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JANIO DE FREITAS
Fatura de esclarecimento
A nota do ministro das Explicações, ou das Comunicações,
sobre o pagamento de sua estada em Madri, "para explicações aos investidores" sobre a
crise brasileira, tranquiliza pela reafirmação de que o próprio Luiz Carlos Mendonça de
Barros pagou suas despesas,
mas inquieta por alguns pormenores que não apóiam a
reafirmação.
A cópia apresentada como
reprodução da fatura do hotel,
por exemplo, registra uma despesa de telefone que, a considerar-se recente entrevista explicativa do ministro, deve ter sido uma cobrança exorbitante
do hotel. O mais luxuoso hotel
de Madri querendo faturar um
telefonemazinho inexistente.
Mendonça de Barros há quatro dias: "A Folha disse que
nos extras há um telefonema e
eu não dei telefonema nenhum". Mas, como afirma que
pagou a conta, pagou um telefonema nela incluído com o
destaque de segunda das três
despesas pessoais.
Endinheirados e convidados
muito especiais da Telefónica
de España, cuidado com o Palace Hotel. Não endinheirados
nem convidados, cuidado com
as contradições muito encontráveis por aí.
A fatura e o ministro têm
uma peculiaridade em comum.
A fatura não tem carimbo, registro de caixa ou assinatura,
nada, enfim, que autentique o
recebimento. Mesmo quando
paga com cartão de crédito, a
fatura paga recebe um indicador de quitação. Não, porém, a
do ministro que aprecia as coisas bem explicadas, mas não
cobrou a indicação que daria à
fatura o valor de documento.
A rigor, a fatura tem outra
peculiaridade: não se apresenta no que se esperaria de um
papel de fatura em qualquer
hotel do mundo, quanto mais
no Palace. É um papel de correspondência do hotel, com
inscrições que podem ser de
computador ou máquina de escrever. Até mesmo da palavra
"factura" encimando o número 277412.
Esse papel de correspondência/"fatura" é mesmo rico em
curiosidades. O ministro por
certo preencheu a ficha obrigatória de hospedagem, na qual
escreveu seu nome. Além disso,
pelo que consta do papel, entregou à contabilidade do hotel
o cartão de crédito, que, presume-se, traz o seu nome. A "factura", no entanto, está dirigida
ao Sr. Luis Carlos de Mendoza.
Que descuido do hotel, nem
para copiar direito o nome do
hóspede, como faria qualquer
outro hotel. O funcionário de
gordas gorjetas agiu com descuido imperdoável, escrevendo
à maneira de um espanhol a
quem dissessem um nome português e brasileiro, para destinar a "factura", sem o alertar
para a diferença em relação à
sua língua.
Assim tranquilizou-nos o ministro de Mendoza.
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