|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIO GASPARI
O homem da Bear
Sterns cantou a pedra
O pensamento único está
sempre condenado a ficar
burro. O pensamento burro está
condenado a cair na superstição
e o pensamento supersticioso está condenado a ser desmascarado. E assim vai contada em poucas palavras a história da sabedoria da ekipekonômica do tucanato.
Arruinaram o país e olham
para a choldra com um ar superior, sugerindo que ou ela não
sabe votar, ou o candidato que
ela parece estar prestes a escolher ainda não entendeu como
funcionam "os mercados". Um
consolo para Lula: os sábios dos
"mercados" ainda não disseram
dele metade do que já disseram
de José Serra.
A alta dos juros para 21% ao
ano foi apresentada como algo
inevitável, quase benfazejo.
Quem tem dinheiro ganha sem
trabalhar. Quem não tem pelo
menos deve aplaudir, do contrário passa por duro e burro. Esses
juros lunares vão derrubar a
economia, aumentar o desemprego e, sem dúvida, comprometerão o primeiro semestre de
gestão econômica do próximo
governo. Mesmo assim, não havia nada melhor à mão. Mesmo
admitindo que essa turma esteja certa, a sua maneira de pensar não é a única.
Aqui vão algumas opiniões de
David Malpass, economista-chefe da casa Bear Sterns, de
Nova York. (Conta a lenda que,
no tempo do dólar de R$ 1,20, foi
a Bear Sterns quem colocou, de
brincadeira, uma Bentley com
chofer a serviço de uma personalidade brasileira a quem desejava agradar.)
Em junho passado, quando se
festejava o empréstimo-salvador do FMI, Malpass advertia,
num artigo no "Wall Street
Journal": "É difícil entender como um programa econômico
assentado numa taxa de juros
de 18% possa funcionar".
Quando os sábios da ekipekonômica começavam a por em
circulação a teoria do "risco Lula", Malpass denunciava sua
falsidade. Dizia que se dava o
contrário: anos seguidos de juros altos e moeda fraca geraram
um "problema de crescimento"
que explicava a popularidade
do candidato. Lembrava que a
renda per capita dos brasileiros
estava em US$ 3.100, contra US$
3.200 em 1990.
Para Malpass, o Brasil só sai
da crise se crescer. Sem crescer,
não sai. Quando "os mercados"
festejavam os US$ 10 bilhões do
FMI, ele dizia que "juros altos, a
incerteza cambial e o peso da dívida servirão apenas para manter as baixas taxas de crescimento, não importa quem venha a ser eleito. O crescimento
débil agravará o problema da
divida, criando um círculo vicioso". Ele previa uma rachadura no estratagema para depois
da eleição. Aconteceu antes.
Chegou-se a outubro com o real
valendo menos e os juros valendo mais.
Isso com os dois candidatos a
presidente dizendo que vão aumentar as exportações, respeitando os acordos com o FMI.
Malpass lembra que o Brasil terá que disputar mercados e investimentos com China, México,
Coréia e Taiwan, países com
moedas estáveis, juros baixos,
dívida controlada e "livres da
má orientação econômica do
FMI".
Malpass terminou seu artigo
com um parágrafo que deveria
ser incorporado à versão 1.0.2
da "Carta ao Povo Brasileiro"
de Lula:
"Os Estados Unidos se orgulham de ter um dólar forte e estável, juros baixos e carga tributária declinante. Esses conceitos
são vitais para criação de um
clima atraente aos investimentos e ao crescimento econômico.
Diante da estrutura da dívida
brasileira e da urgência de sua
crise, eles são particularmente
adequados para o país. Com o
FMI injetando dinheiro no Brasil para demonstrar o seu apoio,
o que se deveria encorajar era
estabilidade cambial e crescimento, não austeridade".
Texto Anterior: PT sob Suspeita: CPI desmarca depoimento de empresário Próximo Texto: ELEIÇÕES 2002 Lula e Serra caçam votos no Nordeste Índice
|