São Paulo, sexta, 16 de outubro de 1998

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JANIO DE FREITAS
Fatura de esclarecimento

A nota do ministro das Explicações, ou das Comunicações, sobre o pagamento de sua estada em Madri, "para explicações aos investidores" sobre a crise brasileira, tranquiliza pela reafirmação de que o próprio Luiz Carlos Mendonça de Barros pagou suas despesas, mas inquieta por alguns pormenores que não apóiam a reafirmação.
A cópia apresentada como reprodução da fatura do hotel, por exemplo, registra uma despesa de telefone que, a considerar-se recente entrevista explicativa do ministro, deve ter sido uma cobrança exorbitante do hotel. O mais luxuoso hotel de Madri querendo faturar um telefonemazinho inexistente.
Mendonça de Barros há quatro dias: "A Folha disse que nos extras há um telefonema e eu não dei telefonema nenhum". Mas, como afirma que pagou a conta, pagou um telefonema nela incluído com o destaque de segunda das três despesas pessoais.
Endinheirados e convidados muito especiais da Telefónica de España, cuidado com o Palace Hotel. Não endinheirados nem convidados, cuidado com as contradições muito encontráveis por aí.
A fatura e o ministro têm uma peculiaridade em comum. A fatura não tem carimbo, registro de caixa ou assinatura, nada, enfim, que autentique o recebimento. Mesmo quando paga com cartão de crédito, a fatura paga recebe um indicador de quitação. Não, porém, a do ministro que aprecia as coisas bem explicadas, mas não cobrou a indicação que daria à fatura o valor de documento.
A rigor, a fatura tem outra peculiaridade: não se apresenta no que se esperaria de um papel de fatura em qualquer hotel do mundo, quanto mais no Palace. É um papel de correspondência do hotel, com inscrições que podem ser de computador ou máquina de escrever. Até mesmo da palavra "factura" encimando o número 277412.
Esse papel de correspondência/"fatura" é mesmo rico em curiosidades. O ministro por certo preencheu a ficha obrigatória de hospedagem, na qual escreveu seu nome. Além disso, pelo que consta do papel, entregou à contabilidade do hotel o cartão de crédito, que, presume-se, traz o seu nome. A "factura", no entanto, está dirigida ao Sr. Luis Carlos de Mendoza.
Que descuido do hotel, nem para copiar direito o nome do hóspede, como faria qualquer outro hotel. O funcionário de gordas gorjetas agiu com descuido imperdoável, escrevendo à maneira de um espanhol a quem dissessem um nome português e brasileiro, para destinar a "factura", sem o alertar para a diferença em relação à sua língua.
Assim tranquilizou-nos o ministro de Mendoza.



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