São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2000

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CASO TRT
Para procuradoras, firmas de fachada "lavaram" dinheiro do fórum
Contas de Estevão nos EUA movimentaram US$ 19 mi

Beto Barata - 11.nov.2000/Folha Imagem
Luiz Estevão, apontado por procuradores como um dos principais envolvidos no caso do TRT-SP


MALU GASPAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As três contas que o ex-senador Luiz Estevão abriu no Delta Bank de Miami, sob os nomes de Leo Green e James Tower, movimentaram (entrada e saída de dinheiro) cerca de US$ 19 milhões enquanto estiveram ativas. Elas foram abertas em 1992. Em 1996, as contas já estavam inativas.
Do valor total de US$ 19 milhões, US$ 13 milhões foram movimentados nas duas contas em nome de Leo Green. Anteontem, a força-tarefa montada pelo governo federal para tentar reaver o dinheiro revelou três remessas, que juntas somavam US$ 1 milhão, feitas diretamente das contas do ex-senador no Delta Bank de Miami para contas do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto na Suíça.
Os documentos obtidos também revelaram o esquema pelo qual as contas de Luiz Estevão receberam US$ 3 milhões do dinheiro desviado da obra do fórum trabalhista do TRT de São Paulo.
O dinheiro veio da Contrec, empresa montada por Fábio Monteiro de Barros que simulava ser importadora de livros, para a Manaus Trading Corporation, empresa montada em Miami, para a conta de Estevão. As procuradoras ainda investigam quem é o verdadeiro dono da empresa, mas dizem ter indícios de que ele seria Fábio Monteiro de Barros.
No registro da Divisão de Corporações da Flórida, a Manaus Trading Corporation está inativa desde agosto de 1994. Ela foi fundada em 1992. O fechamento coincide com os últimos repasses para a conta de Nicolau na Suíça. Foi na mesma época que os técnicos do Tribunal de Contas da União apontaram as primeiras irregularidades na obra do TRT.
Operações como a da Manaus Trading estão nas mais de mil páginas de documentos enviados ao Brasil pelo Departamento de Justiça dos EUA no início da semana.
Os documentos contêm a movimentação bancária diária das contas de Leo Green e James Tower e os nomes-fantasia escolhidos pelo ex-senador Luiz Estevão para suas contas no Delta Bank de Miami e são parte da resposta que o governo espera sobre os depósitos realizados entre 1991 e 1994 na conta Nissan (iniciais de Nicolau dos Santos Neto), mantida pelo ex-juiz no banco Santander de Genebra, na Suíça.
Outras oito contas que fizeram depósitos em nome do ex-juiz ainda devem ser identificadas. O MP suspeita que todas fossem controladas por Nicolau, Monteiro de Barros ou Luiz Estevão e servissem apenas para disfarçar o destino final do dinheiro que saiu do Tesouro Nacional por meio de ordens bancárias que estão sendo rastreadas pela força-tarefa.
Segundo o Ministério Público, os extratos que chegaram esta semana contêm várias empresas fazendo repasses para as contas em nome de Leo Green e James Tower. O próximo passo é tentar identificar que empresas são essas e descobrir se elas são de fachada.
O Ministério Público avalia já ter fortes indícios de um esquema para tornar legal ("lavar") os R$ 169,5 milhões desviados da obra do Tribunal Regional do Trabalho paulista. O esquema utilizaria uma rede de contas bancárias no exterior e empresas de fachada controladas por Estevão, Monteiro de Barros e o ex-juiz Nicolau.
O mecanismo apurado pelas procuradoras é típico da "lavagem" de dinheiro: o dinheiro sai de contas no Brasil e vai para empresas de fachada que supostamente prestaram serviços ou venderam mercadorias para os depositantes brasileiros. Dali, vai para contas numeradas no exterior.


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