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VIAGEM AO EXTERIOR
Presidente não comenta críticas de ministro e diz que "sempre haverá falta de dinheiro no governo"
Lula diz que gripe aviária preocupa
mais que a aftosa
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SALAMANCA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva tirou ontem o foco da febre aftosa, o mais recente escândalo no Brasil, para dirigi-lo à gripe aviária, que está deixando Europa e EUA em estado de alarme.
"O que me preocupa agora não
é nem mais a febre aftosa, que
dessa já temos experiência. O que
me preocupa agora é a febre [sic]
aviária, porque essa parecia que
não ia chegar no Brasil e agora já
há sinais de que está na Colômbia", disse Lula, em entrevista aos
jornalistas brasileiros à saída do
Palácio Fonseca, em Salamanca,
que foi o QG da 15ª Cúpula Ibero-Americana ontem encerrada.
"Essa [a gripe aviária] é grave,
porque mata gente", reforçou.
Lula contou que, na sexta passada, o governo fez reunião na qual
ficou decidido "comprar todas as
vacinas que pudermos comprar e
fabricar as que pudermos fabricar
para que a gente possa proteger os
nossos aviários". A preocupação
não impediu Lula de brincar:
"Quero que muita gente coma
nosso frango pelo mundo afora".
Sobre a aftosa e as declarações
do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, criticando o orçamento de sua pasta para a defesa sanitária, Lula preferiu a saída
de culpar os jornais, primeiro, e a
zanga da "mãe natureza", depois.
Disse: "Eu tenho lido os jornais
todo dia e conversado com o Roberto Rodrigues todo dia. Há uma
diferença entre o que leio e o que
converso com ele". O problema é
que a crítica do ministro não foi
feita pelos jornais, mas ao vivo no
programa "Bom Dia, Brasil", da
Rede Globo, no qual lamentou
que o orçamento de defesa sanitária tenha sido cortado em 80%.
Para Lula, no entanto, os casos
de febre aftosa não surgiram por
falta de dinheiro, "porque se o cidadão dono do gado tivesse comprado as vacinas, com R$ 600 teria
vacinado todo o seu gado".
O presidente reconhece que
"sempre haverá falta de dinheiro
no governo como na casa de qualquer um de nós. Sempre o que
nós ganhamos está aquém daquilo que necessitamos. Temos que
administrar corretamente o dinheiro e gastar nas coisas que é
prioridade, como estamos fazendo". Sobre a situação de penúria
na agricultura, também apontada
por Rodrigues, Lula culpa "dois
problemas sérios": excesso de
produção de grãos e a seca.
"Eu nunca imaginei que fosse
assistir noticiário sobre seca na
Amazônia, região em que chove
12 mil milímetros por ano", disse.
Emendou com nova versão sobre a "urucubaca", que mencionou dias atrás: "Significa que a
mãe natureza deve estar zangada
com alguém. Acho que os países
poluidores do planeta devem tomar mais cuidado, porque, mexe,
mexe, mexe, um dia a mãe natureza fica zangada e acontece o tanto de terremoto que está acontecendo, o tanto de furacão, para
que o Pantanal e a Amazônia tenham problema de seca". Fechou
Lula: "Eu que vim de Garanhuns
por causa da seca jamais imaginei
que ia ter seca no Pantanal".
Ele referiu-se também à "MP do
bem", destinada a dar alívio fiscal
para as empresas, mas que uma
trapalhada do governo e do Congresso fez caducar na sexta. Disse
que "o Congresso, que é tão criativo, vai encontrar uma solução",
porque "a MP do bem interessa
ao Brasil, ao governo, à oposição,
aos empresários. O setor privado
não vai perder, pode ficar certo".
Sobre a crise política, Lula repetiu que houve acusações levianas,
que logo ficará demonstrado o
que há de verdade e o que há de
mentira, e terminou com uma
frase que não quer dizer absolutamente nada: "A crise está chegando aonde ela devia chegar".
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