São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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memória

Escândalo envolveu a cúpula do BC

DA REPORTAGEM LOCAL

O banqueiro Salvatore Cacciola, ex-dono do Banco Marka, foi protagonista de um dos maiores escândalos do país. O caso atingiu diretamente o então presidente do BC (Banco Central) Francisco Lopes.
Em janeiro de 1999, Lopes elevou o teto para a variação do dólar de R$ 1,22 para R$ 1,32. Essa era a saída para evitar estragos piores à economia brasileira, fragilizada pela crise financeira da Rússia, que se espalhou pelo mundo a partir do final de 1998.
Naquele momento, o banco de Cacciola tinha 20 vezes seu patrimônio líquido aplicado em contratos de venda no mercado futuro de dólar. Com o revés, Cacciola não teve como honrar os compromissos e pediu ajuda ao BC. Seu intermediário foi Luiz Bragança, amigo de infância de Francisco Lopes.
Alegando risco sistêmico, termo empregado para dizer que as instituições financeiras poderiam quebrar, o BC permitiu que o Marka e também o FonteCindam comprassem dólares na cotação anterior à virada do câmbio.
A ajuda causou um prejuízo bilionário aos cofres públicos. Dois meses depois, cinco testemunhas vazaram o caso alegando que Cacciola comprava informações privilegiadas do próprio BC. Sem explicações, Lopes pediu demissão em fevereiro.
O caso deu início a uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que acusou a alta cúpula do Banco Central de tráfico de influência, gestão temerária e vários outros crimes. Durante depoimento na comissão, Lopes se recusou a assinar termo de compromisso de falar só a verdade e recebeu ordem de prisão da CPI.
Em junho de 2000, Cacciola foi preso pela Polícia Federal. Ficou na cadeia 37 dias. Sua saída se deveu à concessão de um habeas corpus pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello, que achou desnecessária a prisão.
No mesmo dia em que obteve o habeas corpus, Cacciola foi para o Uruguai e, de lá, para a Argentina, onde tomou um avião rumo à Itália. Como tem cidadania italiana, passou a viver em Roma.
A Folha entrevistou o banqueiro em 2001. Ele morava em Roma em um condomínio luxuoso cuja casa era cercada por um castelo feudal. "Aqui sou um homem livre", disse.
Em 2005, a Justiça Federal no Rio condenou Cacciola, Francisco Lopes e outros dirigentes do BC por causa do caso Marka/ FonteCindam.


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