São Paulo, sexta, 16 de outubro de 1998

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CÚPULA IBERO-AMERICANA
Encontro reúne 21 chefes de Estado e de governo
FHC quer politizar debate sobre a crise financeira internacional

CLÓVIS ROSSI
enviado especial ao Porto

O presidente Fernando Henrique Cardoso deverá aproveitar a 8ª Cúpula Ibero-Americana, que começa amanhã com 21 chefes de Estado e de governo, para discutir com outros líderes mundiais a politização do debate sobre a crise financeira internacional.
Faz tempo que FHC acha que "a economia se internacionalizou, mas o poder político, não".
A crise forneceu crescentes evidências de que o argumento faz todo o sentido, tanto que passou a ser citado por outros governantes e até pelo diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Michel Camdessus.
"As decisões têm que ser tomadas com representantes dos governos mais do que com os tecnocratas", chegou a dizer Camdessus anteontem, em entrevista.
É uma alusão ao fato de que as decisões do FMI são tomadas por um grupo de acadêmicos, em geral com pós-graduação nos mais reluzentes templos universitários do planeta, sem o tempero político que os representantes dos governos poderiam proporcionar.
Um dos interlocutores de FHC na Cúpula, o primeiro-ministro português António Guterres, concorda plenamente. Considera urgente "uma reforma das instituições de Bretton Woods, no sentido de lhes conferir mais eficaz direção política e de as dotar de novas regras de intervenção que doseiem a sua tradicional ortodoxia financeira a favor do respeito pela coesão social dos países em que são chamadas a intervir".
FHC também vem defendendo a reforma das instituições de Bretton Woods, cidade dos EUA onde, pouco antes do fim da 2ª Guerra Mundial (1939/45), estabeleceu-se a arquitetura do sistema financeiro internacional.
Outro dos participantes da Cúpula, o presidente uruguaio, Julio María Sanguinetti, também acha que "a crise obriga a buscar respostas políticas".
Sanguinetti vai além: defende um "novo mecanismo com autoridade capaz de regular o fluxo de capitais financeiros". Para o presidente uruguaio, "a velocidade dos fluxos financeiros e, sobretudo, a sua extraordinária quantidade produziram uma economia internacional desajustada em relação ao mundo real".
Sanguinetti está tocando no nó da questão: a necessidade ou não de impor controles sobre o movimento de capitais que cruzam fronteiras em quantidades ciclópicas (US$ 1,2 trilhão a cada dia).
Os governos do Japão e da França têm defendido a imposição de controles, uma tese recomendada, como solução de emergência, pelo mais badalado economista do momento, o norte-americano Paul Krugman, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
O governo da Malásia seguiu os conselhos de Krugman e fechou o país aos capitais externos. O governo brasileiro, ao contrário, em comunicado com o FMI, comprometeu-se a não impor restrições.
Camdessus, ao falar à mídia espanhola, ficou em algum ponto da metade do caminho. "Estamos dispostos a contemplar medidas de controle de câmbio e sobre a liberalização (de capitais), mas devem se adaptar a cada país e a cada situação. Esta crise evidenciou que não há que frear a liberalização de capitais, mas ordená-la", disse.
Embora não esteja claro que tipo de ordenamento se quer impor ao movimento de capitais, o fato é que a crise politizou definitivamente a questão, como quer FHC.


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