milhão entre os empréstimos concedidos pelo Banco Rural a empresas do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza e os valores de fato sacados ou transferidos para terceiros no esquema de caixa dois montado por Valério e pelo PT.
Segundo estudo divulgado ontem pelo sub-relator da movimentação financeira da CPI, Gustavo Fruet (PSDB-PR), o problema reside numa conta da SMPB Comunicação que recebeu R$ 32,2 milhões de empréstimos do Rural, mas passou, por meio de 396 cheques, R$ 30,3 milhões nas operações de caixa dois ou "mensalão" para pessoas ou empresas.
A diferença coloca em xeque a versão apresentada pela dupla Valério-Delúbio à Procuradoria Geral da República, Polícia Federal e CPI dos Correios para justificar os saques milionários na boca do caixa das contas das agências de publicidade de Valério. Segundo os dois, todo o dinheiro dos empréstimos obtidos pelas empresas de Valério, R$ 55,94 milhões, foram para o PT e partidos aliados indicados por Delúbio.
No quadro divulgado ontem pela CPI, a diferença total apontada é de R$ 5,8 milhões, mas os próprios técnicos da CPI admitiram que não levaram em conta, para a elaboração dessa tabela, o destino de R$ 3,9 milhões já apontado à corretora de valores Bônus-Banval, de São Paulo. Segundo Valério, a corretora recebia os recursos destinados ao PT.

Ocultação
A principal hipótese averiguada pelos técnicos da CPI para explicar a diferença de R$ 1,8 milhão é que Valério esteja ocultando, por algum motivo, beneficiários de peso que receberam esse dinheiro no esquema do caixa dois do PT.
Em depoimentos, em entrevistas e em comunicados emitidos por seus representantes, Marcos Valério já repetiu que todo o dinheiro emprestado foi repassado ao esquema do PT.
A CPI também revelou que depósitos de R$ 180 milhões nas empresas de Valério continuam sem a correta identificação.
O balanço listou os maiores depositantes identificados nas contas das empresas (para todos as agências de Valério atuam como clientes diretos ou indiretos): Banco do Brasil (R$ 369,5 milhões), empresas de telefonia (R$ 150 milhões), Visanet (R$ 91,4 milhões), governo do Distrito Federal (R$ 74,2 milhões), Eletronorte (R$ 41,4 milhões), Tesouro Nacional (R$ 44,5 milhões), cujos valores se referem às contas publicitárias dos ministérios do Trabalho e dos Esportes, Banco Rural (R$ 40 milhões), Correios (R$ 36 milhões), governo de Minas Gerais (R$ 30,4 milhões), Usiminas R$ 26 milhões), Fiat Automóveis (R$ 21 milhões) e Assembléia Legislativa de Minas (R$ 16,5 milhões).
A movimentação financeira total das empresas de Valério (entrada e saída de dinheiro) atingiu R$ 4,9 bilhões no período 2000-2005. No caso das agências de publicidade, apenas uma parte, normalmente 10%, fica efetivamente com as empresas. O restante é gasto no pagamento dos meios de comunicação que divulgam as peças publicitárias.
A movimentação financeira das empresas de Valério, segundo a CPI dos Correios, saltou de R$ 331 milhões, no ano 2000, para R$ 1,53 bilhão no ano de 2004.
O maior crescimento nos créditos das empresas coincide com o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O valor total pulou de R$ 692 milhões, em 2002, para R$ 1,3 bilhão em 2003.

Telefonia
Na reunião administrativa de ontem, a CPI também divulgou os dados de chamadas dadas e recebidas relativos a 3.181 linhas telefônicas de 36 pessoas e empresas investigadas pela CPI.
A comissão aguarda ainda os dados de oito empresas de telefonia. Os dados da Telefônica e da Vivo estão "em processo de correção", segundo a CPI.
Dados extraídos pela comissão da quebra dos sigilos dos aparelhos celulares indicam que Silvio Pereira, ex-secretário geral do PT, recebeu 35 chamadas da construtora OAS e procedeu 16 chamadas para a empresa. Silvio também fez 28 e recebeu três ligações da construtora Norberto Odebrecht.


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