São Paulo, sexta, 16 de outubro de 1998

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VIAGEM OFICIAL
Ministro das Comunicações apresenta documentos sobre sua viagem a Madri e diz que pagou estada
Após sete dias, Mendonça divulga fatura

da Sucursal de Brasília

Uma semana depois da revelação de que a Telefónica de Espanha pagou por sua hospedagem em Madri, o ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) divulgou ontem documentos para tentar demonstrar que as despesas foram pagas por ele.
Conforme reportagem publicada pela Folha na última sexta-feira, Mendonça ficou hospedado no Palace Hotel.
A diária foi faturada contra a agência de viagens El Corte Inglés, contratada pela Telefónica de Espanha, multinacional que comprou a empresa de telefonia fixa da Telesp e a Tele Sudeste Celular no leilão de privatização do Sistema Telebrás.
Entre os documentos apresentados pelo ministro está uma fatura do Palace Hotel do último dia 8, no total de 31.663 pesetas (ou US$ 231,05). A fatura, em nome do ministro, indica que a conta foi paga com cartão de crédito.
O valor inclui diária da suíte 136 (27 mil pesetas ou US$ 197,01), gastos com telefone e frigobar (2.592 pesetas ou US$ 18,92) e impostos (2.071 pesetas ou US$ 15,12). No último sábado, procurado pela Folha em Paris, o ministro dissera ter pago uma conta de 22.700 pesetas.
Na mesma entrevista em Paris, afirmara não ter feito nenhum telefonema -a fatura apresentada ontem mostra um gasto de 1.192 pesetas com ligações.
O preço normal do quarto em que Mendonça se hospedou é US$ 1.126 (veja tabela de preços do hotel em anexo). De acordo com a reportagem da Folha, a fatura referente à estada de Mendonça de Barros no Palace Hotel totalizou US$ 520, já com desconto. Ainda conforme a reportagem, o ministro pagou apenas os gastos extras (que somaram cerca de US$ 200, valor compatível com o que o diz ter pago).
Essas informações foram confirmadas, em diálogo gravado, na recepção do Palace, na quinta-feira da semana passada, após o ministro deixar o hotel. Depois, a reportagem apurou junto a funcionários da agência de viagens e da multinacional espanhola que a Telefónica havia feito o pagamento da diária (leia trechos das gravações abaixo).
Entre os documentos divulgados ontem por Mendonça, há uma carta do Palace Hotel à agência de viagens El Corte Inglés (que atende a multinacional espanhola) informando que ele pagou toda a fatura com cartão de crédito.
Além disso, foi divulgada uma carta da Telefónica endereçada ao ministro, que traz em anexo comunicação interna da empresa. Os documentos reiteram que as despesas foram pagas por Mendonça (leia as íntegras abaixo).
No comunicado interno, a Telefónica faz questão de anotar que, além do quarto do ministro, equipado com sala de reuniões, a empresa reservou, em seu próprio nome, uma outra sala para eventuais encontros com dirigentes da empresa.
O ministro em nenhum momento fez reunião no hotel, segundo declarou em Paris e em São Paulo. A Folha somente o viu se reunir com empresários no prédio-sede da Telefónica, na Gran Via (região central da capital espanhola).
Por ser um cliente tradicional da agência e do hotel, a Telefónica de España diz ter obtido um desconto sobre a diária do Palace.
Como a diária da suíte que ocupou era de US$ 1.126 (sem café da manhã, impostos e serviços) e a fatura divulgada ontem indica o pagamento de U$ 197,01, o desconto obtido teria sido de aproximadamente 82%.
Mendonça também divulgou uma nota oficial esclarecendo que havia sido autorizado por FHC a viajar para Roma, Paris, Minneapolis e Nova York.
Porém, Mendonça de Barros foi convidado pela operadora a comparecer em Madri para fazer uma exposição da situação econômica brasileira, aceitou e incluiu a cidade no seu roteiro.
O orçamento para a viagem somava R$ 4.704,48, fora passagens.
O vice-líder do PPS na Câmara, Colbert Martins (BA), apresenta hoje à Comissão de Fiscalização e Controle um pedido de convocação do ministro sobre o caso.



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