São Paulo, terça-feira, 16 de outubro de 2007

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JANIO DE FREITAS

O dito não dito


Quem mais chama atenção no centro do lulismo é Jobim, com o seu exibicionismo típico de caçador de votos distraídos

SE VOCÊ É DOS que ainda acham cabível acreditar-se em afirmação política feita por Lula, ao menos no caso de sua declarada disposição de apoiar Aécio Neves para a Presidência, desde que o governador de Minas mude-se do PSDB para o PMDB, vários fatores recomendam credulidade bastante moderada.
As circunstâncias impõem enumeração também moderada desses fatores, para evitar que fatos, por ora forçosamente pouco explicitáveis, sejam confundidos com especulação. Mas você já estranhou, há meses, que ainda no primeiro ano do atual mandato, e logo no início, fosse o próprio presidente a lançar (no mercado, recomenda dizer o jornalismo brasileiro) o tema da eleição presidencial de 2010. Não precisaria falar mais nada a respeito, para deixar clara a prioridade que o tema tem no lado verdadeiro, não no das bravatas e outros hábitos, de sua cabeça. Lula, no entanto, tem insistido no assunto a ponto de forçar oportunidades, como se impossível contê-lo ou por propósito definido. Todos os presidentes lamentam que, já ao abrir-se o seu último ano, a eleição presidencial se imponha contra as conveniências administrativas -Lula inverteu a lamúria e o tempo.
Aécio Neves, José Serra, Dilma Rousseff são, sem dúvida, referências corretas quando o assunto é a eleição presidencial. Mas, nessa matéria, quem mais chama atenção no centro do lulismo e em lideranças políticas expressivas não são aqueles três. É Nelson Jobim, com o seu exibicionismo típico de caçador de votos distraídos, um dia bombeiro, outro de militar na Amazônia, de repente em navio da Armada, e a grande autoridade a despachar uns para a rua e apontar os presenteados com os vagas abertas, e a fartura de ordens absolutas que podem perder-se, mas que ressoem na hora conveniente.
O Nelson Jobim que antecipou a aposentadoria no Supremo Tribunal Federal no limite legal exato para uma candidatura, quando, no ano passado, Lula não afirmara ainda a recandidatura. O Nelson Jobim que, sem entusiasmar o comando do PMDB, levou Lula a demorar na indicação do seu vice, até fazê-lo com José Alencar. O Nelson Jobim que, segundo a voz corrente e muitas evidências factuais, ficou ressentido com Lula e dele se manteve distante, o que contribuiu decisivamente para ser convidado a assumir o Ministério da Defesa, como apaziguamento. O Nelson Jobim que, visto como pretendente a representante do PMDB no tabuleiro pré-eleitoral, recebeu com a frase de "apoio" a Aécio Neves o recado de que não está nem em cogitações de Lula relativas apenas aos peemedebistas. A ele seria preferível até quem não é do PMDB.
Outras duas observações procedentes que você fez, também úteis agora, são a proposta de mini-constituinte aprovada no congresso do PT pelo grupo lulista; e as referências de Lula à necessidade de mudança no mandato presidencial para ampliá-lo (como você sabe, há várias maneiras de fazê-lo, desde o acréscimo direto, em número discutível de anos, até a passagem por reeleições). Quanto à sua credulidade ou não, fique à vontade.


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