São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONTAS DA REELEIÇÃO
Doações do anexo renderiam R$ 9,5 milhões à campanha, mas não há provas de que foram feitas
Anexo de planilha lista mais 25 doadores

WLADIMIR GRAMACHO
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Anexo da planilha secreta que revelou um caixa-dois na reeleição de FHC informa os nomes de 25 empresas e pessoas que prometeram doar mais R$ 9,5 milhões à contabilidade paralela na reta final da campanha.
Esse valor ingressaria no caixa-dois após o dia 30 de setembro de 1998, data da última atualização do documento com a contabilidade do comitê financeiro da reeleição. Conforme revelou a Folha, pelo menos R$ 10,120 milhões já haviam ingressado na contabilidade paralela até aquela data.
Não é possível, com base nos documentos, saber se as empresas e pessoas realmente fizeram a doação. A planilha "Prev.", anexa à mais completa contabilidade da campanha, relaciona o nome de empresas, pessoas e setores que teriam prometido doações.
Entre os comprometidos estão três entidades de classe: Abifarma (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica), com R$ 1 milhão; Abras (Associação Brasileira de Supermercados), com R$ 500 mil; e Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo), com R$ 300 mil. A Lei Eleitoral proíbe doações de entidades de classe.
A maior promessa de doação é atribuída a Víctor Costa: R$ 1,5 milhão. O documento não esclarece se a contribuição seria de uma pessoa física com esse nome ou das Organizações Víctor Costa, donas da antiga TV Paulista.
Outra empresa com doação expressiva é a MPE (Montagem e Projetos Especiais), que participa do controle de trechos privatizados da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S/A), com R$ 500 mil.
Há, nessa mesma lista, anotações pouco específicas, como "Publicidade", "Transp. Pes. RJ", "Rio G. Sul", "Ônibus", "Estrangeiros" e "Thoms+B37on", que só poderiam ser esclarecidas pelo autor do documento.
Segundo os registros eletrônicos, o autor desse anexo é Sérgio L. G. Pereira, assim como das demais planilhas incluídas nesse arquivo. Ele é irmão do ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, tesoureiro das campanhas de FHC em 1994 e 1998.
Procurado pela Folha, Bresser não foi localizado ontem em sua casa. Sérgio Pereira já havia afirmado ao jornal que só criou as planilhas, não tendo sido responsável pela inclusão de dados.
Outro anexo da planilha secreta traz resumo dos recursos recebidos e gastos pela campanha até o dia 30 de setembro. Teriam ingressado R$ 36 milhões pelo oficial (tratado como "ofic" no documento) e R$ 21 milhões pelo caixa-dois (chamado de "out" -fora, em inglês). A cifra de R$ 9,5 milhões a ser arrecadada no caixa-dois da reeleição também é citada em outra tabela que resumiu a contabilidade da campanha até o dia 30 de setembro.
A tabela, que está nos arquivos obtidos pelo Ministério Público, informa que R$ 13,7 milhões foram recebidos pelo caixa-dois até aquela data. O valor indica que, além dos R$ 10,120 milhões em doações sem registro, os outros R$ 4,726 milhões registrados com valores superiores àqueles enviados à Justiça Eleitoral também foram para o caixa-dois.
Somando contribuições oficiais e arrecadações paralelas, a campanha presidencial de Fernando Henrique Cardoso, em 1998, custou R$ 75,2 milhões, de acordo com o documento. A mesma tabela informa que, até aquela data, quatro dias antes da eleição, R$ 43,6 milhões haviam sido recebidos no caixa oficial. Cifra quase idêntica aos R$ 43,022 declarados ao TSE pelo comitê financeiro de FHC.


Texto Anterior: Janio de Freitas: Um assunto simples
Próximo Texto: Segundo Temer, reforma política ocorre em 2001
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.