São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 2005

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Ex-prefeito acusa Lula de implantar "Estado policial fascista" no Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-prefeito Paulo Maluf (PP), preso na carceragem da Polícia Federal de São Paulo desde às 0h20 de sábado, afirmou ontem, em entrevista à Folha, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva implantou o Estado policial fascista no país.
A declaração de Maluf foi uma resposta à declaração de Lula de que o ex-prefeito não será o primeiro nem o último a ser preso pela PF por envolvimento em irregularidades.
"Acabou o Estado de Direito e implantaram o estado policial fascista", afirmou Maluf, para quem sua prisão serve a interesses do governo federal de criar uma "cortina de fumaça" diante da crise política em Brasília.
A entrevista com Maluf foi feita por escrito. Ele respondeu a questões de próprio punho, releu, fez correções e rasurou algumas palavras e uma resposta. Foi a segunda carta enviada ao ex-prefeito pela reportagem. A primeira, com perguntas sobre contas no exterior, não foi respondida.
O ex-prefeito afirmou que, por orientação de seus advogados, não recebeu ontem a visita da mulher, Sylvia, e dos filhos -quinta-feira é o dia permitido para as visitas.
"Só os advogados têm acesso [à carceragem]. Eles orientaram a minha família para não vir pelo assédio da imprensa."
O ex-prefeito falou sobre o suposto pagamento ao publicitário Duda Mendonça no exterior -o doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, informou ter enviado US$ 5 milhões para conta de Duda nos EUA, em 1998, a pedido de Flávio Maluf. À época, Maluf era candidato ao governo de São Paulo.
"Tudo foi pago em reais e as contas [da campanha política] foram aprovadas em 1998 pelo Tribunal Regional Eleitoral", disse.

Flávio
Das 11 questões enviadas pela reportagem, Maluf dedicou mais tempo para responder à pergunta sobre a prisão do filho dele, que ocorreu na manhã de sábado. A primeira resposta, de sete linhas, ele rasurou. Reescreveu e acrescentou alguns adjetivos, como "humilhação".
O ex-prefeito afirmou que, apesar de o filho ter recebido a promessa da PF de que não seria algemado, o acordo não foi cumprido. Ele reclamou da presença do repórter César Tralli, da TV Globo, no momento da prisão.
"Foi mais do que um abuso. Foi um circo armado para "reality show" global de humilhação. O repórter foi ao heliponto, que só a polícia sabia qual era, e filmou a cena humilhante e pré-acertada com o delegado [nome rasurado]. Daí, dirigiu-se à sede da PF em carro oficial da polícia, onde teve novamente o monopólio da cena em que meu filho chorou e assinou o termo de apresentação", disse Maluf.
O delegado da PF responsável pela operação foi Protógenes Queiroz. O diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, abriu sindicância para apurar se houve abuso na prisão de Flávio.
A respeito de sua reportagem, exibida no "Jornal Nacional" de sábado, a direção da TV Globo, informou que Tralli fez "seu trabalho, como qualquer outro repórter". No "Jornal Nacional", o apresentador William Bonner disse que Tralli, que cobre as investigações sobre Maluf há mais de cinco anos, fez apenas o seu trabalho com competência.

Política e prisão
Questionado sobre as condições de sua cela, Maluf afirmou que está em um "lugar comum". "Estou junto com outras dezenas de presos. [Na cela,] Éramos três. Ontem [anteontem] um deles teve alvará de soltura".
Apesar da prisão ocorrida anteontem de 54 pessoas por operação da PF, Maluf e Flávio continuam sozinhos na cela.
Ao falar sobre futuro político, o ex-prefeito afirmou que o momento é de reflexão. Na mesma semana em que foi preso, Maluf havia anunciado que sairia do PP e seria candidato em 2006.
"Este abalo injusto que sofri me leva a uma reflexão", disse.
A única pergunta não respondida por Maluf refere-se ao sucessor dele na prefeitura e ex-afilhado político, Celso Pitta, que afirmou que irá processar Maluf se sofrer alguma punição por conta das investigação. "Não comento."

Sindicância
Ontem o ex-prefeito e o filho foram ouvidos em duas sindicâncias abertas pela Direção Geral da Polícia Federal e em uma aberta a pedido Flávio, em maio deste ano.
Acompanhado pelos advogados, pai e filho falaram sobre o suposto abuso cometido por policiais na prisão do Flávio e sobre os eventuais privilégios que eles teriam tido na prisão.
A terceira sindicância foi aberta a pedido de Flávio, que afirmou ter sido constrangido no Aeroporto Internacional de São Paulo por policiais federais quando tentava viajar para a Alemanha.
O filho do ex-prefeito tinha uma autorização judicial. Mesmo assim, disse que os policiais gritaram com ele e o humilharam. (LC)


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