São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIAGEM AO EXTERIOR

Presidente não comenta críticas de ministro e diz que "sempre haverá falta de dinheiro no governo"

Lula diz que gripe aviária preocupa mais que a aftosa

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SALAMANCA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tirou ontem o foco da febre aftosa, o mais recente escândalo no Brasil, para dirigi-lo à gripe aviária, que está deixando Europa e EUA em estado de alarme.
"O que me preocupa agora não é nem mais a febre aftosa, que dessa já temos experiência. O que me preocupa agora é a febre [sic] aviária, porque essa parecia que não ia chegar no Brasil e agora já há sinais de que está na Colômbia", disse Lula, em entrevista aos jornalistas brasileiros à saída do Palácio Fonseca, em Salamanca, que foi o QG da 15ª Cúpula Ibero-Americana ontem encerrada. "Essa [a gripe aviária] é grave, porque mata gente", reforçou.
Lula contou que, na sexta passada, o governo fez reunião na qual ficou decidido "comprar todas as vacinas que pudermos comprar e fabricar as que pudermos fabricar para que a gente possa proteger os nossos aviários". A preocupação não impediu Lula de brincar: "Quero que muita gente coma nosso frango pelo mundo afora".
Sobre a aftosa e as declarações do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, criticando o orçamento de sua pasta para a defesa sanitária, Lula preferiu a saída de culpar os jornais, primeiro, e a zanga da "mãe natureza", depois.
Disse: "Eu tenho lido os jornais todo dia e conversado com o Roberto Rodrigues todo dia. Há uma diferença entre o que leio e o que converso com ele". O problema é que a crítica do ministro não foi feita pelos jornais, mas ao vivo no programa "Bom Dia, Brasil", da Rede Globo, no qual lamentou que o orçamento de defesa sanitária tenha sido cortado em 80%.
Para Lula, no entanto, os casos de febre aftosa não surgiram por falta de dinheiro, "porque se o cidadão dono do gado tivesse comprado as vacinas, com R$ 600 teria vacinado todo o seu gado".
O presidente reconhece que "sempre haverá falta de dinheiro no governo como na casa de qualquer um de nós. Sempre o que nós ganhamos está aquém daquilo que necessitamos. Temos que administrar corretamente o dinheiro e gastar nas coisas que é prioridade, como estamos fazendo". Sobre a situação de penúria na agricultura, também apontada por Rodrigues, Lula culpa "dois problemas sérios": excesso de produção de grãos e a seca.
"Eu nunca imaginei que fosse assistir noticiário sobre seca na Amazônia, região em que chove 12 mil milímetros por ano", disse.
Emendou com nova versão sobre a "urucubaca", que mencionou dias atrás: "Significa que a mãe natureza deve estar zangada com alguém. Acho que os países poluidores do planeta devem tomar mais cuidado, porque, mexe, mexe, mexe, um dia a mãe natureza fica zangada e acontece o tanto de terremoto que está acontecendo, o tanto de furacão, para que o Pantanal e a Amazônia tenham problema de seca". Fechou Lula: "Eu que vim de Garanhuns por causa da seca jamais imaginei que ia ter seca no Pantanal".
Ele referiu-se também à "MP do bem", destinada a dar alívio fiscal para as empresas, mas que uma trapalhada do governo e do Congresso fez caducar na sexta. Disse que "o Congresso, que é tão criativo, vai encontrar uma solução", porque "a MP do bem interessa ao Brasil, ao governo, à oposição, aos empresários. O setor privado não vai perder, pode ficar certo".
Sobre a crise política, Lula repetiu que houve acusações levianas, que logo ficará demonstrado o que há de verdade e o que há de mentira, e terminou com uma frase que não quer dizer absolutamente nada: "A crise está chegando aonde ela devia chegar".


Texto Anterior: Referendo: "Sim" usa corpo-a-corpo para conter o "não"
Próximo Texto: Isto é Lula
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.