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ELIO GASPARI
Os tucanos querem a lei do silêncio
O grão-tucano Aécio Neves, governador de Minas
Gerais, diz que o presidente eleito
do PT, Ricardo Berzoini, confunde a opinião pública quando pede
a investigação das malfeitorias financeiras cometidas nas campanhas do PSDB. Nas suas palavras,
praticam "um grande equívoco
aqueles que no PT ainda acham
que misturando as coisas, ou incriminando outros, se absolvem".
Na origem dessa controvérsia
está a presença do caixa da campanha do senador Eduardo Azevedo, presidente da nação tucana, numa das pontas do valerioduto que engordava petistas.
Sabe-se que a bomba de Roberto Jefferson explodiu numa disputa por uma diretoria de Furnas.
Nela estava, havia 12 anos, o doutor Dimas Toledo. Tinha, entre
outros, o apoio de parlamentares
do tope de Jefferson, Severino Cavalcanti e José Janene. Numa história pouco investigada, Furnas
teria repassado alguns milhões de
reais às caixas delúbias. Acreditando-se que isso seja verdade, seria difícil crer que essa linha de
transmissão tenha sido inaugurada pelos petistas. Em 12 anos, Toledo serviu também aos governos
Itamar Franco e FFHH.
O PSDB adota uma conduta
histérica toda vez que se fala na
caixa mineira. Ao contrário do
que diz Aécio Neves, é ótimo que
se misturem as coisas. Na verdade, é necessário que a caixa petista não seja isolada das demais.
Do contrário, se estabelece que o
objetivo das investigações é apenas provar que o PT é igual aos
outros. Daí em diante, sendo os
petistas iguais aos tucanos e aos
pefelês, considera-se zerada a
questão, como se os grande partidos, sendo todos iguais, tivessem
carta de corso sobre o dinheiro da
Viúva.
O argumento segundo o qual os
petistas se enganam quando pensam que "incriminando outros, se
absolvem" é apenas uma variante bem-educada do velho "bom
cabrito não berra".
A prepotência petista impediu
os companheiros de começar a faxina de suas cavalariças em 2003,
quando Waldomiro Diniz foi
apanhado com a mão na sacola.
Achava-se que o poder era tanto
que tudo era permitido. Hoje, os
tucanos se julgam tão fortes a
ponto de supor que lhes é permitido fazer de conta que nunca bicaram as arcas valerianas.
Aula de atraso e exemplo de avanço
Com o naufrágio da MP do
Bem atolou mais uma vez o programa de financiamento de computadores baratos para o andar de
baixo. (De R$ 1.400 até R$ 2.500
no varejo.)
Esse acidente legislativo mostra
como é difícil planejar e executar
uma providência que, pelo menos
em tese, ajuda quem precisa. Consumiram-se quase três anos em
negociações entre o Congresso, a
Receita Federal, o Planalto, o
BNDES e o baronato da indústria
nacional. Cada um deve ter uma
explicação para justificar a demora. Todos ficam devendo o resultado: computador na loja que é
bom, nada.
Com o propósito de ilustrar o
preço da lengalenga, aqui vai uma
breve história da transformação
da Índia no maior exportador de
software fora do grupo dos países
de maior desenvolvimento. São
cerca de US$ 18 bilhões anuais.
Até 1984 o país não tinha indústria de informática mas, como o
Brasil, tinha um baronato de reserva de mercado. A importação
de um computador levava de seis
a 64 meses. Entre 1976 e 1977 importaram-se 441 máquinas. Nisso
mataram Indira Gandhi, e seu filho Rajiv, um piloto de jatos na
aviação comercial (casado com
uma aeromoça italiana), assumiu
o governo.
Em 20 dias ele simplificou e reduziu as tarifas de importação de
máquinas e programas. Mais tarde, liberou geral para seis pólos de
desenvolvimento. Hoje a IBM está cortando 13 mil empregos na
Europa e nos Estados Unidos e vai
criar 14 mil na Índia. Estima-se
que, entre 2000 e 2015, terão migrado 3 milhões de empregos dos
EUA para a Índia.
Em 1984 achava-se que Rajiv,
assassinado em 1991, era um boboca.
Natasha e o descuidista
Madame Natasha tem
horror ao consumo de recursos não-contabilizados
no uso do idioma. Ela deu
uma de suas bolsas de estudo ao coordenador político
do governo, Jaques Wagner,
pela seguinte pérola: "Havia
no PT uma hegemonia prolongada de um grupo no comando partidário que produziu uma acomodação. Isso resultou em um descuido
dos valores fundamentais
do PT. (...) Também houve
um descuido dos mecanismos de controle. (...) Certamente o nosso PT será mais
cuidadoso em sua ações".
°°° Natasha crê que doutor
Wagner criou o dialeto caixa
dois. Como a expressão
"descuido" é neutra, pois
justifica desde um tropeção
até uma gaveta mal fechada,
Madame ficou com a impressão de que o ministro
promete que, da próxima
vez, o "nosso PT" fará a coisa sem se descuidar. Natasha lembra ao ministro que
no século passado os cariocas chamavam de "descuidista" aos batedores de carteira.
Dívida contabilizada
Se os eleitores concordarem, José Genoino será reconduzido à Câmara na eleição do ano que vem. A direção do PT acha que deve isso
ao desafortunado presidente do triunfalismo dos recursos não-contabilizados.
Cosa Nostra
O Grupo dos Treze fez pelos menos cinco reuniões semi-secretas em Brasília. Depois de terem mandado a
mulher e os assessores sacar
dinheiro que não sabiam de
onde vinha, sem que digam
para onde foi, só conversam
ao vivo. Telefone, nem pensar. Era mais ou menos isso
que fazia John Gotti, o último chefe daquelas famiglias
de Nova York.
O sapo de Rosa
O deputado José Dirceu
já tem razões suficientes para acreditar que Lula prefere
vê-lo cassado. Como no caso
do sapo de Guimarães Rosa,
o presidente não pula por
boniteza, mas por precisão.
Pizza no xadrez
É difícil defender o direito
do Grupo dos 13 de fugir da
perda de direitos políticos
valendo-se do recurso à renúncia ao mandato. Mesmo
assim, o jogo de xadrez tem
uma regra que, se não justifica, pelo menos explica o
ardil do encurralado. Se no
final de uma partida um jogador só pode mexer o rei e,
se apesar de ele não estar em
xeque, qualquer movimento
que venha a fazer leva-o à
morte, o jogo empata. O impasse beneficia o perseguido
e alguns grandes finais de
partidas deram-se com o jogador derrotado conseguindo esse tipo de resultado.
Culpa dos outros
Responda rápido: se os
fazendeiros brasileiros, nas
palavras de Lula, "agem
com irresponsabilidade" e
são os principais culpados
pelo surto de febre aftosa,
qual motivo deve levar um
importador europeu ou
americano a comprar carne
dessa gente?
Ventania
Lula disputa a reeleição
na certa, caso o PSDB venha
com Geraldo Alckmin. Geraldo Alckmin quer disputar a Presidência, mas não
morrerá se tiver que ficar até
o último dia no governo de
São Paulo.
Petistas que conversam
com tucanos admitem a hipótese de Marta Suplicy sair
candidata a deputada federal. Nada disso é previsão.
São apenas indicações do
rumo dos ventos soprados
de um lado e do outro.
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