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REGRAS DO JOGO
Velhos e novos caciques
LUÍS FRANCISCO CARVALHO FILHO
A cada eleição, o diagnóstico imediato e ufanista é
sempre o mesmo: o resultado das
urnas modifica o retrato político
do país... A tese esboçada depois
de 6 de outubro é a de que o eleitor, sábio e cansado, decidiu aposentar velhos caciques. Maluf perdeu, Collor perdeu, Quércia perdeu, logo, o Brasil é outro.
Mas os resultados podem ser
observados diferentemente.
Se Quércia tivesse pavimentado
seu retorno à cena política como
candidato a deputado teria uma
votação consagradora e seria hoje
um interlocutor poderoso, sobretudo em caso de vitória de Lula.
Erro de estratégia. Erro que também adia a volta de Collor aos salões da democracia.
Em relação ao esvaziamento da
candidatura de Maluf -na verdade ele venceu uma única eleição majoritária em toda a sua vida-, é preciso lembrar que os
seus dois principais adversários se
apropriaram de seus ideais de segurança pública: Alckmin e Genoino, cada qual a seu modo, são
hoje um pouco malufistas.
Quando se analisa o crescimento do PT, é bom lembrar que o
crescimento do PMDB e do PSDB,
em passado não muito distante,
também foi saudado pela mídia
como grande renovação. Pois há
quem diga que em Mato Grosso
do Sul a atmosfera política não é
muito diversa da que se respira
na Bahia ou no Maranhão...
O coronelismo, aliás, continua
vivo e vai muito bem.
ACM volta ao Senado. Seu filho
é seu suplente de novo e, como novidade, aparece na Câmara, o seu
neto, também chamado ACM,
sem experiência e sem ocupação
informada -pelo menos no site
do TSE-, eleito com 400 mil votos. É o que se pode chamar de renovação na própria casa.
Jader Barbalho volta ao Congresso, com enorme votação, e
elege um filho deputado estadual.
Garotinho entrega o governo
para a mulher. Isso sem falar na
posição constrangedora das igrejas evangélicas, na incrível rotina
de distribuir votos de cabresto.
Como revela a reportagem da
jornalista Cynara Menezes, velhas dinastias permanecem intactas e novas dinastias políticas estão se formando. Inclusive no PT.
E não se pode esquecer da assustadora votação de Enéas. Uma
das explicações correntes é a da
inviabilização do voto de protesto
pela urna eletrônica. Mas o voto
em Enéas pode ser visto como um
voto consciente de quem quer
uma alternativa real a políticos
tradicionais ou de quem simplesmente acredita em Enéas.
A análise do cientista político
Fernando Limongi é impecável. O
crescimento do Prona é legítimo.
Em eleição proporcional, a votação em um candidato beneficia
outros do mesmo partido que nominalmente receberam menos
votos. É a regra do jogo, vale para
todos os concorrentes e, em tese,
serve para fortalecer a legenda.
Resta saber se com outro sistema de eleição haveria espaço para esse desenho mal-humorado
da realidade política.
O voto distrital misto, a alternativa que se cogita para o Brasil, teria o efeito, segundo os críticos, de
fortalecer o caciquismo na direção dos partidos e de acentuar o
caráter paroquial das disputas.
Pode ser. Mas a paróquia talvez
seja o território ideal para o embate entre o novo e o velho. Ainda
que o velho comece vencendo
-como hoje vence. Ainda que
demore para o novo vencer.
lfcarvalhofilho@uol.com.br
LUÍS FRANCISCO CARVALHO FILHO,
advogado criminal e articulista da
Folha, escreve às quartas nesta coluna
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