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Ex-prefeito acusa Lula de implantar
"Estado policial fascista" no Brasil
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-prefeito Paulo Maluf (PP),
preso na carceragem da Polícia
Federal de São Paulo desde às
0h20 de sábado, afirmou ontem,
em entrevista à Folha, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
implantou o Estado policial fascista no país.
A declaração de Maluf foi uma
resposta à declaração de Lula de
que o ex-prefeito não será o primeiro nem o último a ser preso
pela PF por envolvimento em irregularidades.
"Acabou o Estado de Direito e
implantaram o estado policial fascista", afirmou Maluf, para quem
sua prisão serve a interesses do
governo federal de criar uma
"cortina de fumaça" diante da crise política em Brasília.
A entrevista com Maluf foi feita
por escrito. Ele respondeu a questões de próprio punho, releu, fez
correções e rasurou algumas palavras e uma resposta. Foi a segunda carta enviada ao ex-prefeito
pela reportagem. A primeira, com
perguntas sobre contas no exterior, não foi respondida.
O ex-prefeito afirmou que, por
orientação de seus advogados,
não recebeu ontem a visita da
mulher, Sylvia, e dos filhos
-quinta-feira é o dia permitido
para as visitas.
"Só os advogados têm acesso [à
carceragem]. Eles orientaram a
minha família para não vir pelo
assédio da imprensa."
O ex-prefeito falou sobre o suposto pagamento ao publicitário
Duda Mendonça no exterior -o
doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi,
informou ter enviado US$ 5 milhões para conta de Duda nos
EUA, em 1998, a pedido de Flávio
Maluf. À época, Maluf era candidato ao governo de São Paulo.
"Tudo foi pago em reais e as
contas [da campanha política] foram aprovadas em 1998 pelo Tribunal Regional Eleitoral", disse.
Flávio
Das 11 questões enviadas pela
reportagem, Maluf dedicou mais
tempo para responder à pergunta
sobre a prisão do filho dele, que
ocorreu na manhã de sábado. A
primeira resposta, de sete linhas,
ele rasurou. Reescreveu e acrescentou alguns adjetivos, como
"humilhação".
O ex-prefeito afirmou que, apesar de o filho ter recebido a promessa da PF de que não seria algemado, o acordo não foi cumprido. Ele reclamou da presença do
repórter César Tralli, da TV Globo, no momento da prisão.
"Foi mais do que um abuso. Foi
um circo armado para "reality
show" global de humilhação. O repórter foi ao heliponto, que só a
polícia sabia qual era, e filmou a
cena humilhante e pré-acertada
com o delegado [nome rasurado].
Daí, dirigiu-se à sede da PF em
carro oficial da polícia, onde teve
novamente o monopólio da cena
em que meu filho chorou e assinou o termo de apresentação",
disse Maluf.
O delegado da PF responsável
pela operação foi Protógenes
Queiroz. O diretor-geral da PF,
Paulo Lacerda, abriu sindicância
para apurar se houve abuso na
prisão de Flávio.
A respeito de sua reportagem,
exibida no "Jornal Nacional" de
sábado, a direção da TV Globo,
informou que Tralli fez "seu trabalho, como qualquer outro repórter". No "Jornal Nacional", o
apresentador William Bonner
disse que Tralli, que cobre as investigações sobre Maluf há mais
de cinco anos, fez apenas o seu
trabalho com competência.
Política e prisão
Questionado sobre as condições
de sua cela, Maluf afirmou que está em um "lugar comum". "Estou
junto com outras dezenas de presos. [Na cela,] Éramos três. Ontem [anteontem] um deles teve alvará de soltura".
Apesar da prisão ocorrida anteontem de 54 pessoas por operação da PF, Maluf e Flávio continuam sozinhos na cela.
Ao falar sobre futuro político, o
ex-prefeito afirmou que o momento é de reflexão. Na mesma
semana em que foi preso, Maluf
havia anunciado que sairia do PP
e seria candidato em 2006.
"Este abalo injusto que sofri me
leva a uma reflexão", disse.
A única pergunta não respondida por Maluf refere-se ao sucessor
dele na prefeitura e ex-afilhado
político, Celso Pitta, que afirmou
que irá processar Maluf se sofrer
alguma punição por conta das investigação. "Não comento."
Sindicância
Ontem o ex-prefeito e o filho foram ouvidos em duas sindicâncias abertas pela Direção Geral da
Polícia Federal e em uma aberta a
pedido Flávio, em maio deste ano.
Acompanhado pelos advogados, pai e filho falaram sobre o suposto abuso cometido por policiais na prisão do Flávio e sobre os
eventuais privilégios que eles teriam tido na prisão.
A terceira sindicância foi aberta
a pedido de Flávio, que afirmou
ter sido constrangido no Aeroporto Internacional de São Paulo
por policiais federais quando tentava viajar para a Alemanha.
O filho do ex-prefeito tinha uma
autorização judicial. Mesmo assim, disse que os policiais gritaram com ele e o humilharam.
(LC)
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