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CÚPULA IBERO-AMERICANA
Encontro reúne 21 chefes de Estado e de governo
FHC quer politizar debate sobre
a crise financeira internacional
CLÓVIS ROSSI
enviado especial ao Porto
O presidente Fernando Henrique Cardoso deverá aproveitar a
8ª Cúpula Ibero-Americana, que
começa amanhã com 21 chefes de
Estado e de governo, para discutir
com outros líderes mundiais a politização do debate sobre a crise financeira internacional.
Faz tempo que FHC acha que "a
economia se internacionalizou,
mas o poder político, não".
A crise forneceu crescentes evidências de que o argumento faz
todo o sentido, tanto que passou a
ser citado por outros governantes
e até pelo diretor-gerente do FMI
(Fundo Monetário Internacional),
Michel Camdessus.
"As decisões têm que ser tomadas com representantes dos governos mais do que com os tecnocratas", chegou a dizer Camdessus
anteontem, em entrevista.
É uma alusão ao fato de que as
decisões do FMI são tomadas por
um grupo de acadêmicos, em geral com pós-graduação nos mais
reluzentes templos universitários
do planeta, sem o tempero político
que os representantes dos governos poderiam proporcionar.
Um dos interlocutores de FHC
na Cúpula, o primeiro-ministro
português António Guterres, concorda plenamente. Considera urgente "uma reforma das instituições de Bretton Woods, no sentido de lhes conferir mais eficaz direção política e de as dotar de novas regras de intervenção que doseiem a sua tradicional ortodoxia
financeira a favor do respeito pela
coesão social dos países em que
são chamadas a intervir".
FHC também vem defendendo a
reforma das instituições de Bretton Woods, cidade dos EUA onde,
pouco antes do fim da 2ª Guerra
Mundial (1939/45), estabeleceu-se
a arquitetura do sistema financeiro internacional.
Outro dos participantes da Cúpula, o presidente uruguaio, Julio
María Sanguinetti, também acha
que "a crise obriga a buscar respostas políticas".
Sanguinetti vai além: defende
um "novo mecanismo com autoridade capaz de regular o fluxo de
capitais financeiros". Para o presidente uruguaio, "a velocidade
dos fluxos financeiros e, sobretudo, a sua extraordinária quantidade produziram uma economia internacional desajustada em relação ao mundo real".
Sanguinetti está tocando no nó
da questão: a necessidade ou não
de impor controles sobre o movimento de capitais que cruzam
fronteiras em quantidades ciclópicas (US$ 1,2 trilhão a cada dia).
Os governos do Japão e da França têm defendido a imposição de
controles, uma tese recomendada,
como solução de emergência, pelo
mais badalado economista do momento, o norte-americano Paul
Krugman, do MIT (Instituto de
Tecnologia de Massachusetts).
O governo da Malásia seguiu os
conselhos de Krugman e fechou o
país aos capitais externos. O governo brasileiro, ao contrário, em
comunicado com o FMI, comprometeu-se a não impor restrições.
Camdessus, ao falar à mídia espanhola, ficou em algum ponto da
metade do caminho. "Estamos
dispostos a contemplar medidas
de controle de câmbio e sobre a
liberalização (de capitais), mas devem se adaptar a cada país e a cada
situação. Esta crise evidenciou que
não há que frear a liberalização de
capitais, mas ordená-la", disse.
Embora não esteja claro que tipo de ordenamento se quer impor
ao movimento de capitais, o fato é
que a crise politizou definitivamente a questão, como quer FHC.
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