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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ OFENSIVA GOVERNISTA
Presidente avalia que não houve abalo à sua imagem, decide-se por candidatura e exige "enquadramento" do PT à política econômica
Lula vê crise no fim e já prepara campanha
KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL AO PORTO
Baseado em pesquisas recentes
encomendadas pela Presidência
para mensurar a extensão do dano do escândalo do "mensalão" à
sua imagem, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva já decidiu ser
candidato à reeleição, segundo
admitiu diretamente a auxiliares
que relataram sua tomada de posição à Folha.
Por ora, ele manterá o discurso
de que ainda não decidiu, mas
concluiu que sobreviverá à crise
política com força e começou a
preparar detalhes operacionais da
campanha. Por exemplo, o "enquadramento" do PT à política
econômica e a avaliação de que
deverá ter três coordenadores
principais, o ministro Jaques
Wagner (Relações Institucionais),
o presidente eleito do PT, Ricardo
Berzoini (SP), e o ex-ministro
Luiz Gushiken.
Lula confidenciou a auxiliares
que avalia que ganhará a eleição
de outubro do ano que vem. Julga
que os números de seu governo
nas áreas econômica e social são
melhores do que os dados das
duas gestões do tucano Fernando
Henrique Cardoso, o que lhe daria discurso para bombardear
qualquer candidato do PSDB,
partido visto como o principal adversário. Crê que, na campanha,
poderá vender essas realizações e
obter o segundo mandato.
Outra linha de campanha deverá ser o discurso de que saiu ileso
pessoalmente de três CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) do Congresso. As pesquisas
em poder do Planalto mostram
que Lula sofreu desgaste, mas que
não é visto como "corrupto" nem
envolvido diretamente nas acusações de corrupção.
Política econômica (baixa inflação e crescimento do Produto Interno Bruto), política social (Bolsa-Família para mais de 11 milhões de famílias de baixa renda
em 2006) e preservação ética pessoal em meio a casos de corrupção que atingiram "o PT, mas
também outros partidos", formarão tripé do discurso de campanha eleitoral de Lula.
"A oposição está investigando e
batendo duro no governo há cinco meses. E não pode dizer nada
do presidente. Ele não foi comprometido em nada. Sua imagem
pessoal é de integridade, o que é
fundamental para ele vencer a
eleição", disse à Folha o embaixador do Brasil em Portugal, Paes de
Andrade, ex-deputado e peemedebista que apoiou Lula em 2002.
Paes acompanhou Lula na viagem de quinta ao Porto para a 8ª
Cimeira (cúpula) Brasil-Portugal.
De acordo com as pesquisas do
governo, o PT foi mais duramente
atingido pelo "mensalão" do que
Lula. O partido perdeu o "monopólio ético", segundo descrição de
um auxiliar presidencial, e passou
a ser visto como outra legenda
qualquer. Perdeu um diferencial
positivo e que abrirá um inédito
flanco de críticas na campanha.
Em outros pleitos, o PT sofreu
acusações de corrupção, mas elas
nunca foram tão verossímeis aos
entrevistados como as de agora.
Lula sofreu um desgaste, mas
considerado administrável e reversível. Nos levantamentos, a
maioria o julga "honesto" e identifica a crise como um problema
mais geral da classe política do
que do presidente.
"As pesquisas mostram que o
presidente Lula manteve muita
força se levarmos em conta o
bombardeio que sofreu, com acusações infundadas e um clima de
exacerbação política criado artificialmente pela oposição", diz o
ministro Luiz Dulci (Secretaria
Geral da Presidência), ao qual ficou subordinada a Secom (Secretaria de Comunicação de Governo) desde que Gushiken deixou
de ser ministro. Dulci faz parte da
comitiva de Lula que visitou Portugal e que se encontra em Roma,
onde o presidente deveria chegar
na noite de ontem.
Domar o PT
A exemplo do que fez em 2001,
quando exigiu da cúpula petista
uma série de concessões para ser
um candidato competitivo, o presidente já desencadeou operação
para enquadrar o PT.
Dias antes de Berzoini ser eleito
presidente do partido, Lula lhe
disse que não aceitaria críticas da
legenda ao governo nos próximos
meses e sobretudo na campanha
eleitoral, principalmente à política econômica do ministro Antonio Palocci (Fazenda). O presidente tem pedido que o governo e
o PT se unam, por avaliar que a
campanha será muito dura, pois a
oposição ganhou força neste ano
e está com expectativa de poder.
O problema é que a ala moderada do PT, à qual Lula pertence,
encolheu nas últimas eleições internas do partido e perdeu a
maioria no Diretório Nacional. O
presidente já pediu a Berzoini que
faça composições com a tendência Movimento PT para formar
uma maioria que evite que o seu
partido seja um crítico duro do
próprio governo. Essa tendência é
a mesma do líder do governo na
Câmara, Arlindo Chinaglia (SP),
que já foi cobrado por Lula a articular apoio ao governo.
Os homens do presidente
O presidente tem dito a membros do governo que Wagner tem
se saído bem como articulador
político. Ele é forte cotado para
ser o coordenador-geral da campanha, papel desempenhado em
2002 pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. "É jeitoso esse galego", diz Lula. "Galego" é como o
chama na intimidade.
Gushilken estaria subaproveitado desde quando deixou a Secom,
em julho. Hoje chefe do NAE
(Núcleo de Assuntos Estratégicos) e assessor especial do presidente, ele foi coordenador-geral
da campanha de Lula em 1998 e
coordenador de comunicação da
campanha de 2002. Lula quer
aproveitar essa experiência e vai
convidá-lo a trabalhar na eleição.
Berzoini, recém-eleito presidente do PT, seria o coordenador
"para cuidar só do PT", fazendo a
ligação da campanha de Lula com
outros candidatos petistas nos Estados. Candidato a deputado federal, teria uma campanha fácil e
poderia assumir compromissos
na do presidente.
Nomes aventados para cuidar
do programa de governo de Lula
são Tarso Genro, presidente interino do PT, e Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais.
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