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JANIO DE FREITAS
O dito não dito
Quem mais chama atenção no centro do lulismo é Jobim, com o seu exibicionismo típico de caçador de votos distraídos
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SE VOCÊ É DOS que ainda acham
cabível acreditar-se em afirmação política feita por Lula,
ao menos no caso de sua declarada
disposição de apoiar Aécio Neves
para a Presidência, desde que o governador de Minas mude-se do
PSDB para o PMDB, vários fatores
recomendam credulidade bastante
moderada.
As circunstâncias impõem enumeração também moderada desses
fatores, para evitar que fatos, por ora
forçosamente pouco explicitáveis,
sejam confundidos com especulação. Mas você já estranhou, há meses, que ainda no primeiro ano do
atual mandato, e logo no início, fosse
o próprio presidente a lançar (no
mercado, recomenda dizer o jornalismo brasileiro) o tema da eleição
presidencial de 2010. Não precisaria
falar mais nada a respeito, para deixar clara a prioridade que o tema
tem no lado verdadeiro, não no das
bravatas e outros hábitos, de sua cabeça. Lula, no entanto, tem insistido
no assunto a ponto de forçar oportunidades, como se impossível contê-lo ou por propósito definido. Todos
os presidentes lamentam que, já ao
abrir-se o seu último ano, a eleição
presidencial se imponha contra as
conveniências administrativas
-Lula inverteu a lamúria e o tempo.
Aécio Neves, José Serra, Dilma
Rousseff são, sem dúvida, referências corretas quando o assunto é a
eleição presidencial. Mas, nessa matéria, quem mais chama atenção no
centro do lulismo e em lideranças
políticas expressivas não são aqueles três. É Nelson Jobim, com o seu
exibicionismo típico de caçador de
votos distraídos, um dia bombeiro,
outro de militar na Amazônia, de repente em navio da Armada, e a grande autoridade a despachar uns para
a rua e apontar os presenteados com
os vagas abertas, e a fartura de ordens absolutas que podem perder-se, mas que ressoem na hora conveniente.
O Nelson Jobim que antecipou a
aposentadoria no Supremo Tribunal Federal no limite legal exato para uma candidatura, quando, no ano
passado, Lula não afirmara ainda a
recandidatura. O Nelson Jobim que,
sem entusiasmar o comando do
PMDB, levou Lula a demorar na indicação do seu vice, até fazê-lo com
José Alencar. O Nelson Jobim que,
segundo a voz corrente e muitas evidências factuais, ficou ressentido
com Lula e dele se manteve distante,
o que contribuiu decisivamente para ser convidado a assumir o Ministério da Defesa, como apaziguamento. O Nelson Jobim que, visto como
pretendente a representante do
PMDB no tabuleiro pré-eleitoral,
recebeu com a frase de "apoio" a Aécio Neves o recado de que não está
nem em cogitações de Lula relativas
apenas aos peemedebistas. A ele seria preferível até quem não é do
PMDB.
Outras duas observações procedentes que você fez, também úteis
agora, são a proposta de mini-constituinte aprovada no congresso do
PT pelo grupo lulista; e as referências de Lula à necessidade de mudança no mandato presidencial para
ampliá-lo (como você sabe, há várias
maneiras de fazê-lo, desde o acréscimo direto, em número discutível de
anos, até a passagem por reeleições).
Quanto à sua credulidade ou não, fique à vontade.
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